Irmãos

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             Kai
◛◛◛◛◛◛◛◛◛◛◛◛

Dia 26. O ano novo estava prestes a chegar, e eu ainda não tinha nada que comprovasse minha inocência. Para piorar, estava de ressaca. À minha frente, uma mesa bagunçada, cheia de anotações – anotações que eu nem sequer sabia se seriam úteis para provar que eu estava certo. Minha última esperança residia naquele papel, o papel que roubei do café de Vee.

Com o coração disparado, abri o documento. Ele estava repleto de informações: nome do comprador do café, nome do contador, CNPJ e todos aqueles dados formais. Meus olhos percorriam freneticamente linha por linha, letra por letra, mas, para minha frustração, nada ali era suficiente para me ajudar.

— Diabos! Nada me ajuda, nada!

Eu tinha um plano. Sempre havia um plano. Mas aquele era arriscado, e poderia me fazer perder o pouco que ainda me restava. Apoiei a cabeça na mesa, tentando encontrar uma forma de fazê-lo funcionar sem comprometer as outras pendências que ainda precisavam de atenção. No entanto, todos os caminhos levavam à mesma conclusão: não havia outra escolha.

Passei a noite inteira estudando o plano, ajustando cada detalhe. Ele parecia quase infalível, impossível de dar errado. Mas ainda faltava uma peça essencial: uma isca. Eu precisava de alguém próximo de Vee – próximo ao café, à sua vida pessoal. Por um instante, pensei em Kwon. Mas o hippie mal sabia alguma coisa sobre o loiro, e o pouco que sabia era inútil para o que eu precisava.

Eu teria que ir mais fundo, descer ainda mais.

Eu era apenas um desconhecido na vida dele. Ele jamais confiaria em mim para revelar suas relações ou proximidades. Peguei meu celular e comecei a vasculhar as fotos e informações de todos que trabalhavam no café: nomes, cidades natais, onde moravam, lugares que frequentavam – qualquer detalhe que pudesse me ajudar a chegar mais perto dos meus objetivos.

— Match. — Murmurei, fixando o olhar em uma ficha específica. — Você é um garoto de família pobre, sem informações sobre os pais, mora sozinho, tem um gato chamado Milk... O que posso usar de você para me ajudar? Funcionário qualificado? Você deve ter algo que meu irmão valoriza, e isso faz de você a isca perfeita.

Entrei na lista de contatos e mandei uma mensagem para Kwon. Como esperado, estava bloqueado. Mas eu era malandro, e aquele era apenas um dos meus números.

— Olá, Kwon. Saudades? — disse, assim que ele atendeu, enquanto do outro lado começava uma enxurrada de xingamentos. Ele me chamava de tudo o que podia.

— Não seja assim! Tenho um assunto importante para tratar com você. — Continuei, ignorando os insultos. — Estou indo até a sua casa.

Afastei o telefone do ouvido por um momento, mas logo o coloquei de volta.

— E nem pense em trancar a porta, Kwon. Eu posso arrombar.

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Assim que cheguei à frente da casa de Kwon, percebi seus olhos medrosos espiando através de uma brecha na janela. Isso me fez sorrir. Gentilmente, bati na porta, assobiando, tentando passar uma falsa sensação de paz. Mas, claro, ele se recusava a acreditar.

Quando ficou claro que não adiantaria insistir, afastei-me da porta por um momento. Depois, comecei a escalar uma enorme árvore ao lado da casa. Subi até alcançar a janela de Kwon e, finalmente, me infiltrei no seu quarto.

O ambiente era pequeno, mas absurdamente colorido e repleto de plantas – incluindo algumas proibidas por lei. O hippie era, sem dúvida, um verdadeiro maconheiro, apesar de se autointitular "portador da luz".

The Scent of LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora