Capítulo 6

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O vento frio bagunça meus cabelos negros. O cheiro do perfume de Derek invade meu nariz, é forte e um pouco adocicado. É bom. Meu coração está acelerado. Não sei se é por causa da velocidade da moto ou pela vergonha que acabei de passar. Um pouco dos dois.

A brisa diminui quando Derek faz a curva da entrada do estacionamento. Chegamos.

- Pronto. - ele diz tirando o capacete, enquanto eu desço da moto.

- Pronto? - pergunto, incrédula. - Você me deve muito mais que isso, Derek! Que cena foi aquela?

- Você não queria carona? Foi isso que eu fiz.

- E o papo de "fingir que não me conhece" e "chacota da escola"?

Ele vai em direção à entrada do colégio, sem me responder. É sério isso? Ele só vai me ignorar agora?

- Me responde! - grito, puxando ele pelo braço.

- O papo ainda tá de pé! - ele diz, me segurando pelo pulso. - Então, para com essa palhaçada e vê se não fala comigo mais.

Ele para de falar mas não solta meu pulso, ao invés disso, ele continua apertando com mais força.

- Derek! Me solta! - digo, mas dessa vez é como um sussurro.

Olho para ele, mas seu foco não está em mim, ele observa um carro entrar no colégio. Reconheço o garoto no volante, é Tyler.

- Vai para dentro. - Derek soltou meu pulso e agora me segura pelos ombros.

- O quê? Por quê?

- Dá para não fazer perguntas uma vez na vida? - ele diz irritado. - Anda logo.

O jeito como ele me olha me dá medo, mas também me dá uma sensação no estômago que eu nunca senti antes.

Sem perguntar mais nada e sem olhar para trás eu entro no colégio, mas tenho certeza de que não vou conseguir prestar atenção em aula nenhuma.

•••

O sinal que indica a hora do intervalo toca, fazendo com que todos se levantem e se encaminhem para o refeitório de forma bagunçada. Eu e Rose combinamos de nos encontrar lá. Temos poucas aulas em comum, então quase não temos tempo para conversar aqui na escola, e já que ela parece ser minha única amiga, cada minuto é precioso.

Quando chego à cantina, Rose está me esperando na porta.

- Demorou, viu? - ela diz, parecendo impaciente.

- Foi mal, mas tinha muita gente no corredor.

- E daí? Eu saio empurrando todo mundo mesmo, quero nem saber. - ela fala, me fazendo rir.

Pegamos nossas bandejas e vamos até uma das mesas vazias. Não consigo deixar de procurar por Derek, mas ele não está em lugar algum.

- Nossa, ficou sabendo da última? - Rose pergunta, me tirando do devaneio.

- Não, o que houve? - pergunto curiosa.

- Teve briga hoje lá na entrada.

Assim que ela diz a palavra briga, eu me lembro da expressão de Derek, quando me mandou entrar no colégio. Temo ouvir o resto da história, mas Rose continua mesmo assim, confirmando minhas dúvidas.

- Foi entre o Derek e o Tyler - ela diz. - Sempre existiu uma rixa entre os dois, já tava demorando para eles se estranharem de novo.

- Como assim "de novo"? E que rixa é essa? - não consigo esconder minha curiosidade.

- Ai, as vezes eu esqueço que você é nova. Enfim, não é a primeira vez que eles brigam, mas ninguém sabe ao certo o motivo. Eles costumavam ser amigos e, de repente, o clima ficou super estranho.

- Entendi... - não quero que ela perceba que estou nervosa, até então eu não sei quem Derek e Tyler são. - Mas ninguém se machucou, né?

- Ih, menina, até parece! Com Tyler e Derek na mesma briga, fiquei até surpresa por ninguém ter ido parar no hospital.

Levanto da mesa por impulso. Preciso saber onde eles estão.

- Ceci, você tá bem? Tá passando mal?

Percebo que estou recebendo alguns olhares confusos.

- É, não to me sentindo muito bem... - digo, tentando parecer doente. - Acho que eu vou dar um pulo na enfermaria.

- Eu vou com você. - ela se oferece, preocupada.

- Não! Não precisa. Juro.

Saio do refeitório antes que ela possa me seguir. Espero que eles ainda estejam na enfermaria.

Corro pelos corredores, agora vazios. É incrível como tantas pessoas conseguem estar em um lugar e, de repente, desaparecer. Mas é melhor assim, ninguém para atrapalhar minha passagem.

Quando chego à enfermaria, estou respirando com dificuldade. Logo sou atendida por uma das senhoras que trabalham aqui como enfermeiras.

- Precisa de alguma ajuda? - ela diz, nem um pouco simpática. - Se veio pegar camisinha, pode ir embora, nosso estoque acabou.

Pegar camisinha? Que tipo de menina ela acha que eu sou? Aliás, que tipo de escola distribui camisinhas?

- Na verdade, eu estou procurando por alguém. - digo, me segurando para não ser grossa.

- Se for pelo Derek, pode entrar na fila, ali. - ela diz, apontando para um monte de meninas que parecem estar esperando por uma consulta.

Inacreditável. Quando eu acho que ele não pode piorar, descubro que ele tem um exército de vacas famintas atrás dele. Quer dizer, eu sei que ele pode ser bonitinho quando quer, mas isso é um pouco demais.

- Acho melhor eu deixar para outra hora, tô sem paciência para esperar. - digo à enfermeira, um pouco irritada. Afinal, eu não corri do refeitório até aqui para ter que esperar em uma fila. Sinceramente, isso é surreal.

Ao voltar para o corredor me deparo com um par de olhos castanhos escuros peculiares. Um deles está roxo. Fora isso, ele parece estar bem.

- Tyler. - digo, surpresa.

- Cecília.

- O que aconteceu?

- Tenho quase certeza de que você sabe o que aconteceu. - ele diz, num tom óbvio.

- Um pouco. Mas não sei o porquê.

- Por incrível que pareça, eu também não. - ele responde, com a voz cansada. - Eu e Derek não nos damos bem já faz um tempo, mas essa me pegou de surpresa. Outra coisa que me pegou de surpresa foi o jeito como ele falou com você hoje cedo. Tenho quase certeza de que você é o motivo da briga, mas não sei porquê.

Eu? Era só o que me faltava. Por que o Derek iria arrumar briga por minha causa, em primeiro lugar?

- Não sei do que você tá falando, eu mal conheço ele. - disfarço.

- Não parecia isso quando você subiu na moto dele hoje de manhã.

Estou encurralada. Não consigo pensar em nenhuma desculpa para sair dessa situação. Estou prestes a contar a verdade quando o sinal toca. Respiro aliviada.

- Tenho que ir. - digo, acelerando o passo.

Posso escutar Tyler gritando por mim, mas continuo andando, sem olhar para trás.

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