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— Ana, Ana — A voz ecoou com precisão, e da porta da ala médica surgiu uma figura pequena ensanguentada. Em seu rosto, estampava-se a agonia, a terrível sensação de quem havia sofrido um acidente grave.
Atrás dela, uma outra figura apareceu: Inácio, um homem de cerca de 30 anos. Imediatamente, ele segurou o ferido e o conduziu para dentro, deitando-o sobre a cama.
— O que aconteceu com você? — Perguntou Ana, já se dirigindo para as luvas. Ela se aproximou do garoto e colocou a mão sobre o grande ferimento. — Matheus, eu já te disse que é perigoso ficar escalando... Como conseguiu sair de lá vivo?
O questionamento de Ana foi firme, uma mistura de preocupação e frustração. Não era a primeira vez que Matheus voltava à ala médica com ferimentos causados pelas suas aventuras. Sempre atrás de algo mais, algo além, mas o que realmente intrigava a comunidade era como ele sempre saía dessas situações com vida. Sua recuperação era surpreendentemente rápida, mais rápida do que o normal. Mas, para todos, ele ainda era apenas um garoto forte. No entanto, Ana sentia algo mais, algo que ela não conseguia explicar totalmente, algo que fazia sua curiosidade e preocupação crescerem.
— Desculpa, tia Ana — Matheus respondeu, com os olhos cheios de lágrimas.
— Não é assim que as coisas funcionam, moleque. Para de chorar e deixa ela te tratar — resmungou Inácio, afastando-se alguns metros, mas permanecendo ali, como sempre, de olho na situação.
Inácio não tolerava rebeldia. Ele era um homem reservado e sempre teve a responsabilidade de cuidar de Matheus, principalmente quando o mais novo aprontava mais do que devia. Era seu trabalho, ficar de olho no irmão caçula.
— Não fale assim com ele, Inácio — Ana corrigiu, começando a limpar os sangramentos de Matheus com algodões. Ela já percebia que os ferimentos se regeneravam mais rápido do que o esperado. O que restava eram apenas hematomas e alguns inchaços. — E por favor, retire-se da minha sala!
Ela olhou para Inácio com um olhar firme e severo, que o fez hesitar. Ele sabia que quando ela ficava assim, o melhor era se retirar.
— Tá, tá — resmungou ele, dando as costas e saindo da sala.
— Novamente isso, Matheus? Eu já disse para parar com essas coisas, uma hora não vai ter como se safar, não dá para viver se achando imortal — Ana disse, voltando sua atenção para o garoto, agora enfaixando os ferimentos com rapidez. Não havia tanta urgência no que fazia, mas ela se esforçava para garantir que ele ficasse bem.
— Mas tia Ana, não tem nenhuma outra criança para brincar comigo — Matheus resmungou, com a mesma expressão de seu irmão mais velho.
— Independente disso, você pode se dedicar a outras coisas. Você não está sozinho — Ana respondeu, retirando o lixo do chão e tirando as luvas. — Subir aquela montanha é perigoso, meu pequeno imortal.
Ela brincou, dando-lhe esse apelido devido à sua condição especial, algo que somente ela sabia. Porém, algo naqueles momentos sempre a fazia entender o sentimento de Matheus. Por isso, ela era paciente com ele, talvez até mais do que deveria. Não podia culpá-lo nem destratá-lo, sabia o que ele sentia.
Mas, ao tocar no rosto de Matheus, uma sensação estranha percorreu sua pele. Pela primeira vez, ela sentiu algo diferente, algo que a deixou inquieta. Matheus estava escondendo algo. Ou talvez tivesse feito algo terrível. Ela se afastou imediatamente, engolindo em seco, sentindo um medo que ela não compreendia.
— Que... O que você andou fazendo dessa vez? — Ela perguntou incrédula, quase sem fôlego. Ela não entendia bem, mas sempre que tocava alguém, uma conexão breve se formava, e ela sentia, de alguma maneira, como a pessoa estava se sentindo. Mas dessa vez... algo estava errado. — É... esqueça, vá para casa. Vai até o Inácio. Conversamos mais tarde.
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ANOMALIA - ÉDEN (VOL. 1)
Narrativa generaleNa pacífica e sustentável Comunidade Éden, a vida é tranquila e próspera. No entanto, uma série de assassinatos misteriosos começa a abalar a segurança e a confiança dos moradores, colocando Éden em perigo. À medida que os eventos sinistros se desen...