Like Toy Soldiers • Stony

The Right Thing

Muitas pessoas diriam que eu exagerei. Talvez tenha exagerado mesmo. Mas a verdade é que a Peggy ainda é meu ponto fraco. E um amor assim não se esquece da noite para o dia. Foi muita coisa para digerir quando eu acordei daquele sono. Foi difícil. Eu perdi todas as pessoas que eu amava. Incluindo o Bucky. Eu não queria que ele tivesse visto a foto.

E sem falar que aquele caderno estava cheio de baboseira que eu escrevia e desenhava quando eu estava triste ou sozinho. Se ele visse, nunca mais me deixaria em paz. O pessoal da SHIELD ia me zoar para sempre e aí sim eu seria o Capitão Bundinha.

Quando fui para o quarto naquela noite, Stark não estava lá. Eu me apressei para dormir antes que ele voltasse ou isso não seria mais possível. Na manhã seguinte, não me preocupei em vestir uma blusa antes de descer as escadas. O frio tinha ido embora, deixando uma temperatura extremamente aconchegante no ar.

-Bom dia. -Tony disse, trazendo ovos mexidos numa frigideira e despejando em um dos pratos que estavam sobre a mesa. Imediatamente me senti envergonhado pela noite anterior. Mesmo assim, tentei responder casualmente.

-Bom dia. -pigarreei- Você cozinhou?

-Eu tentei. -disse ele, dando de ombros.

Fui até a cozinha para ajudá-lo a trazer o resto das coisas. Por fim, nos sentamos. Um silêncio constrangedor se instalou entre nós. Tentei disfarçar comendo o mais rápido que pude, mas me dei conta de que eu era o único constrangido ali. Percebendo que mais cedo ou mais tarde eu teria que contar sobre a foto, suspirei uma vez e comecei:

-Ela se chamava Peggy. -as palavras saíram da minha boca, antes mesmo de se formarem na minha cabeça. Não tinha mais volta.

-Quem? A...

-É. A garota da foto. -falei sem encará-lo, pondo a mão direita em um dos lados da minha testa. -ela foi importante para mim. E eu não queria perder ou estragar aquela foto porque foi ela quem me deu. -ergui o olhar dando um sorriso fraco. -Não sobrou muita coisa dela.

-Eu... não sabia. -e depois de uma breve pausa ele continuou- Bom, não foi minha culpa. Mas sinto muito, de qualquer forma.

-Já disse isso.

-Não, eu me desculpei pela foto. Agora estou falando da garota. A... Peggy. Sinto muito que tenha a perdido.

-A gente acaba se acostumando com as perdas. -disse, pensando em todas as pessoas que já tinha perdido. Pensando em Bucky.

-Eu sei. E também... Você vai acabar encontrando alguém. -ele falou, parecendo pensativo.

Tirei uma casquinha de ovo da minha boca e assenti com a cabeça. Ele provavelmente tinha razão.

Depois de passar bastante tempo na construção daquelas casas, finalmente tivemos um progresso significativo. Estava faltando pouca coisa, e com certeza terminaríamos isso no dia seguinte.

Tony e eu decidimos entrar numa lanchonete antes de voltarmos para casa. O lugar era bastante acolhedor, apesar de não ser nada luxuoso. Mesas redondas espalhadas pelo ambiente faziam com que o local parecesse ainda menor, porém, não parecia apertado. E não era.

Nos sentamos em uma das mesas do canto e Stark levantou dois dedos de sua mão chamando uma garçonete cujos peitos quase saltavam para fora do sutiã. Os olhos de Tony oscilavam entre seu rosto e seu decote. E ela fingia não notar aquilo. Ri com desdém. Eles fingiram não notar aquilo também. Finalmente, pedi um café com creme e ele pediu um cappuccino. O que era praticamente a mesma coisa.

Estávamos quase terminando nossas bebidas, quando dois jovens passaram por nós. Uma garota de cabelo preto e curto, e um cara todo tatuado. Um deles gritou meu nome me pegando totalmente de surpresa. Pensei que fosse apenas um fã até que ele disse as seguintes palavras:

-E aí, Cap? Arrasou, hein? Tá andando demais com o Homem de Ferro!

-Solta o quadril da próxima vez! -a menina completou, dando um gritinho e balançando o quadril de um lado para o outro, com as mãos acima da cabeça. Então eles saíram pela porta, sem parar de rir nem por um instante.

Minha cabeça imediatamente apontou para Stark. Um misto de confusão e acusação se formava em minhas feições. Tenho certeza disso. E os olhos arregalados de Tony desapareceram.

-Que foi?

-De que eles estavam falando?

-Por acaso eu tenho bola de cristal? Como vou saber?

Estreitei os olhos e cruzei os braços sobre o peito.

-Eles falaram seu nome! Algo me diz que isso tem alguma coisa a ver com você.

-E?

-Não se faça de bobo, gênio.

Quando ele não respondeu, eu continuei:

-Se vamos ser "amigos" -fiz aspas no ar com os dedos-, temos que ser sinceros um com o outro, não acha?

Minha expressão tomou uma posição de quase súplica.

- Eu já fiz a minha parte. Eu contei sobre o lance com a Peggy. Não acha que está me devendo uma também?

Ele revirou os olhos.

-Tudo bem, Steve. Tudo bem. Mas agora não, ok? -disse, gesticulando com uma das mãos e tomando um gole de sua bebida- Você ia dar chilique. E você sabe... Eu tenho uma reputação a zelar. -ele brincou.

Meu rosto se suavizou com sua resposta compreensiva. Demonstrei meu sentimento por meio de um sorriso afetado.

-Obrigado.

Então seu olhar se espelhou ao meu. E naquele momento senti que pela primeira vez tínhamos nos entendido. Ali, olhando um nos olhos dos outros, não parecia que tínhamos sido inimigos algum dia. Na verdade, agora eu sentia que podia confiar nele. Não me pergunte o motivo. Apenas... me pareceu ser a coisa certa.