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~•~

–Elsa, você sabe que não o matou! Você sabe se foi mesmo o Pitch que... - ele fala enquanto eu olho para seus olhos azuis.

Desvio o olhar.

–Jamie se desfez em areia negra, Jack - murmuro sem dar tempo para ele terminar a frase - Quem mais faz areia negra e ilusões desse tipo? Eu sei o que eu vi! - meu coração doía, como sempre - Eu fui idiota...

O ar aqui dentro estava quente e sufocante, mesmo com a neve que caía com meus sentimentos.

–Vamos sair daqui. - diz ele sem me olhar e se dirige até a porta, esperando lá fora que eu saísse.

Ele agia estranho e sua voz transbordava mágoa, não sei se de mim, ou de todo o mundo.

Levantei meu tronco e sentei na cama com dificuldade, dando de cara com um espelho, me observei, coisa que não fazia há muito tempo.

Eu estava descalça.

Usava o mesmo vestido que usei quatro dias atrás.

Meu cabelo loiro esbranquiçado estava solto, e consequentemente maior, ia até logo acima de meu umbigo, era raro encontrá-lo solto, mas isso não me importava.

Me esgueirei da cama até encostar meus pés nus no chão gelado e senti como se estivesse flutuando, era um frio bom, e a cada passo uma sensação diferente.

Sempre mudando de forma constante, assim como eu.

Quase esqueci que meus medos e fraquezas se encontravam do outro lado da porta.

Eu tinha que enfrentá-los, eu tinha de ser assim, eu tinha que esconder, não sentir e não deixá-los saber.

Abri a porta.

O clima era o de sempre na fábrica do norte. Muita bagunça e Yetis correndo de um lado para o outro com brinquedos e pincéis na mão.

Jack Frost me esperava apoiado na cerca de ouro que abrangia toda a extensão do andar de cima da fábrica.

~•~

–Jack.. - digo apreensiva.

Estávamos no mesmo lugar onde Jack havia me levado para patinar na outra tarde, que já parecia distante.

Era também o exato lugar onde minha irmã e Jack haviam caído no gelo profundo que engoliu suas almas, afundando suas vidas em meio ao frio tenebroso.

O mesmo frio que se encontrava em mim agora.

Ele pega seu cajado e senta em um monte de neve na beira do lago congelado, me sento ao seu lado.

O entardecer ali era de um laranja celestial, ainda faltava tempo para a lua aparecer.

O gelo que se instala entre nós dois é quebrado.

–Se... Fosse realmente o Jamie ali...você o teria beijado? - pergunta sem olhar para mim e brinca de fazer desenhos desocupados na neve. Como se a pergunta não valesse nada.

–Eu não sei - admito, seca - Pitch usou persuasão em mim então... - não estamos nós olhando, ambos olhávamos para a mata de árvores brancas e sem vida. Mas de suas pontas caía as mesmas gotas congeladas que me encantaram no dia em que cheguei aqui.

Teria. Não é?

Bufo soltando o ar frio triste de minha boca, essa conversa não levaria a nada.

A nada bom, pelo menos.

–Não teria. - digo quase irritada pelas perguntas.

Continuo sem saber me expressar com pessoas, mas parece que Jack sempre consegue me fazer falar.

–Por que fugiu de mim? - me encara, mas não o olho completamente.

Já estou me cansando.

–Não queria atrapalhar você e a Sophia - reviro os olhos em tom de deboche.

–Você não queria me atrapalhar? Acha mesmo que fui eu quem começou aquele beijo?!

–Acho. - rebato me levantando.

–Não comecei o beijo! - grita e se levanta - foi a Sophia.

Dou uma risada falsa.

–Foi a Sophia - imito a voz dele ironicamente, mas continuo seca.

–Foi ela sim! - aponta para mim seu cajado em defesa - mas, e se eu tivesse começado? E dai? Por que está tão chateada com isso? - seu rosto bravo e indecifrável se encontrava a alguns centímetros de distância do meu, e seus olhos azuis me encaravam afogando meu coração no gelo que vinha de nós dois agora.

Seu cajado apertado entre seus nós brancos dos dedos e apontado em minha direção como um dedo indicador.

Eu me senti encurralada, em uma tempestade própria, daquelas que não tem como fugir, nem fingir pra si mesmo.

–Não estou chateada. - digo simplesmente, empinando o nariz. - só... - dou de ombros - não precisava me levar pra lá, nada disso teria acontecido... - o encaro irritada, há neve por toda parte, ele se afasta do meu rosto e se vira para encarar uma das muitas árvores brancas dali.

Ajeita seu cabelo branco para trás e faz movimentos com as mãos entre sua nuca e seus cabelos, os puxando de leve para baixo.

Aquela multidão de branco nele me hipnotizava.

O que?

Tenho que começar a fazer mais anotações mentais que prestem.

E eu não consigo acreditar em tudo o que está acontecendo, tudo tão rápido, muitas mortes, e eu aqui discutindo?

A lua salvou vidas mas e a minha?

Foi esquecida.

Mesmo eu pedindo pra lua, mentalmente...

Me resgata.

Me mostra quem eu sou.

Porque eu não consigo acreditar que é assim que a história termina.

Não consigo.

–EU NÃO DEVIA TER IDO ATÉ LÁ! - grito fazendo milhares de flocos de neve explodirem ferozmente contra várias árvores de uma só vez.

Desabo no chão, ficando de joelhos enquanto apoio uma mão no chão e a outra escondendo as lágrimas que ameaçavam aparecer.

–Olha - ele abaixa o tom de voz mas parece relutar em falar algo - me desculpa, - suspira - eu não sabia que isso tudo iria acontecer - diz ainda encarando a raiz da árvore - você sabe que eu não te levaria para lá se soubesse disso.

Me levanto rapidamente e me aproximo dele de maneira feroz.

–MAS VOCÊ... - estou prestes a continuar a discussão, com meu dedo indicador apontado em sua direção, em forma de ameaça.

–Querendo ou não, rainha, ainda sou seu guardião. - da de ombros, como se lhe custasse dizer aquilo. Ele se vira, caminha até perto de mim e me olha sério apoiando-se em seu cajado, não detecto nenhuma expressão de brincadeira em seu rosto, o que não é normal se tratando de quem ele é - e eu sei que você precisa de mim...

–Eu não... - começo me defendendo e já querendo cortar sua fala. Quem ele pensa que é?

–Assim como também preciso de você.

~•~

Not so different, After all (Jelsa)Onde histórias criam vida. Descubra agora