Acabei de chegar no estacionamento do colégio e é gigante. Bem maior do que a minha antiga escola, tenho que admitir. E o melhor disso é que eu posso passar despercebida no meio de toda essa gente, porque estou sem banho e sem comer nada, o que somado me dá uma grande dose do meu mais novo melhor amigo: mau-humor.
Vou até as escadarias que me levam a uma porta vermelha que deve ter o dobro de mim em altura. Passo esbarrando sem querer em outras pessoas, até que consigo entrar no colégio.
Agora preciso descobrir qual é a minha primeira aula e em que sala seria. Ainda bem que minha mãe pegou meu horário quando fez a matrícula. Abro a mochila e descubro que tenho química agora, só preciso guardar o resto do material no meu armário.
O corredor é muito grande, então perco um pouco de tempo tentando achá-lo, mas finalmente o encontro perto do banheiro masculino. Digito a senha que também recebi junto com a matrícula e sou surpreendida quando um jato de tinta vermelha me acerta bem no rosto, escorrendo pelo resto da roupa e se espatifando no chão, assim que abro o armário.
Não, não, não... Isso é um sonho, por favor, Ceci, esteja sonhando.
Olho para o corredor e encontro praticamente a escola inteira rindo de mim. Estou totalmente coberta de tinta vermelha. Nenhuma boa alma se oferece para me ajudar, eles só ficam parados, cochichando e rindo da minha cara. Estou prestes a começar a chorar, mas não quero que isso seja mais um motivo de piada, então corro para o banheiro mais próximo.
Quem faria uma coisa dessas? Como sabiam a senha do meu armário? Isso não pode estar acontecendo. Abro a torneira e tento tirar um pouco da tinta do meu rosto e do cabelo, mas parece que tudo só fica pior.
- Acho que você não vai conseguir muita coisa esfregando desse jeito aí. - sou surpreendida por um menino de cabelos loiros e olhos azuis, muito bonito, que me estende um pedaço de papel higiênico. - Isso deve ajudar.
- Obrigada. - digo, pegando o papel.
Ele caminha para fora do banheiro, mas antes de sair, ele fala de novo:
- Ah, e mais uma coisinha - ele está com um sorriso bobo no rosto. - Esse é o banheiro masculino.
Sua burra, como você não percebeu que está cercada de mictórios?
- Ai, meu deus, me desculpa, eu nem vi - tento me explicar, mas sem sucesso.
Ele ri.
- Relaxa, a gente se vê por aí, nos banheiros da escola.
Observo ele se retirar do banheiro, que nem uma idiota. Quando saio do transe, percebo que ainda tenho muita tinta para limpar.
•••
Perdi as três primeiras aulas tentando me livrar da tinta. Depois do incidente com o garoto lindo que não sei o nome, decidi que seria melhor trocar de banheiro e foi o que eu fiz.
Não obtive muito sucesso com a roupa e o cabelo, mas o rosto está sem vestígios de tinta. Pelo menos isso.Está na hora do intervalo e quando chego no refeitório, todos os olhos estão sobre mim. E pensar que meu plano para esse primeiro dia era passar despercebida. O universo está conspirando contra mim desde que cheguei nessa cidade. Primeiro o quarto minúsculo, depois os incidentes no café da manhã e no banheiro e, agora, isso.
Depois de pegar minha bandeja, procuro um lugar para sentar, mas parece que ninguém está afim de fazer amizade com a aberração da escola. Até que vejo uma menina me chamando, bem no canto do refeitório.
- Oi! - ela diz, quando me aproximo. - Você tá uma bagunça!
Não diga...
- Pois é, parece que eu não tô com muita sorte hoje.
- Eles costumam fazer essas brincadeiras com os novatos, mas nunca fizeram algo assim, dessa vez eles se superaram - nossa, tá ajudando muito. - Enfim, eu sou a Rose - ela diz estendendo a mão e eu retribuo o gesto.
- Cecília.
- Eu sei. - Rose sorri, enquanto me indica a cadeira ao seu lado.
- Como?
- Todo mundo sabe seu nome agora que você levou o banho de tinta.
Que ótimo! Agora todo mundo lembra de mim, pelos motivos errados. Mais uma mancha para eu tentar limpar, mas algo me diz que essa vai dar ainda mais trabalho.
As aulas se arrastam super devagar, mas para minha felicidade parece que as pessoas já estão se acostumando com a tinta, a maioria parou de rir toda vez que olha para mim.
Quando o último sinal finalmente toca, pego meu material e me dirijo até o estacionamento, mas decido não ir de carro. Não quero ter trabalho para limpar o banco dele também, então procuro o ônibus da escola.
Durante o caminho, a única coisa que consigo pensar é no garoto do banheiro. Mas fui burra o bastante para nem sequer perguntar o nome dele. Agora vou precisar invadir banheiros masculinos e esperar ele aparecer.
Não, chega de momentos embaraçosos. A gente vai acabar se esbarrando nos corredores do colégio mais cedo ou mais tarde.
Alguém dá sinal para descer do ônibus em frente à minha casa, antes de mim. Aproveito a deixa e também me retiro do ônibus. Assim que desço, dou de cara com um par de olhos azuis encostados em uma moto, na calçada da minha nova casa.
- Bú! - o garoto do banheiro diz rindo.
Estou confusa. Ele mora aqui perto também? Diz que sim, por favor.
- Oi! - digo, sorrindo.
- Derek! - escuto a voz de Olivia, bem atrás de mim. Ela vem correndo e pula nos braços do garoto, que gira ela no ar.
O quê? Só pode ser brincadeira. O garoto do banheiro é meu irmão-postiço?! Alguém me dá um tiro, por favor.
Olivia está rindo feito uma maluca, acabou de perceber que estou coberta de tinta vermelha.
- Ceci parece um tomate! Ceci parece um tomate! - ela continua rindo.
- Então, gostou do meu presente de boas-vindas? - Derek me pergunta.
- Hã? Que presente? - pergunto, sem entender. Está tudo uma bagunça na minha cabeça.
Ele não responde, apenas me olha de cima a baixo com um sorrisinho irônico no rosto. O garoto fofo do banheiro acabou de se transformar na pessoa mais odiosa da face da terra.
- Espera aí. - digo, tentando processar o que acabou de acontecer. - Foi você que fez isso?! Seu... Seu... Doente! Qual seu problema, garoto?! - agora eu estou gritando histericamente.
- Aham - ele diz, ainda com o sorriso no rosto. - Achei que ia ser bom para você começar a se acostumar com a sua nova vida aqui.
Ele entra na casa com Olivia ainda em seu colo e eu fico parada na calçada igual a uma retardada. Estou prestes a explodir, mas antes de isso acontecer, eu vou fazer questão de que Derek exploda junto comigo.
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Bela Queda
Teen FictionFora o divórcio de seus pais, Cecília nunca teve motivos para reclamar de sua vida. Até que sua mãe decide se casar novamente e todos os detalhes perfeitos da vida de Ceci parecem afundar em um oceano, cuja profundidade não tem fim. Uma casa superl...