Capítulo 4

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Os dias que antecederam o retorno dos alunos a Hogwarts transcorreram de forma tranquila, mas não sem uma rotina bem definida para Severus e Olivia, que seguiam caminhos diferentes ao longo do dia. Ele passava a maior parte do tempo no castelo, ocupado com os preparativos para o novo semestre ou profundamente mergulhado em experimentos no laboratório subterrâneo. Olivia, por sua vez, dedicava-se ao que restava de seu curso universitário, cercada por livros e aparelhos trouxas que Severus considerava intrigantes, embora nunca deixasse de mencionar o quanto os achava complicados e rudimentares em comparação às soluções mágicas.

Apesar da distância física que muitas vezes parecia separá-los durante o dia, havia uma harmonia silenciosa entre eles. Ambos respeitavam o espaço e as responsabilidades do outro, e o retorno à presença um do outro à noite trazia uma atmosfera de reconfortante familiaridade. Ainda assim, Severus mostrava atenção aos detalhes de forma discreta, o que não passava despercebido por Olivia. Prevendo as necessidades dela para as aulas que se aproximavam, ele adquiriu utensílios e livros específicos que poderiam ser úteis para seus estudos. Quando ela encontrou os itens organizados cuidadosamente sobre a mesa onde ela costumava estudar .

 — Não precisava, Severus — ela comentou com um sorriso contido, tocando delicadamente a capa de um dos livros.

— É claro que precisava — retrucou ele, sem tirar os olhos de um pergaminho em que trabalhava. — Não seria inteligente deixar você mal equipada.

Embora a resposta dele tivesse o tom habitual de indiferença, Olivia sabia que o gesto vinha carregado de uma gentileza implícita que ele dificilmente admitiria. Sem dizer mais nada, ela mergulhou avidamente na leitura, devorando todo o material em apenas quatro dias.

Com o início do semestre, Olivia foi informada sobre as disciplinas que faria no primeiro ciclo: Feitiçaria, Transfiguração, Poções, Defesa Contra as Artes das Trevas, História da Magia, Estudo dos Magos e Herbologia. Apesar de estar ansiosa com a oportunidade de estudar magia mais a fundo, ela não pôde deixar de sentir um frio na barriga ao pensar nas práticas que viriam. Dumbledore, sempre perspicaz e com sua típica abordagem compreensiva, decidiu que aulas de voo não seriam necessárias por enquanto.

— Se ela já passa mal com aparatações, imagine em uma vassoura — comentou Severus com o sarcasmo característico, enquanto lia a carta com os detalhes do cronograma de Olivia.
— Muito engraçado, Severus. Mas não precisa se preocupar, porque eu não vou quebrar o pescoço voando por aí — respondeu Olivia, erguendo uma sobrancelha em desafio.

Ele olhou para ela, e, por um breve instante, seus olhos se encontraram em uma troca silenciosa, algo entre provocação e admiração. Olivia podia sentir o leve calor subindo em seu rosto, mas desviou o olhar antes que ele notasse. Quanto a Severus, ele apenas retornou ao pergaminho em sua mão, mas um canto de seus lábios ameaçou formar um sorriso quase imperceptível.

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Certa vez, Olivia visitou o laboratório de Severus e se deteve diante de uma estante repleta de frascos contendo ingredientes para poções. Os líquidos cintilavam em tons vibrantes e misteriosos, enquanto raízes secas, folhas com texturas exóticas e pós de cores incomuns repousavam em vidros cuidadosamente etiquetados. Ela inclinou a cabeça, observando cada frasco com atenção, e, à medida que lia os rótulos, sua mente fazia conexões com as informações que havia encontrado em seus estudos recentes.

Os olhos de Olivia brilhavam com curiosidade enquanto murmurava para si mesma os possíveis usos de cada substância. “Asfódelo... ótimo para poções de sono profundo. Mandrágora... tem propriedades anestésicas e pode ser usada como antídoto, dependendo da concentração...”

Severus, que estava organizando um armário próximo, parou por um momento para observá-la. Ele notou o interesse genuíno em seu olhar e a precisão de suas observações. Um leve sorriso interno o surpreendeu ao perceber o quanto ela havia aprendido sozinha, apenas com os livros que ele cuidadosamente escolhera para ela. Ele sabia que Olivia era inteligente, mas ver sua mente analítica em ação ali, no contexto do que ele mais prezava, o fez sentir algo que não conseguiu definir de imediato.

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