Capítulo 9

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Minha respiração está ofegante. Tento parar a briga mas não consigo. Ninguém em volta parece se importar em me ajudar, apenas observam a confusão. Agora, Tyler está caído no chão, e Derek está em cima dele, acertando-o com socos, sem parar.

- O que você deu para ela?! - Derek continua gritando isso o tempo todo. - Responde!

A expressão de Derek me dá medo. Medo de que ele possa machucar ainda mais Tyler.

- Derek! Sai de cima dele! - grito, mas ele me acerta no rosto com força e caio no chão.

Quando isso acontece, parece que o ambiente congela. A briga para e todos olham para mim. Uma dor excruciante queima o lado esquerdo de meu rosto, enquanto tento me levantar do chão. Rose aparece do meu lado, confusa e preocupada.

- Cecília... - Derek diz tentando me ajudar a levantar, mas recuso o gesto. O rosto dele está sangrando no nariz e na sobrancelha direita. Já Tyler mal consegue sair do chão.

- Fica longe de mim! - grito, empurrando suas mãos e me levantando sozinha.

Sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto, mas não sei se é a dor ou o medo do que acabei de ver. Da pessoa que eu não sabia que existia. E tudo isso é minha culpa.

Empurro todos à minha frente com o intuito de sair da festa. Rose me segue.

- Ceci! Me espera! - ela grita quando já estamos do lado de fora da casa.

- Rose, por favor... Preciso ficar sozinha.

- Como você vai para casa? - ela pergunta preocupada. - Eu te dou uma carona, não dá para você andar até lá nesse estado e a essa hora.

Derek sai da festa correndo atrás de mim.

- Cecília! - ele grita, e eu acelero o passo. - Cecília!

Rose corre atrás de mim e me puxa em direção ao carro dela, mas Derek vem logo atrás.

Assim que entro no carro, fecho a porta rapidamente, antes que Derek consiga me impedir. Ele bate no vidro do carro com ódio. Sinto como se ele pudesse quebrá-lo.

- Abre essa porta! - ele grita, com o mesmo olhar com que me mandou entrar na escola, lá no estacionamento.

Dessa vez, decido não obedecer.

- Acelera, Rose. - digo.

Ela me obedece. Derek tenta correr atrás do carro, sem sucesso.

Olho para trás pela última vez e vejo ele chutando a calota de um carro, sem parar. Me sinto aliviada por um instante, mas as lágrimas continuam a escorrer. Eu quero entender o que está acontecendo. O problema é que ele não deixa.

- Ceci... Meu Deus! - Rose começa, e eu já sei o que está por vir: perguntas e mais perguntas.

- Tem algumas coisas que eu não te contei sobre mim e minha família. - digo, arrependida.

- É, já percebi que você anda escondendo algumas coisas.

- Bom, vou começar do início. - falo, tomando fôlego. - Derek é meu irmão-postiço. Minha mãe se casou com o pai dele há mais ou menos um mês e, desde então, minha vida virou um inferno.

Rose me dirige um olhar surpreso.

- Nossa! Eu achei que você ia me dizer que já teve um caso com ele ou coisa do tipo. Para falar a verdade, o que ele fez hoje na festa, definitivamente, não é coisa que um irmão faça. Tá mais para namorado ciumento.

- Eu também não sei porque ele age assim, acredite. Em casa ele mal fala comigo e aqui ele faz coisas desse tipo. Não consigo entender. - desabafo.

Conto sobre a briga no colégio e as discussões que tivemos em casa, até que chegamos.

- Nossa, é muita coisa para digerir.

- Eu sei. Bom, já vou indo. - me despeço.

- Se precisar de mim é só ligar. Ah, e vê se tranca a porta do seu quarto e fica longe do Derek, entendeu?

Aceno positivamente com a cabeça e desço do carro. A casa está toda apagada, provavelmente já estão todos dormindo.

Procuro as chaves no vaso de plantas ao lado da porta, mas não as encontro. A porta já está aberta. Estranho.

Entro fazendo silêncio. A chave está do lado de dentro, então tranco a porta.

Quando me viro sou empurrada contra a parede e minha boca é tampada.

- Não grita, por favor. - Derek diz, me pegando de surpresa. Consigo sentir o cheiro de bebida saindo de sua boca. - Você precisa me ouvir.

Ele tira as mãos da minha boca, demorando um pouco mais com o polegar em meu lábio inferior. Ele os encara de forma indecifrável mas logo desvia o olhar. A fincada no estômago aparece de novo.

- Não. Você é que precisa me ouvir. - digo baixo. - Eu quero te entender, quero saber o porquê das coisas, mas toda vez que eu tento me aproximar você me trata como um nada.

- Cecília...

- Não! Deixa eu terminar. - respiro fundo. - Você vai me contar tudo agora. E dessa vez sem desculpas, sem mentiras! Começando com o motivo de você ter avançado no Tyler daquele jeito.

- Escuta, o Tyler é um babaca. Eu conheço ele desde a quinta série, e nós éramos amigos, mas o tempo passou e ele mudou. Ele não é boa companhia, Ceci. - ele para um pouco, como se estivesse pensando no que dizer e então, continua. - A primeira vez que briguei com ele foi porque eu peguei ele usando drogas. Ele já tem um temperamento difícil, mas quando está sob o efeito de alguma substância é ainda pior. Eu tentava ajudar, mas ele só me afastava. Chegou uma hora em que não dava mais para mim.

- Então é isso? Você desistiu do seu amigo? - pergunto, sem acreditar.

- Não! Eu tentei de tudo, Cecília! Mas nada funcionava. Então, tudo piorou. Ele começou a drogar outras pessoas, sem que elas percebessem. A maioria eram meninas. Depois que ele fazia isso você já pode imaginar o resto. Quando eu descobri, nós brigamos feio. Os dois fomos parar no hospital e acabou. Nunca mais nos falamos. - ele termina, me deixando sem saber o que pensar.

É difícil acreditar que o Tyler faria uma coisa dessas.

- Foi por isso que eu fiz o que fiz hoje. - ele continua. - Eu queria proteger você.

Fico com raiva de novo. Eu quero acreditar nas coisas que ele diz, mas não consigo.

- Me proteger? - pergunto irritada. - Como se você ligasse para o que acontece comigo, Derek! Você ainda estava tentando me proteger quando me acertou no rosto? Ou quando me disse todas aquelas mentiras e desculpas? Isso é tudo sua culpa!

Estamos os dois em pé, quase colados. Minha mão está pousada em seu peito de forma ameaçadora e eu consigo sentir o coração dele bater, acelerado.

- Por acaso passou pela sua cabeça, que eu estava com o Tyler porque eu queria estar com ele? - continuo, com um nó na garganta. - Ou que eu não preciso que você nem ninguém me proteja?

Ele não me responde. O olhar de ódio toma conta de seu rosto, e eu fico com medo de que ele possa me atacar de novo. Mas ele não o faz. Ele apenas me dá as costas e sobe as escadas correndo, me deixando sozinha.

Decido parar de me segurar e choro, me sentando no sofá. Como é possível alguém me fazer sentir as mais diferentes sensações ao mesmo tempo. Estou triste, com raiva, confusa e completamente arrasada.

Bela QuedaOnde histórias criam vida. Descubra agora