Capítulo 4

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Estou totalmente dividida. Não sei se pego o primeiro vôo para o outro lado do mundo ou se crio coragem e entro dentro de casa.

Mesmo que eu me esforce, tudo dá errado. É sempre assim. Eu me esforcei para tentar fazer minha mãe não vir para cá e falhei. Agora eu estou me esforçando para conviver com minha nova família, mas as 24h que eu passei na presença deles já acabaram com as minhas esperanças.

Respiro fundo e subo os degraus da entrada. Não é tão difícil, assim, vai. Eu só vou precisar ficar na minha, sem dar ideia para o bando de selvagens lá dentro e tudo vai ficar bem.

- Filha! - minha mãe grita assustada assim que entro em casa. Por um momento eu esqueci que estava coberta de tinta.

- Meu Deus! O que houve? Que tinta é essa? - Jonathan pergunta num tom curioso.

Olho para Derek, que está sentado em uma poltrona bem na minha frente, assistindo televisão, com um sorrisinho extremamente irritante no rosto. Não sei o que vi nesse garoto quando esbarrei com ele na escola.

- Eu não sei, Jon. Por que você não pergunta para o seu filho? - digo, com raiva. E subo as escadas correndo em direção ao banheiro.

A bagunça é a mesma de hoje de manhã. Dessa vez, me certifico de que estou sozinha no banheiro.

Nenhuma Olivia atrás das cortinas, nem em baixo da pia. Tudo em ordem.

Tranco a porta e entro no chuveiro. A água quente bate em minha pele, a deixando um pouco vermelha. Observo o resto da tinta escorrer pelo ralo e não posso deixar de me perguntar o porquê. Por que ele me envergonharia em frente a escola inteira? Ele nem me conhece, nem quis conhecer. E ainda teve a cara de pau de fingir ser meu amiguinho no banheiro masculino. Que ódio.

Uma batida na porta interrompe meus pensamentos.

- Anda logo, Ceci! - escuto Edward do outro lado.

Como eles conseguem ser tão impacientes?

Desligo o chuveiro, me enrolo na minha toalha e abro a porta do banheiro, dando de cara com uma fila. Derek, Edward e Violet.

- Até que enfim! - o mais velho diz, me empurrando.

- Ai! - reclamo. - Se você não tivesse me sujado de tinta quem sabe eu não teria sido mais rápida?

Ele bate a porta na minha cara, sem dizer uma palavra.

- Ah! Então a surpresa dele deu certo! - Ed ri.

- Você sabia?! - grito, puxando ele pela gola da blusa. - Seu pestinha! Vocês são tudo farinha do mesmo saco! Eu devia te dar uma porrada, garoto.

Edward engole em seco. Parece que não é tão difícil fazer esse aqui ficar com medo, apesar de estar claro que eu não mato nem mosca.

- Calma, Ceci! - Violet intervém. - Deixa ele, não vale a pena.

Solto a gola dele e Derek sai do banheiro na mesma hora. Edward corre para dentro.

- Tá precisando se acalmar, viu? Quem sabe eu não tenho um presentinho para isso também... - ele diz num tom sarcástico, mexendo no meu cabelo.

- Vê se me deixa em paz. - Digo, empurrando a mão dele e entrando em meu quarto.

•••

- Crianças! Venham jantar! - ouço minha mãe gritando do andar de baixo, interrompendo minha leitura.

Estou trancada no quarto desde que saí do banho e não estou nem um pouco afim de sair daqui, mas também não posso negar que estou morrendo de fome. Decido ir jantar e acabar logo com isso.

Quando chego na sala de estar já estão todos na mesa. Preparo meu prato e sento para comer. Os meninos conversam sem parar sobre futebol e Olivia não para de brincar com a comida. Alguém precisa ensinar boas maneiras para essa criança.

Observo o ambiente ao meu redor. A casa é bonita apesar da bagunça. A sala de estar e de jantar ficam no mesmo ambiente que é bem espaçoso, com quadros na parede e móveis de madeira.

Sou a primeira a terminar, então me levanto da mesa o quanto antes, mas minha mãe me interrompe.

- Ceci, nós decidimos dividir as tarefas de casa, por dia da semana. Você e o Derek vão lavar os pratos toda segunda e quinta, começando hoje. - ela diz, com uma expressão alegre.

- O que?! Eu e ele?! - digo, frustrada.

- Eu e ela?! - Derek repete.

- Sim, juntos. Nós fizemos assim para ver se vocês começam a conversar mais e a se conhecer. - Jon diz, como quem acabou de criar a solução para a fome no mundo. - Violet e Edward também vão lavar juntos.

Ouço os dois reclamarem baixinho. Pelo visto não sou a única tendo problemas em me socializar.

Assim que todos terminam, retiro os pratos acompanhada por Derek. Está bem claro que ele também se incomoda com a minha presença. Começamos a lavá-los sem nos dirigir um ao outro. Mas Derek decide quebrar o gelo:

- Então, como foi seu primeiro dia de aula? - ele diz com o sorriso de costume.

Dirijo a ele um olhar desagradável. Acho que não preciso responder isso.

- Por que fez aquilo? - pergunto com um nó na garganta, e continuo concentrada nos pratos.

- Eu já disse, foi para você já ir se acostumando. - ele responde, mas acho que não entendeu a pergunta.

- Não é isso. Eu já entendi que você gosta de implicar com as pessoas sem motivo. - agora desvio o olhar dos pratos e olho no fundo dos olhos de Derek. - O que eu quero saber é o porquê de você ter fingido se preocupar comigo e ter me ajudado, no banheiro do colégio.

Ele demora para responder.

- Não sei. - finalmente, diz. - Para ser sincero, eu não estava te esperando no banheiro. Foi uma surpresa encontrar você lá. Você piorou sua situação, sabia? Entrando no banheiro errado.

Ele ri e eu também.

- Pois é, devia ter um pouco de tinta no meu olho.

- A desculpa mais esfarrapada que eu já ouvi. Eu sei que você entrou lá de propósito, só para dar uma espiada nos meninos...

- Cala a boca. - digo rindo, espirrando água nele, que espirra de volta em mim.

Quando terminamos de lavar os pratos, estamos os dois encharcados. Olho para o relógio e percebo que já é quase meia-noite. A casa está quieta, provavelmente o resto do pessoal já foi dormir.

A água faz com que minha regata branca fique transparente e colada em meu corpo.

Pego Derek olhando para o decote da minha blusa, mas quando ele percebe que eu vi, ele desvia o olhar.

- Você devia... É... - ele tenta dizer algo, apontando para a minha blusa. Percebo que ele fica sem graça, e tento fugir da situação constrangedora.

- É, eu já vou dormir. - digo, me retirando da cozinha.

Estou corando. Que droga.

Antes de chegar às escadas, escuto Derek me chamar. Ele vem em minha direção.

- Que foi? - pergunto, bocejando. Nem percebi que estava tão cansada.

- Se você me vir amanhã na escola - estamos a uns 20 centímetros de distância -, finge que não me conhece - ele termina e passa esbarrando em mim em direção as escadas.

Não sei como ainda estou surpresa com isso.

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