Nightmare: Além da Floresta
Capítulo 8: Todos nós devemos saber nossos limites
Akira observava o círculo queimado na terra com um olhar que Jonny não conseguia decifrar. Não era exatamente medo, mas havia algo ali – um reconhecimento, talvez, como se ele soubesse o que significava, mas decidisse guardar essa informação para si.
Jonny deu um passo à frente, sentindo o coração acelerar. Cada fibra do seu corpo gritava para que ele se afastasse, mas, ao mesmo tempo, havia uma estranha curiosidade que o impulsionava a continuar.
“Não,” disse Akira, sua voz firme, mas baixa. Ele colocou a mão no ombro de Jonny, impedindo-o de se aproximar mais.
“O quê?” perguntou Jonny, olhando para ele confuso.
“Não vamos mais fundo.”
Jonny franziu o cenho. “Você tá com medo?”
Akira riu, mas sem humor. “Medo? Não. Eu só sei quando parar. E você também devia aprender.”
Jonny puxou o ombro para longe da mão dele. “Se você não tem medo, então por que quer ir embora? Porque eu... eu preciso saber o que tá acontecendo aqui.”
“E é exatamente por isso que você não deveria continuar,” disse Akira, o tom mais sério do que Jonny jamais ouvira. “Eu sei como é esse tipo de curiosidade, Jonny. Você acha que descobrir o que está aqui vai te dar respostas, mas não vai. Vai te deixar com mais perguntas. Pior: pode te dar problemas que você não tá preparado pra enfrentar.”
Jonny hesitou, olhando novamente para o círculo. “Você fala como se já soubesse o que tá acontecendo.”
Akira cruzou os braços e desviou o olhar, fitando as árvores como se esperasse que algo surgisse delas. “Eu sei o suficiente pra dizer que vocês – nós – não estamos prontos. Nem física, nem emocionalmente. Não importa o que você acha que vai encontrar aqui, Jonny, a coisa já tá te afetando. E isso é perigoso.”
Jonny bufou, tentando mascarar sua confusão com irritação. “Então o que você sugere? Que a gente simplesmente ignore isso? Fingir que tá tudo bem enquanto... enquanto essas coisas continuam acontecendo?”
“Exatamente.” Akira virou-se para ele, os olhos intensos. “Deixar quieto. Não cutucar o que não entende. Pelo menos por enquanto.”
“Você não entende,” começou Jonny, mas Akira o interrompeu.
“Entendo mais do que você pensa.”
O silêncio caiu entre eles, pesado e desconfortável. Jonny olhou novamente para o círculo queimado, sentindo um misto de frustração e impotência. Tudo dentro dele queria respostas, mas havia algo na postura de Akira que o fazia pensar duas vezes.
“Se insistir,” continuou Akira, “eu vou com você. Não vou deixar você entrar sozinho. Mas, sinceramente, meu conselho? A gente sai daqui agora e volta só quando tiver certeza de que pode lidar com o que quer que seja isso.”
Jonny abriu a boca para responder, mas a voz morreu na garganta. Ele sabia que Akira tinha razão, por mais que odiasse admitir.
“Tá,” disse ele finalmente, com um suspiro derrotado. “Mas isso não significa que eu vou esquecer.”
Akira sorriu de canto, o mesmo sorriso enigmático de sempre. “Ninguém tá pedindo pra você esquecer. Só pra você ser esperto.”
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A caminhada de volta para casa foi silenciosa. Jonny se sentia inquieto, como se tivesse perdido algo importante. As árvores pareciam maiores agora, mais opressivas, e o vento que passava por elas parecia murmurar coisas que ele não podia entender.
Quando chegaram à entrada da floresta, Akira parou. “A partir daqui, você tá seguro.”
Jonny olhou para ele, confuso. “Você fala como se soubesse de alguma coisa que eu não sei.”
“Talvez eu saiba,” respondeu Akira, com um tom leve, mas seus olhos estavam sérios. “Ou talvez eu só tenha um bom senso de perigo.”
Jonny suspirou e começou a caminhar em direção à sua casa. Ele parou após alguns passos e olhou para trás. Akira ainda estava parado ali, olhando para a floresta como se ela fosse um inimigo antigo.
“Ei,” chamou Jonny. “Obrigado. Por, você sabe, me impedir de fazer algo estúpido.”
Akira sorriu. “Não foi nada. E, Jonny... não vá sozinho pra lá. Nunca.”
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Jonny assentiu, mas a frase ficou ecoando em sua mente como um alerta que ele não conseguia ignorar. Ele deu as costas e começou a caminhar para casa, deixando Akira parado na entrada da floresta, olhando fixamente para as árvores como se elas escondessem um segredo que ele não queria compartilhar.
Quando Jonny virou a esquina da rua, desaparecendo de vista, Akira soltou um suspiro e, finalmente, se afastou da entrada. O silêncio voltou à floresta, mas era um silêncio inquieto, como se algo estivesse se movendo apenas fora do alcance da visão.
Do meio das sombras entre os pinheiros, um brilho surgiu.
Primeiro um par de olhos brilhantes, de um azul vívido, como pequenos faróis no escuro. Depois outro. E outro. Logo, dezenas de pares de olhos se revelaram, flutuando no vazio entre os troncos das árvores. Eles não piscavam, apenas observavam.
De repente, como se tivessem ouvido um comando silencioso, começaram a se mover.
Os olhos não corriam em direções aleatórias; havia um propósito em seus movimentos. Fluíam em perfeita sincronia, desaparecendo nas sombras mais profundas da floresta, como um rio de escuridão iluminado por aquelas bolinhas azuis.
O vento mudou de direção, trazendo um som quase imperceptível, um sussurro baixo e arrastado, como um coro de vozes que Jonny, felizmente, já não estava perto para ouvir.
A floresta estava viva, e agora, parecia que ela estava observando.
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Naquela noite, Jonny tentou dormir, mas o sono não vinha. Ele não conseguia tirar da cabeça o círculo queimado, as palavras de Akira, os gritos. Pegou o celular e mandou uma mensagem para Jim:
“Você acha que a gente devia voltar pra floresta? Descobrir o que tá acontecendo de verdade?”
A resposta demorou mais do que ele esperava. Quando veio, era simples, mas pesada:
“Eu não sei, Jonny. Às vezes, o melhor é não saber.”
Jonny suspirou e jogou o celular ao lado. Ele sabia que não seria capaz de simplesmente deixar quieto, não com as perguntas que agora o assombravam.
Mas, por enquanto, ele tentaria.
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Nightmare Além da Floresta
HorrorNightmare: Além da Floresta Em uma pacata cidade cercada por uma floresta de pinheiros, Central City esconde segredos que ninguém ousa revelar. Jonny Walker, um jovem de 17 anos, vive atormentado por gritos vindos da floresta, mas sua vida muda quan...