— Você continua com essa coisa, Kwon — falei, me levantando e me aproximando dele, os olhos cerrados. — É tão estranho para você que eu queira ter uma conversa com um amigo?
Ele gargalhou, como se não acreditasse em uma palavra do que eu estava dizendo. Kwon era um idiota. Ele conseguia me entender perfeitamente sem que eu dissesse absolutamente nada, mas não me deixava chegar perto, como se soubesse que, a qualquer momento, eu daria o bote.
— Você é uma cobra. A qualquer momento vai me dar o bote. — Ele apontou o dedo na minha cara. — Kai, eu tenho 30 anos. Não sou mais um garoto como sou retratado por aí. Sou mais velho que você, mais velho que todos os meus amigos. Não sou idiota. Eu sei quando um homem quer algo ou só está brincando. No seu caso, é descobrir coisas.
Ele virou de costas para mim e se sentou novamente no sofá. Tudo que ele dizia parecia confuso, mas, de alguma forma, fazia sentido.
— Você fica mais feliz se eu disser que só quero amizade com você?
Kwon lambeu os lábios, pegando um charuto que estava jogado na mesa. Deu um trago longo, e a fumaça cobriu seu rosto antes que ele respondesse:
— Amizade, é? O que você quer saber sobre o Vee?
Eu me sentei ao lado dele, olhando diretamente em seus olhos. Por mais que ele estivesse certo sobre minha atitude, havia algo maior em jogo: a felicidade do meu irmão.
— Você sabe se ele ficou com alguém? Ou se alguém deu um fora nele?
Kwon arregalou os olhos. Era uma expressão que eu já tinha visto antes — ele estava confuso.
— Talvez. Mas eu não sei. Acho que ele tem algo com alguém do café, mas nunca ouvi nada de forma clara. — Ele deu de ombros e me lançou um olhar provocativo. — Você parece tão interessado na vida amorosa dele... Por acaso também quer ele?
Aquilo quase fez meu almoço inteiro voltar.
— Não! Ele é meu ir... — Antes que pudesse dizer a verdade, interrompi a frase com uma tosse forçada e continuei, tentando parecer natural: — Amigo. Ele é meu amigo.
— Agora que eu respondi sua pergunta, me deixa te fazer uma também. — Ele se ajeitou no sofá, me olhando com curiosidade. — Por que você veio me procurar e não foi atrás de outra pessoa? Alguém que estivesse há mais tempo no café ou fosse mais próximo dele?
Aquela pergunta me atingiu em cheio. Eu também não tinha uma resposta clara para isso, mas era algo que já havia passado pela minha cabeça. Por que não alguém mais próximo?
— Eu não sei... — murmurei, tentando encontrar as palavras certas. — Não quero dizer algo bobo, mas acho que gostei de você, sabe? Você é... legal de conversar. Acho que outra pessoa não seria assim comigo.
Ele sorriu, e pela primeira vez parecia um sorriso sincero. Depois de algum tempo conversando, Kwon já não parecia tão desconfiado das minhas intenções, e finalmente pude ir embora. Era o que eu queria, pelo menos em teoria — sair dali sem carregar mais peso na consciência. Mas a verdade é que o peso ainda estava lá.
Kwon estava sendo sincero comigo desde o início, enquanto eu o enganava. Talvez esse fosse o preço que eu teria que pagar por tentar provar minha inocência. Infelizmente, o destino colocou o garoto — que, agora eu sabia, não era tão garoto assim — no meio desse fogo cruzado.
Depois daquela conversa, algo mudou em mim. Kwon tinha 30 anos, um pouco mais do meu tipo agora. Ele era um homem maduro, fiel a si mesmo, que me dizia a verdade o tempo todo. Leal. E eu sabia que o que estava começando a sentir não acabaria bem. Precisaria acabar com isso antes que fosse tarde demais.
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The Scent of Love
RomanceEm meio ao aroma de café e ao som suave de xícaras tilintando, Match leva uma vida pacata e discreta trabalhando como barista em uma charmosa cafeteria no centro da cidade. Ele é apaixonado pelo ambiente aconchegante e pelo cuidado com que prepara c...