Entre Dois Mundos

Capítulo 7

Olivia atendeu o telefone, e bastou ouvir a voz da amiga Patrícia do outro lado da linha para que uma sensação de inquietação a tomasse. Havia algo no tom aflito de Patrícia, na respiração apressada entre as palavras, que fez o coração de Olivia apertar imediatamente.

— Olivia, desculpa te ligar assim, de repente, mas estou numa situação complicada e preciso muito da sua ajuda — começa Patrícia, quase sem fôlego. — Fui chamada de última hora para fotografar o festival de Cannes. É uma oportunidade única, mas o pai do meu Arthur se recusou a ficar com ele enquanto eu estiver fora, e eu preciso viajar no domingo. Nenhuma babá quer aceitar ficar tantos dias com ele...

Olivia respirou fundo, processando a situação com calma. Ela compreendia plenamente a importância da carreira de Patrícia como fotógrafa e sabia o quanto era desafiador para a amiga equilibrar as demandas de um trabalho exigente com a responsabilidade de criar o filho sozinha.
— Claro, Patrícia — responde Olivia, sem hesitar. — Fique tranquila. Eu fico com ele, sem problemas. Por quanto tempo você acha que vai ficar fora?

— Talvez uns cinco dias — diz Patrícia, aliviada, mas ainda tensa. — Eu sei que é pedir muito, mas eu realmente não tenho outra opção...

— Não se preocupe — assegura Olivia, tentando transmitir confiança. — Você sabe que gosto de passar tempo com ele. Vamos nos divertir. Amanhã, sábado, posso ir por ele, o que acha?

Patrícia suspirou, visivelmente aliviada.
— Obrigada, Olivia. Você não sabe o quanto isso significa para mim.

Assim que encerrou a ligação, Olivia voltou-se para Severus, que a observava em silêncio, os olhos atentos refletindo uma curiosidade contida.
— Parece que teremos companhia pelos próximos dias — comenta Olivia, com um sorriso leve, tentando disfarçar um pouco da preocupação que sentia por Patrícia.

Severus, com sua habitual perspicácia, notou a tensão sutil nos ombros de Olivia e deu um passo à frente, aproximando-se com discrição. Ela deixou escapar uma risada suave, como se o simples gesto dele fosse suficiente para aliviar parte da inquietação. Apesar de prever que os próximos dias seriam intensos, havia em Olivia uma confiança inabalável de que, como sempre, encontraria uma forma de lidar com tudo.
Ainda assim, os olhos de Severus estreitaram ligeiramente, e suas sobrancelhas franziram em uma expressão que oscilava entre curiosidade e um toque evidente de desagrado.
— E o que exatamente está acontecendo? — pergunta, em tom controlado, como quem já pressente que a resposta trará mais complexidade à rotina meticulosamente organizada que ele tanto preza.

Olivia respirou fundo, escolhendo cuidadosamente as palavras enquanto ponderava a melhor forma de explicar. Mais do que tudo, ela queria que Severus compreendesse.
— Patrícia é uma amiga muito querida, e Arthur é meu afilhado — começa, observando as reações de Severus com cautela. — Ela começou a trabalhar como fotógrafa há algum tempo, e agora surgiu essa oportunidade incrível: cobrir o festival de Cannes. Mas... o pai do Arthur se recusou a ficar com ele enquanto ela viaja. Ela está desesperada, não tinha mais ninguém para pedir ajuda.

Severus ouviu em silêncio, mantendo o rosto quase inexpressivo, mas Olivia notou o leve apertar dos lábios — um gesto sutil, mas inconfundível, que denunciava sua típica reação ao processar uma notícia que claramente não lhe agradava.
— Eu prometi a ela que ficaria com o Arthur pelos próximos dias — continua Olivia. — E antes que você pergunte, sim, isso é possível.

Quando fizemos aquele acordo com o Ministro, uma das exigências era poder manter contato com alguns poucos “muggles” próximos. Foi permitido sob um feitiço discreto, algo que impede que eles falem sobre o seu mundo com qualquer pessoa fora do círculo de confiança.
Severus balançou a cabeça, absorvendo as palavras de Olivia. Sabia que o acordo era justo e que ela tinha tanto direito quanto ele sobre o espaço que compartilhavam. No entanto, a ideia de ter uma criança ali — possivelmente curiosa e agitada — não lhe parecia nem um pouco ideal. Ainda assim, ele reconhecia que contestar aquela decisão seria injusto.
— Muito bem — responde, após um breve silêncio, mantendo o tom sereno. — Imagino que, se é inevitável, terei que me acostumar com a ideia.