Capítulo 12- Doesn't came back

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"Agora que penso, até foi um pouco hilariante." Ele pega num copo de àgua e bebe um pouco.

"Não me parece que tenha sido." Digo ainda a sorrir.

"Vá lá, se tivesses visto até recordavas a rir."

"Cala-te lá!" Bato levemente no seu ombro e ele faz um ar ofendido.

"Não penses que cresceste o suficiente para teres o direito de fazer isso!" Ele brinca.

"Tenho altura suficiente!" Deitei-lhe a língua de fora. Dei uns passos em direcção à porta da cozinha. Após rodar a maçaneta, consegui sentir uma brisa fria atingir a minha face. Mesmo assim, caminhei pelo velho alpendre que dá acesso ao grande jardim. Sentei-me no primeiro degrau vendo as gostas e chuva molhar o chão. As gotas passavam por entre os meus dedos assim que estiquei a mão. São estas pequenas coisas que trazem um pouco de paz. Sabem aquele cheiro que fica no ar quando chove sobre o chão molhado? Lembra-me infância, trás-me essa paz. Outra coisa que me vem à memória é aquele dia em que o rapaz de olhos azuis me acompanhou a casa. Chovia imensamente e, mesmo assim, eu e os meus desenhos chegámos a casa secos.

Louis sentou-se do meu lado esticando igualmente a mão em direcção às gotas da chuva. O seu enorme e despenteado cabelo davam-lhe um ar tão sereno, tão calmo. Juro que tinha saudades de sentir o seu perfume, o seu cheiro a menos de um metro de mim.

Apesar de nenhum de nós falar, sei bem que nas nossas mentes vai um turbilhão de memórias. Não me estou a queixar do silêncio, até pelo contrário, é um silêncio reconfortante.

Quando ergo o meu olhar, percebo perfeitamente onde estamos. O jardim outrora florido e vistoso agora está castanho e apagado. O verde do relvado deu lugar a montes de terra. Lá no fundo, uma pequena casa chamou à minha atenção. Apesar de meio abandonada, eu reconheceria aquela casa na árvore em todo o lado. Num gesto meio repentino, levantei-me e lancei os meus pés descalços pela terra. A chuva embatia no meu corpo com alguma força, refrescando-me por completo. Procurei as escadas para a casa e, assim que as encontrei junto ao chão, coloquei-as de volta no sítio. Elas eram pesadas e frágeis, ao contrário do que parecia antes.

Ao entrar pela porta, tudo tinha mudado desde a última vez que cá entrei. O conforto de antes, tinha desaparecido quase por completo. Restavam lá uns cobertores e umas almofadas. Deixei o meu corpo escorregar por uma parede, sentando-me junto dela. Puxei um pequeno cobertor por cima das minhas pernas e fiquei a admirar os pedaços de madeira da velha casinha. Ela tinha agora um ar abandonado. Talvez seja uma indirecta para mim. Abandonei o conforto que tinha, o amor que tinha e acabei sozinha e cheia de saudades do passado. Dava tudo para poder voltar no tempo. Sim, parece de loucos mas, agora que estou aqui, deixaria tudo para ter a minha vida antiga de volta. Não só por ele, mas para poder voltar ao tempo em que qualquer coisa me fazia feliz.

O meu olhar cai sobre Louis que acabara de entrar na casa. O seu tronco ainda descoberto e brilhante por culpa da chuva arrepiaram-me por completo. A sua mão passou vagarosamente pelo seu cabelo completamente despenteado enquanto a sua lingua molhava os seus lábios secos. A minha boca ficou entreaberta quando ele se encosta à parede oposta à em que eu estava encostada. A sua pele tronco quase completamente por tinta, principalmente de cor preta, cobria os seus músculos definidos. As gotas de água contornavam cada alto e baixo dos seus abdominais. As calças azuis escuras apenas fixas na sua anca, davam-lhe um ar meio descontraído.

Olhei para a sua face encontrando o seu olhar. Ele olhava-me justamente da mesma forma com que eu o deveria estar a olhar naquele momento. No entanto, outras coisas estavam presentes no seu olhar: mágoa e talvez um pouco de raiva.

"Eu lembro-me tão bem disto." Digo enquanto me levanto e deslizo a minha mão pela parede.

"Eu tinha a certeza que te ias lembrar." Ele confirma com uma voz completamente rouca. Os pelos dos meus braços arrepiaram-se por completo.

"Vieste cá muitas vezes desde que me fui... tu sabes...?"

"Embora?" Ele completa repentinamente. "Não. Foram os meus amigos a tirar isto tudo daqui. Ou querias que me viesse martirizar por te ter perdido?" O seu olhar quase me queima.

"Não, claro que não." Sussurrei. "Tu sabes que eu não sou assim."

"Porquê?" Ele caminha até mim lentamente.

"Porquê o quê?" Aproximo-nos ainda mais.

"Porquê que me abandonaste?" A sua voz rouca volta a arrepiar-me por completo.

"Tu sabes que era o meu sonho."

"Isso não é desculpa!" A sua respiração quente bate na minha face.

"Eu sabia que ias ganhar e que não teríamos mais tempo para estar juntos. Eu queria crescer por mim mesma." Observei os seus olhos cor de céu. Juro que me perdia neles.

"Podíamos tê-lo feito juntos." Os seus lábios mexem-se a meros centímetros dos meus. A minha respiração acelera ainda mais. Já não me lembrava de me sentir assim.

"Eu precisava de me ir embora!" Suspiro profundamente. Num gesto repentino, o seu corpo afasta-se para longe do meu.

"A escolha foi tua. Espero que sejas feliz agora, nesse teu mundo de aparências." Consigo notar raiva na sua voz. "Despacha-te e vai trocar de roupa. Tenho de te levar a casa antes de ir levar a carrinha ao Ron." Ele diz com os olhos presos nos meus. "Não demores!"

Assim que ele desaparece do meu campo de visão, obrigo-me a mim mesma a fazer pequenas respirações profundas. Eu não podia chorar agora, não perto dele. No entanto, sempre que eu fecho os meus olhos consigo vê-lo ali, encostado à parede de tronco nú.

Troquei de roupa o mais brevemente possível para não o fazer esperar e caminhei até à carrinha onde ele já aguardava. Passei-lhe a t-shirt que apesar de molhada, ele acabou por vestir. Não trocamos uma palavra durante a maioria da viagem.

"Onde queres que te deixe?" Ele pergunta sem tirar o olhar da estrada.

"Pode ser em casa dos meus pais. Ainda sabes onde fica?" Bati-me mentalmente por causa da pergunta. Claro que ele se lembra.

"Sim." Ele simplesmente sussurra. Poucos minutos depois sinto a carrinha parar e decido olhá-lo só mais uma vez.

"Obrigado por teres tomado conta de mim."

"Eu faria isto por qualquer pessoa." Ele deixa escapar e uma vontade súbita de cavar um buraco para meter a cabeça, aparece.

"Tudo bem. Obrigado na mesma." Saí da carrinha.

"De nada. Vê se começas a tomar conta de ti mesma." Ele atira e eu assinto. Não consegui dizer mais nada. Simplesmente o vi desaparecer dali deixando-me alí especada, provavelmente na estúpida esperança que ele voltasse e me abraçasse, como ele fazia quando eu estava em baixo ou quando nos chateávamos. Ele não voltou.

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Olá amores! <3

Passei rapidinho para deixar um capítulo para vocês :D
Deixem-me comentários acerca dele sim? :)
Obrigada por tudo <3
Beijinhos enormes*
Joana' G.

TITANIUM 2 ✩ (L.T.)Onde histórias criam vida. Descubra agora