The Scent of Love

Infelizmente David

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                                            Nick
                             ┗◛◛◛◛◛◛◛◛◛◛◛◛┛

Aquele dia foi um dos piores. Acordei com meu pai esmurrando a porta, quebrando tudo e gritando coisas que eu não desejaria nem ao meu pior inimigo. Minha mãe me olhava com desprezo e, toda vez que eu tentava me aproximar de Wook, ela o colocava atrás de si, dizendo para ele que não chegasse perto de mim porque eu era uma "doença contagiosa". Não consigo me lembrar da última vez que recebi um gesto de carinho dela.

As coisas nem sempre foram assim. Quando eu tinha 14 anos, minha mãe estava grávida de Wook e ainda era carinhosa comigo. Ela costumava dizer que eu era a coisa mais importante da vida dela. Mas, como nada é fácil, tudo começou a mudar. Meu pai passou a se envolver com outras mulheres, gastando o dinheiro da casa. Minha mãe descobriu sozinha a traição, mas já estava acostumada a viver naquele relacionamento abusivo. Dizia que não tinha como se sustentar sozinha, mas eu sabia que não era verdade. Ela ainda o amava, mesmo ele sendo cruel, um verdadeiro monstro.

Com o passar dos anos, meu pai desenvolveu um vício em álcool. Voltava para casa quebrando tudo e, nas vezes em que tentava agredir minha mãe, eu me colocava na frente e acabava sendo atacado. Mas isso não foi o auge de sua insanidade. Quando completei 17 anos, ele tentou me vender — como se eu fosse um objeto sem valor, descartável — para uma casa de homens da vida. Felizmente, seus planos fracassaram. Os vizinhos, que adoravam fofocas, denunciaram suas ações, e ele acabou sendo preso por um tempo.

Com meu pai na cadeia, Wook completou três anos, e tudo parecia estar seguindo um rumo estranho, mas suportável. No entanto, fui obrigado a sair da escola e trabalhar para comprar fraldas para o meu irmão. Minha mãe e ele eram tudo o que eu tinha. Mas, assim que meu pai foi solto, minha mãe voltou para ele. Desde então, passaram a usar falsas doenças e mentiras para arrancar de mim até o último centavo que eu conseguia ganhar.

— Eu não quero que você se aproxime do Wook.

Minha mãe gritava pelos quatro cantos da casa, mas, naquela altura, eu já sabia que não tinha nada a perder.

— Eu cuidei desse garoto desde que ele era um feto. E o que você fez? Gerou ele, somente isso. Vocês nunca fizeram nada para cuidar dele - me aproximei da minha mãe, e ela claramente me olhava espantada. - Sabe o que você e seu marido inútil fizeram por nós? Nada! Vocês inventaram uma doença para uma criança de sete anos; vocês deviam ter vergonha. Mas vocês não têm vergonha, muito menos ele - apontei para o meu pai - o homem que tenta vender o próprio filho por dinheiro, não tem vergonha de nada. A mulher que se sujeita a apanhar e ser traída e continua com o agressor não tem vergonha.

Ela me olhava com certo pavor, mas eu sabia o porquê. Porque, apesar de tudo, meu rosto era como o dele, e eu era ele; com raiva, eu era ele.

— Eu nunca pedi nada a vocês; a única coisa que eu pedi foi que dessem ao Wook a infância que eu nunca tive. Porque, graças a vocês, eu criei essa casca. Essa casca de adolescente; graças a vocês eu sou como sou. Eu sou um idiota, eu sou burro, eu não entendo as coisas, eu não tenho capacidade; eu sou tudo isso! Mas ainda sou humano! - as lágrimas caíam do meu rosto sem parar — droga, eu sou humano! Eu era uma criança; eu não sabia que amar era passar por tudo aquilo. Vocês fizeram da minha vida um inferno; vocês me deixaram marcas que eu nunca vou poder curar. Por quê, mãe? Me diz? Por quê? Por que você colocou seu marido no pódio e me tirou dele? Por que você continua com ele? - olhei para meu pai, que estava bêbado, chorando sentado — você me dá vergonha, você me dá nojo, você me dá medo. Você me tocou com esse seu olhar nojento muitas vezes e eu nunca fiz nada sobre isso; eu era um menino de seis anos. Era só isso que eu era. Como você conseguiu sentir desejo em mim? Uma criança! Seu filho! Eu juro para vocês que se fizerem o mesmo que fizeram comigo com o Wook, eu esqueço tudo que prometi e mato todos vocês. Um por um.