CAPÍTULO III

14 2 1
                                    


— É tudo minha culpa — lamentava Matheus, repetindo as palavras como um mantra, sua voz carregada de dor e culpa. Ele não estava bem. Desde o último incidente, foi colocado sob vigilância constante e recebia tratamento especial.

Apesar disso, ninguém na Comunidade Éden tinha respostas concretas para o que estava acontecendo. As atitudes de Matheus eram cada vez mais preocupantes, beirando o inexplicável. Desde que começaram os episódios de escaladas e rebeldias, a tranquilidade em Éden havia sido comprometida. Os comportamentos incomuns e agitações começaram a preocupar seriamente os Quatro Guardiões do Éden, que mantinham um olhar atento sobre ele.

— Eu sinto muito, Matheus, mas desta vez não há como ajudá-lo — disse Ana, baixinho, ajoelhada ao lado dele. Sua voz estava impregnada de preocupação e tristeza. Ela suspirava, tentando reunir forças para repetir a mesma decisão que tomava todos os dias desde o incidente. Já haviam se passado duas semanas.

— Eu... eu... — murmurava Matheus, repetindo palavras desconexas, sua voz trêmula. Seus olhos se reviravam, e ele tremia incontrolavelmente. Seu estado alarmante só era controlado pelos sedativos que os médicos lhe administravam regularmente. E, mais uma vez, isso se fazia necessário.

Quando a substância percorreu seu corpo, Matheus cedeu ao efeito, tombando imóvel nos braços daqueles que haviam tentado contê-lo. A cena era de partir o coração.

Do lado de fora da sala, Inácio gritava, seu rosto transbordando frustração e desespero.

— Por que ninguém me diz como ele está? Ele é meu irmão! — berrou, seus punhos cerrados contra o vidro da porta. Atrás dele, Dominik fazia o possível para segurá-lo e evitar que invadisse o recinto.

Foi quando a porta finalmente se abriu. Ana saiu, parecendo tão abatida quanto Inácio. Seu semblante denunciava o peso que carregava, mesmo sem laços de sangue com Matheus. Para Ana, ele era mais que um jovem rebelde em crise; era o "pequeno imortal", como ela costumava chamá-lo. Alguém que ela sempre quis proteger, mas cuja fragilidade agora estava evidente, e ela sentia como se estivesse falhando.

— Ele vai ficar bem? — perguntou Inácio, sua voz oscilando entre raiva e súplica.

Ana desviou o olhar, respirando fundo antes de encará-lo novamente.

— Estamos fazendo tudo o que podemos, Inácio — disse ela, sua voz carregada de sinceridade e cansaço.

Mas a verdade pairava no ar: ninguém sabia o que mais poderia ser feito.

— Ei, como estão as coisas lá com o garoto? — questionou Renan ao avistar Ana e Inácio se aproximarem. Mas, ao notar Dominik junto deles, seu semblante de preocupação rapidamente se transformou em fúria contida.

— Ele vai ficar bem — respondeu Ana de imediato, embora essa não fosse uma verdade absoluta. Era, no entanto, a resposta que ela sabia ser mais eficaz para evitar discussões ou comentários adicionais. — Não é mesmo, Inácio?

Ela o puxou amigavelmente pelo pescoço, esboçando um sorriso forçado enquanto tentava distraí-lo do turbilhão interno causado pela situação com Matheus.

— Eu sinto muito. Não sabemos exatamente o que dizer para ajudá-lo, mas quero que saiba que você não está sozinho — disse Lúcia, sua voz tímida, mas carregada de genuína segurança.

Renan, ao lado dela, a envolveu nos braços, como se suas ações reforçassem as palavras dela.

— Sim, cara, estamos todos aqui por você — reafirmou Renan com um sorriso.

ANOMALIA - ÉDEN (VOL. 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora