Like Toy Soldiers • Stony

Secrets and tension

Abri os olhos, mas não entendi muito bem o que estava acontecendo. Pisquei algumas vezes para desembaçar minha visão e olhei para o teto. Branco. Vazio. O ar-condicionado fez um barulho e isso me despertou. Franzi a testa e olhei para os lados. Eu não estava deitado e sim sentado. Minha mão esquerda segurava a de Tony, que dormia na cama ao meu lado. A noite passada foi uma loucura. Tony ficou em cirurgia por 12 horas com uma equipe de médicos renomados dos Estados Unidos. Todos perceberam o nervosismo que eu estava tentando conter durante todo o processo. Natasha sabia o porquê.

Perdemos o Caveira e seus capangas, mas isso já era de se esperar considerando o desastre que foi essa missão. Deixei com que meus sentimentos prejudicassem meu desempenho e não poderia mais deixar isso acontecer. Falhei. Coloquei a vida de todos em perigo.

Tony estava ao meu lado agora, em repouso. Assim, como eu estive há alguns dias atrás. Só que eu era um super soldado e ele era um humano. Foi horrível. Resisti ao sono até simplesmente desmaiar de exaustão numa poltrona azul que havia ali. Ouvi umas batidas na porta e Natasha entrou com uma bandeja nas mãos.

—Bom dia, Steve.

Minha voz saiu rouca quando respondi. Pigarreei e falei novamente.

—Poderia estar melhor... Como Tony está?

—Eles fizeram o que puderam. Parece que Stark tinha outro reator, um antigo que sua assistente havia guardado por precaução. Eles o implantaram o mais rápido possível. Mas usaram-no apenas para auxiliar na remoção dos estilhaços. Os médicos decidiram cortar o mal pela raiz e limpar tudo. Não vai acontecer algo assim novamente. Ele já está bem.

Ela inclinou um pouco a cabeça, interessada no que eu estaria pensando, talvez.

—E eu espero que você também esteja... —completou.

Natasha pôs a bandeja numa mesinha ao meu lado e puxou uma cadeira até ficar frente a frente comigo.

—Que bom que correu tudo bem... —falei, encarando o chão.

—O que vocês dois têm?

—Para falar a verdade, não sei bem. Foi uma longa história de altos e baixos. Até me canso em pensar na montanha russa que foi isso tudo.

—Com certeza vai ser um choque para todo mundo, quando souberem. Espero que estejam preparados para tudo isso. Imagino que não seja só algo superficial, pela forma que vocês se importam um com o outro. Mas tomem cuidado, porque assim que alguém descobrir, podem usar isso contra vocês. E não deixem que isso afete seu desempenho nas missões. Não vacilem.

Ela olhou pra mim com uma expressão meio debochada e disse:

—Eu nunca vacilo.

Sorri de canto e assenti. Natasha levantou-se, me deu um beijo na testa, bagunçou meu cabelo e virou-se para sair. Ainda na porta olhou para trás e me deu um sorriso.

—Se cuida, Steve.

E eu sabia que essa era a forma que ela encontrava de dizer que me ama.

—Você também, Nat.

Estávamos na casa de Tony. Olhei ao redor, levantei e fui ao banheiro. Tudo na casa dele parecia ser muito caro e eu não estava muito acostumado a isso. Tentei não tocar em nada, além do necessário. Lavei meu rosto e minhas mãos com um sabonete com aroma de menta que havia lá. Era o cheiro dele, quando saía do banho. Nunca parei pra pensar, mas todo esse tempo meu subconsciente guardava esses detalhes sem eu perceber.

Fui até o outro quarto, onde eu estava anteriormente e minhas malas estavam lá desde que Tony e eu voltamos de Chicago. Estavam todas vazias e minhas roupas no grande closet atrás das portas na parede. Eu não precisava de tudo aquilo mas não ousaria recusar. Não havia nada para arrumar ali, mas eu não conseguiria ficar parado. Precisa de algo para fazer, para não ter que pensar no que tinha acontecido.

Caminhei até a cozinha e apoiei ambos os braços no balcão, baixando a cabeça. Suspirei, fechando os olhos. Tudo tinha acontecido tão rápido... Fiz um café da manhã simples e tomei meio distraído. O que deveria fazer? Deveria fugir? Pedir uma missão longa e bem longe daqui? Pedir férias e ficar ao lado de Tony? Mas o que isso significaria? Eu não sabia o que fazer. 

Passei o dia tentando me distrair com o que fosse possível. Assisti filmes, conversei com Jarvis, fiz de tudo... Estava anoitecendo quando desci até a oficina de Tony. Sentei em frente à mesa do computador e folheei  seu bloco de notas. Haviam alguns rabiscos ali, planejamentos sobre novas armaduras, e melhoras nas antigas. Até que virei a última página e fiquei surpreso ao ver um desenho de uma armadura para o Capitão América. Tony estava trabalhando em uma armadura para mim??? Por que ele não me disse nada sobre isso? Estranho. 

Abri um caderno, mas pelo estilo de texto, com data em cima e tudo mais, percebi que se tratava de um diário. Não pretendia lê-lo. Eu não faria isso. Até que vi meu nome entre as linhas e não resisti.

"Sugeri a Steve que nos separássemos para terminarmos a missão mais rapidamente. Eu meio que esperava que ele negasse, mas concordou facilmente. Eu não poderia voltar atrás e também não importa. Tanto faz. 

Nos despedimos e fui até um café, passar um tempo. Estava prestes a ir embora quando ouvi o apresentador do jornal falar sobre os Vingadores. Um vídeo amador mostrava Thor e Loki sendo sugados pela Bifrost. Em outro vídeo reconheci Natasha e Hulk. Fiquei furioso.

Pedi a Jarvis que pesquisasse nos arquivos da SHIELD as palavras-chave "Rogers e Stark". Ele logo encontrou: "822: Stark e Rogers". Ao abrir o arquivo, podia-se ler todo o plano e o que ele envolvia. Logo descobri que tudo aquilo não passara de um teatro. Nenhum dos outros quatro passaria por aquela experiência, realmente. O foco era eu e Rogers. A intenção era fazer-nos passar por isso sem que nos opuséssemos.

Estava revoltado, mas depois percebi que era uma boa ideia... De alguma forma Steve está se tornando interessante aos meus olhos. Quero conhecer mais dele mas não quero admitir isso."

Eu não entendia. Ele me manteve nisso mesmo sabendo que era tudo mentira? Porquê???

Folheei mais um pouco e encontrei a última anotação:

"Ansioso para ver a reação de Steve... O que Deus criou nada pode quebrar"

E ao lado, alguns desenhos bobos e uma carinha rindo.

Do que ele estava falando???? Comecei a perder o bom senso. Abri a gaveta para guardar o caderno mas ele enganchou em algo. Abri-a completamente e vi. Não podia ser. Será? Peguei em minhas mãos para ter certeza. Uma caixinha pequena e vermelha. Abri. Era isso mesmo. Duas alianças. Surtei. 

Fechei a gaveta com força e saí a passos largos. O que estava acontecendo?! Desci e peguei minha moto no estacionamento. Estava confuso. Pilotei rápido e inconsequente, como quase nunca havia feito. Quando parei no sinal, olhei para o lado e vi um club. Eu precisava parar ali. 

Estacionei e entrei, pedindo uma bebida tão logo sentei no banco. Eu não estava preparado para isso! Eu nem sabia se queria isso algum dia. Não era eu. Como isso aconteceu tão rápido? Minha cabeça era um ruído, um borrão. Bebi a primeira dose sabendo que não faria efeito algum e apoiei minha cabeça em meus braços por um momento, até que senti uma mão no meu ombro.

  —Tá tudo bem com você? —uma voz masculina sussurrou perto do meu ouvido. 

Eu conhecia aquela voz. Aquele perfume... Virei-me assustado.

  —Bucky?