Quando o Silêncio Grita

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Nightmare: Além da Floresta

Capítulo 16: Quando o Silêncio Grita

A tempestade continuava rugindo do lado de fora, mas dentro da casa, o silêncio era como uma corda tensa prestes a estourar. Akira estava imóvel junto à porta do porão, o rosto mascarado por uma calma que Jonny começava a entender ser apenas uma fachada.

Jim ainda estava no sofá, com os braços ao redor dos joelhos, o olhar perdido no chão como se estivesse tentando apagar a lembrança daquelas duas luzes azuis, penetrantes como lâminas.

Jonny parou de andar e olhou para Akira. "Você sabe o que era aquilo, não sabe?"

Akira demorou a responder. Seus olhos estavam fixos na porta trancada, e quando ele finalmente falou, sua voz era baixa, quase um sussurro. "Não importa o que eu sei. O que importa é o que você vai fazer com o que viu."

"Como assim?" Jonny perguntou, cruzando os braços.

"Se você ficar pensando naquilo, tentando entender ou procurar respostas, vai abrir portas que não podem ser fechadas," respondeu Akira, finalmente se virando para encará-lo. "Algumas coisas só existem porque as alimentamos. E, Jonny... você não quer alimentar isso."

O silêncio voltou, quebrado apenas pelo som da chuva batendo nas janelas. Jim ergueu a cabeça e olhou para Akira, os olhos brilhando com uma mistura de medo e curiosidade. "Mas por que agora? Por que tudo isso começou depois daquela noite na floresta?"

Akira hesitou, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. "Às vezes, a floresta chama. E às vezes, nós respondemos sem perceber."

Jonny sentiu um calafrio percorrer a espinha. Ele pensou nos gritos que ouvia há anos, nos sonhos perturbadores e nas sombras que pareciam se mover à noite. Talvez ele já tivesse respondido à floresta muito antes de colocar os pés lá dentro.

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Horas depois

A tempestade continuava, mas a tensão dentro da casa parecia ter diminuído. Akira e Jim estavam no quarto de Jonny, enquanto ele buscava algo no porão com relutância. A luz do corredor iluminava parcialmente os degraus, mas o resto estava mergulhado em uma escuridão que parecia viva.

"Vai rápido, Jonny," murmurou para si mesmo enquanto descia.

Enquanto ele procurava a caixa de ferramentas, ouviu um som baixo e repetitivo, como se algo estivesse pingando. Levantou a lanterna e viu uma pequena poça no chão.

"É só água da chuva," disse, tentando acalmar a si mesmo.

Mas quando iluminou o teto, não havia nenhum sinal de vazamento.

A poça não era água. Era um líquido escuro, espesso, que parecia pulsar levemente como se tivesse vida própria.

Jonny deu um passo para trás, o coração disparando. O som de algo arrastando-se pelo chão ecoou novamente, dessa vez mais próximo.

"Jonny!" A voz de Akira veio de cima das escadas, firme e urgente. "Suba. Agora."

Jonny não hesitou. Largou tudo e correu, sentindo um frio estranho nas costas, como se algo estivesse o seguindo. Quando chegou ao topo, Akira estava esperando, a expressão grave.

"Eu te disse para não descer," disse ele, trancando a porta com mais força desta vez.

"Eu só precisava da caixa de ferramentas," respondeu Jonny, ofegante.

"Esqueça a caixa," disse Akira. "O que quer que você viu lá embaixo, não leve isso para dentro de você. Não deixe que te persiga."

Jim apareceu no corredor, o rosto preocupado. "O que aconteceu?"

Jonny abriu a boca para responder, mas Akira o interrompeu. "Nada. Ele só foi imprudente, só isso."

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Mais tarde, naquela noite

Jonny não conseguiu dormir. O som da chuva, que costumava trazer conforto, agora parecia amplificar o silêncio dentro da casa. Ele olhou para o teto do quarto, lembrando-se da poça escura e do frio que sentiu no porão.

As palavras de Akira ecoavam em sua mente: "Não deixe que te persiga."

Levantou-se da cama, sentindo a necessidade de verificar a casa. Quando passou pela porta do quarto, notou algo estranho: o corredor parecia mais longo do que deveria ser, como se as sombras estivessem distorcendo o espaço.

Um som baixo e rítmico começou a ecoar, algo entre uma respiração e um sussurro.

Jonny parou, tentando entender de onde vinha, mas parecia vir de todos os lados.

Então, ele viu.

No final do corredor, onde antes estava apenas a porta do banheiro, agora havia um vulto alto e esguio, parado imóvel. Não tinha rosto, apenas uma forma escura que parecia flutuar levemente.

Jonny tentou recuar, mas seus pés estavam presos ao chão, como se a sombra tivesse enraizado nele.

O vulto começou a se mover, lentamente, avançando pelo corredor com um passo quase hipnótico. Jonny tentou gritar, mas nenhum som saiu.

Quando a sombra estava a poucos metros de distância, ela parou. O silêncio voltou, cortante e opressor.

E então, em uma voz que parecia vir de todos os cantos da casa, ela disse:
"Você respondeu ao chamado."

Jonny acordou de repente, ofegante e coberto de suor. Era um sonho. Apenas um sonho.

Ou, pelo menos, era o que ele tentava acreditar.

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