Um encontro ruim

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— Vira! Vira! Você é tão fraco para bebida, Nick! — Kwon gargalhava alto, divertindo-se com as caretas que Nick fazia, completamente embriagado com o soju. À mesa, todos estavam bêbados, exceto eu, David e Vee, que, como o motorista designado da noite, garantiu que nos levaria para casa. O clima entre nós era descontraído, como se o dia inteiro trocando farpas nunca tivesse existido. Talvez o álcool tivesse ajudado a derrubar barreiras. Até Elise, normalmente distante de David, agora o abraçava e elogiava, dizendo que ele era "um rapaz incrível". Era uma cena impossível de imaginar se ela estivesse sóbria, mas, naquele contexto, hilária de se assistir.

— Eu preciso ir... — o ruivo tentou se levantar, mas despencou de volta na cadeira. — Para casa. Quem vai me levar? — Ele apontou para Vee, com um sorriso bobo. — Você aí, bonitão, me leva pra casa, tá? Mas só isso, hein! Sou um homem de princípios.

Vee riu e, sem hesitar, chamou o garçom para fechar a conta, que ele fez questão de pagar. Nick e Elise saíram cambaleando, apoiados um no outro, enquanto David ajudava Kwon a se erguer da cadeira.

— Você tem uma resistência invejável para bebida, — o chefe comentou, olhando para mim. Apesar de aparentar controle, minha visão começava a falhar, mas consegui disfarçar.

— Tenho controle de tudo. Sou controlador.

Saímos do bar e ajeitamos os bêbados no carro. Felizmente, Elise e Nick moravam perto, e logo chegamos à casa deles. Vee os ajudou a entrar e se acomodar no sofá. Kwon, por outro lado, decidiu ficar, alegando que cuidaria da prima — embora fosse mais provável que fosse ele quem precisasse de cuidados, já que parecia pior que os dois juntos. Agora, restávamos apenas eu, David e Vee.

A viagem foi silenciosa, com apenas o som do motor preenchendo o espaço. Quando David desceu, sua expressão estava carregada de desconforto. Ele claramente não gostava da minha proximidade com Vee.

— Senhor controlador, desde quando vocês moram tão perto? — A pergunta soou carregada de implicância, e eu mesmo não fazia ideia de que David morava ali por perto.

— Ele se mudou há algum tempo, mas não sei dizer o dia exato, — respondi, lançando um olhar curioso. — Por que a pergunta?

Quando o carro parou em frente à minha casa, antes que eu pudesse abrir a porta, Vee saiu do carro, deu a volta e abriu a porta do passageiro para mim.

— Curiosidade.

Desci, agradeci e me virei para entrar em casa. Mas, antes que pudesse dar mais um passo, senti Vee segurar meu pulso, me obrigando a virar.

— Não vai me agradecer direito? Que falta de educação, — ele comentou, com um sorriso brincalhão. Percebendo minha confusão, levou o dedo indicador até sua própria bochecha, indicando que queria um beijo. — Meninos educados dão beijinhos, não?

Eu ri da provocação, mas não facilitaria para ele. Aproximei-me devagar, fingindo que daria o beijo em sua bochecha. Quando estava bem perto, subi na ponta dos pés e beijei sua testa. Antes que ele pudesse reagir, entrei em casa e fechei a porta atrás de mim.

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Acordei cedo, sentindo o nervosismo pulsar no peito. Hoje era o dia do meu encontro com David. Passei horas revirando o guarda-roupa em busca de algo especial para vestir, mas no fim escolhi uma roupa casual, em tons escuros, algo que definitivamente combinava mais comigo. Durante o dia, preparei minha mente para encarar o encontro que eu havia adiado por tanto tempo, mas que agora era inevitável – e, de certa forma, até esperado.

Quando a hora chegou, chamei um táxi e fui ao local combinado. Assim que desci, percebi que era uma cafeteria. Não uma qualquer, mas uma cafeteria de gatinhos. Sorri involuntariamente. Ele sabia que eu adorava gatos ou tinha dado um palpite incrivelmente certeiro?

