Andrei correu para a porta assim que ouviu as batidas. Primeiro, porque os soldados normalmente ficavam bravos quando esperavam e, segundo, porque havia chance de ele ver Aleksi, já que era ele quem normalmente cobrava os impostos naquele dia. Sorriu ao abrir a porta e encontrar o rapaz, que era um pouco mais velho do que ele. Lábios finos e um par de olhos verdes sorriram de volta. Os cabelos escuros caíam-lhe sobre os ombros e emolduravam o rosto quadrado. Um tufo de barba crescia em seu queixo, dando um aspecto másculo que contrastava com o tipo físico delicado do artesão.
–Oi, amor. – Andrei disse alegremente. Aleksi não conseguiu conter um sorrisinho, mas logo voltou com o ar de autoridade no rosto.
–Aqui não, Andrei. – ele o empurrou suavemente, desconfortável. Por mais que ele desejasse o amado, não poderia correr riscos naquela hora. – Você sabe...
O loiro revirou os olhos e tirou uma bolsinha de couro do cinto, despejando as moedas de ouro na mão dele. O nobre sorriu, guardando as moedas em uma bolsa maior que carregava consigo.
–A gente pode se ver em uma outra hora, quando eu acabar isso, ainda hoje. – Aleksi sussurrou no ouvido do amigo, que sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo.
–Bogatiriov...– uma voz forte soou atrás dele, e os jovens se afastaram um do outro. Era um soldado, seu nome era Yerik Loginov, e ele já tinha deixado explícito o seu ódio pelos dois.
Andrei enfiou o desprezo em algum lugar no fundo de seu estômago e acenou com a cabeça, fechando timidamente a porta da casa, sem ao menos se despedir do outro.
–Eu só estava recolhendo os impostos deles.
–Estou de olho em você e nesse Arhipov.
Andrei suspirou, saindo de perto da porta para ir ao seu quarto. Assim que deitou a cabeça no travesseiro (que era nada mais era do que um saco de pano forrado com feno), a mãe o chamou para que ele terminasse de realizar as tarefas, o que consistia basicamente em levar mais argila para a olaria, lugar onde ele fazia os vasos de cerâmica. Os melhores vasos da aldeia, inclusive. Todos conheciam as peças de cerâmica dos Arhipovi.
Assim que começou a andar para fora de casa, com um bloco de barro fresco pendurado nas costas, sentiu uma mão forte apertar seu ombro e se virou, assustado. Mas logo sua expressão assustada foi substituída por um sorriso e seu coração esquentou.
–Eu já ia me esquecendo do quanto você é forte, Aleksi.
Aleksi sorriu, acariciando a bochecha de Andrei com os dedos.
–Você achou que eu não vinha te visitar mais?
–Achei. – Andrei riu baixinho e o moreno o atacou com um beijo. Não conseguia mais esperar, queria o outro para si. O artesão largou o bloco de barro no chão e enrolou seus braços livres no pescoço de Aleksi.
Então, a conhecida e temida voz forte soou novamente.
–Homossexualidade é um crime eu posso puni-los por isso.
Aleksi rapidamente empurrou o amigo, corando de vergonha.
–Perdão, Loginov. – sussurrou, envergonhado.
–E você não devia estar trabalhando?! – Yerik tirou seu chicote do cinto e avançou em Andrei, que recuou, assustado. Ele já havia tomado umas chicotadas do mais forte, e nunca era bom. E nunca era por um bom motivo.
Aleksi segurou a mão do soldado, que o olhou com desprezo. O rapaz sorriu corajosamente, dizendo:
–Ele já ia trabalhar, mas eu o parei. Foi minha culpa, Loginov.
Andrei agarrou o bloco de barro do chão e saiu correndo. O jovem soltou a mão de Yerik, que guardou finalmente o chicote.
–Qual é o seu problema, Bogatiriov? Ele é um artesão. E pagão, bruxo.
Aleksi apenas riu.
–Você e o seu pensamento cristão... Eu não ligo para o fato de ele ser pagão, um monte de gente que eu conheço é.
–E homossexualidade é um pecado, você mesmo sabe. – Yerik se inclinou para mais perto do outro. – Não faça isso. Deixe-o. Ele tem barro nas mãos. Você é um cavaleiro do rei.
Aleksi cerrou os dentes e os punhos, tentando se controlar para não bater em Yerik, que sorriu e tomou seu caminho para um lugar qualquer.
"Eu não ligo para o que Andrei seja, eu apenas o amo." o rapaz respondeu mentalmente, virando-se e andando na direção do bosque "Eu o amei desde o primeiro momento em que o vi."
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Na Terra Crua
AventureEra o tempo dos deuses antigos e da conquista de territórios, da espiritualidade e da guerra. Uma pequena e anônima vila russa é ameaçada de ataque por parte do exército turco. Neste meio, a história de Andrei Arhipov é contada; um jovem artesão, de...