Capítulo 3 - Nevidal

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Havia uma movimentação estranha na praça central da aldeia. Não que lá já não fosse bastante movimentado por causa dos comerciantes. Mas aquilo era diferente, era um aglomerado de pessoas num ponto só. Andrei andou cautelosamente por entre as pessoas, seus olhos azuis e fracos procurando por Aleksi no meio da multidão. Era possível que ele estivesse ali. O movimento o empurrou cada vez mais para frente e ele deu de cara com um aviso escrito numa placa.

–O que é isso? – ele perguntou para qualquer um ao seu lado, mas ninguém pareceu ouvi-lo. Continuaram conversando alto entre si, sobre o que estava escrito na placa. As opiniões eram variadas; alguns estavam orgulhosos e otimistas e outros pareciam indignados, falando palavras obscenas que Andrei só tinha ouvido seu pai falar uma vez na vida.

Ele sentiu uma mão forte agarrar seu ombro e começou a suar frio. Mas a sensação de medo foi embora quando ele olhou para cima e viu Aleksi, que sorria para ele.

–Nem pense numa coisa dessas.

–O que? – o rapaz disse, confuso.

–Esse aviso. O rei está convidando os jovens da vila a entrarem no exército para participar da guerra contra os turcos.

O coração de Aleksi foi parar no estômago quando ele viu os olhinhos fracos do seu menino brilharem e o grande sorriso que se formou lentamente nos lábios dele.

–Não, Andrei. Você não tem força. – ele riu baixinho, lembrando-se de quando Andrei foi tentar pegar em uma espada. A espada parecia ter o dobro do tamanho do menino além de ser tão pesada que Andrei mal conseguia segurá-la.

Foia vez do coração de Andrei afundar. "Eu só queria que pelo menoso meu querido não me chamasse de fraco"  ele pensou tristemente, tomando cuidado para que a tristeza não refletisse em seu rosto. Pegou a tristeza e a enfiou no fundo de seu estômago, junto com seu coração e todos os outros sentimentos,apesar de ele não ter o que esconder de Aleksi. Ambos praticamente cresceram juntos, brincando no rio da aldeia, e o mais velho já sabia que Andrei era sensível, e que ele tinha vergonha dessa sensibilidade. Porque, no fundo, ele queria ser forte como ele.

–Eu vou indo, agora. – Andrei disse, enquanto seu coração acelerava. Mesmo assim, conseguiu sorrir. – Eu tenho um monte de coisa para fazer. Até mais, Aleksi.

O loiro desviou do mais forte e conseguiu ouvir uma risadinha. Suas mãos começaram a tremer, ele achou que não aguentaria até chegar à olaria, mas aguentou felizmente. Trancou a porta atrás de si e pegou um grande pedaço de barro, batendo nele com as mãos e amassando-o. Fungou, tentando não deixar nenhuma lágrima cair, apesar de já sentir uma queimação nos olhos. Jogou ruidosamente o pedaço de barro no prato giratório, pisando com força no pedal do acelerador. O barro começou a girar junto com o prato e Andrei ficou parado lá, como se esperasse que o barro se moldasse sozinho. Ele suspirou tristemente e assim que tocou o barro, explodiu em lágrimas.

Suas mãos trabalhavam agressivamente no pedaço de barro. Seria um vaso pequeno e simples, não estava com muita paciência. E as lágrimas fluíam na velocidade em que o barro era moldado.

–Aleksi...– ele sussurrou para si mesmo, entre soluços – Por que justo você me chama de fraco? Sabe, eu não...

Mais soluços, e Andrei desistiu do vaso e suas mãos sujas de argila foram parar em cima de seus joelhos. Ele engoliu a seco diversas vezes, tentando parar de chorar, como se algo de ruim fosse acontecer se ele continuasse a chorar. Por um minuto ele pensou que era melhor tomar um monte de chicotadas do Loginov do que ouvir do seu melhor amigo que ele era fraco. Era verdade, Andrei tinha pulsos finos, pernas compridas, rosto de menina; era delicado. Era alvo digno de zombaria. E sempre tinha que haver alguém lá para defendê-lo, porque suas mãos delicadas só serviam para moldar barro, e não para se defender, muito menos para atacar.

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