Ao entrar, localizei David sentado a uma mesa, inquieto. Ele verificava o relógio com frequência e ajeitava os cabelos, claramente nervoso. Quando nossos olhares se encontraram, ele abriu um sorriso largo, daqueles que iluminam o ambiente.

— Você sabia que eu gostava de gatinhos? — perguntei, me sentando à sua frente enquanto ele pegava uma jarra de suco e servia um pouco no meu copo.

— Para ser sincero, não tenho certeza — ele respondeu, com um sorriso leve. — Mas lembro de te ouvir comentando sobre gatos com alguém. Talvez isso tenha influenciado minha escolha. Fiz mal?

Eu ri, sentindo o peso do nervosismo se dissolver aos poucos.

— Você teve sorte, David. Eu amo gatinhos.

Era impossível não perceber que, assim como eu, David também estava nervoso. Seus gestos o denunciavam, e talvez isso fosse culpa minha. Depois de tanto tempo o evitando, ali estávamos, frente a frente, vivendo um encontro que eu jamais pensei que realmente aconteceria. Apesar disso, ele tinha uma habilidade quase mágica de puxar a parte de mim que sempre corria dele, como se, por mais que eu tentasse manter distância, algo nele me atraísse de volta.

Fizemos nossos pedidos, e a conversa fluía bem. Por um momento, me permiti relaxar, achando que o nervosismo tinha se dissipado. Mas comemorei cedo demais.

De repente, ele parou, seus olhos azuis piscina fixos em mim, intensos, como se tentassem me devorar com o olhar. Meu coração disparou, e eu sabia o que estava prestes a acontecer. O beijo.

Quando ele segurou minha mão e se inclinou na minha direção, eu congelei. Ele estava tão próximo que sua respiração quente roçava meu rosto. Não havia mais como fugir. Senti seus lábios tocarem os meus, suaves e hesitantes, mas antes que o momento pudesse se aprofundar, eu me afastei.

— Desculpe, eu te incomodei? — David perguntou, visivelmente preocupado com minha reação. Eu, porém, não sabia explicar o motivo pelo qual não conseguia aceitar seu toque. O encontro havia seguido de uma maneira completamente diferente do que eu imaginava, totalmente fora do que eu esperava.

— Não, não é isso... Acho que preciso tomar um ar, tudo bem?

Levantei-me da mesa e saí do café, sentando-me em um banco próximo. Apoiando a cabeça nos joelhos, respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos. Meu nervosismo era quase tangível: minhas mãos suavam e minha barriga parecia abrigar um exército de borboletas. Tudo isso só piorou quando percebi que ele havia vindo atrás de mim. David se sentou ao meu lado, em silêncio.

— Me desculpa por isso, David. Eu não queria que a noite terminasse assim — tentei me explicar, mas, mesmo assim, nada parecia fazer sentido.

— Você só precisaria me pedir desculpas se tivesse deixado acontecer sem querer — ele disse, encarando o chão. — E eu é que devo pedir desculpas por insistir tanto. Agora vejo que você é meu amigo, e eu não deveria ultrapassar essa linha. Me desculpe.

Depois de tantos pedidos de desculpas, acabamos nos abraçando, um gesto simples, mas carregado de entendimento. Em seguida, cada um tomou seu caminho.

Definitivamente, aquele não era o final do encontro que eu havia imaginado. Talvez tudo tivesse fluído melhor se eu tivesse aceitado o beijo dele. Ou, quem sabe, se eu simplesmente não tivesse ido a esse encontro.

No que deveria ter terminado com uma noite compartilhada, acabei voltando para casa sozinho. Chutava pedrinhas no caminho, frustrado e contando os passos até minha porta. Tudo o que eu queria era me afogar em um pote enorme de sorvete enquanto assistia a qualquer filme na televisão.

The Scent of LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora