Capítulo 11

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- Onde você estava? - Jon soa irritado. - E que merda de machucados são esses? - ele deve estar realmente bravo. É a primeira vez que ouço ele falar algum palavrão.

Estou do lado de fora do quarto de Derek, onde ele conversa com seu pai, e parece que as coisas não estão indo muito bem. É claro que isso não estaria acontecendo se Derek não tivesse aparecido com o rosto cheio de hematomas de novo.

Eles começam a falar mais baixo, até que não consigo escutar mais nada.

- Ouvindo atrás da porta, é? - Edward me dá um susto.

- Que susto, garoto! - respiro fundo. Como vou explicar isso? - Não tem dever de casa para fazer não? - tento me desvencilhar da situação.

Ele me olha desconfiado.

- Nem vem mudar de assunto. - diz.

Jonathan abre a porta assim que Edward termina de falar. Ele ainda está nervoso e passa por nós sem nem perceber.

- Uou! - Edward diz quando vê o rosto de Derek.

- Nem queira ver o outro cara. - Derek brinca.

- Dá para vocês dois pararem de agir como se isso fosse normal? - digo, indignada. - Você poderia ter se machucado de verdade.

- E por que você liga? - Derek pergunta, esbarrando em mim em direção ao andar de baixo.

- Como assim? Você sabe porquê. - digo, seguindo ele escada a baixo.

Olho para ele confusa e ele retribui o mesmo olhar.

Ah, não. Era só o que me faltava. Ele esqueceu o que aconteceu ontem?

- O que você lembra? - pergunto.

- Lembro de estar na festa e brigar com o Tyler, e de acordar no banheiro aqui de casa, com um curativo no rosto e meu edredom. - ele fala, se sentando em sua poltrona e ligando a televisão.

Reparo nos pontos que ele recebeu hoje no posto de saúde. Pego o controle da TV e a desligo.

- Mentiroso. - digo, convencida.

- O quê?

- Você tá mentindo. Você só foi no posto porque eu falei que você precisava ir. Se você tivesse esquecido mesmo, você não iria.

Ele não responde, o que me faz ter certeza do que disse.

- Por que você mentiria? - pergunto.

- Porque o que aconteceu ontem, no banheiro, foi errado. - ele diz, me deixando sem entender.

- Errado? Eu fiz o seu curativo! Como isso pode ser errado? - pergunto, incrédula. - Você é o irmão mais problemático do m...

- Postiço. - ele me interrompe. - Irmão-postiço.

- Mesma coisa. - falo irritada.

- Não. Não é a mesma coisa. - ele levanta da poltrona, e chega mais perto. - E é por isso que eu não quero que você fique se preocupando comigo, ou querendo fazer meu curativo. Eu não sou seu irmão. Não quero ser.

Ele sobe as escadas rapidamente e volta para o seu quarto. Posso escutar a porta bater.

Não estou entendendo nada. Eu nunca agi como se ele fosse meu irmão. É ele que vive com esse papinho sobre querer me proteger, não eu. E o motivo de eu ter feito o curativo dele não tem relação nenhuma com o fato de ele ser meu irmão-postiço. Meu Deus! Nem eu sei porque eu me importo tanto com ele!

Pego uma almofada do sofá e abafo um grito.

- Cecília? - minha mãe aparece na sala de estar. - Está tudo bem, filha?

- Sim. - digo, mas ela continua a me encarar duvidosa. - Ok, talvez não, mas vai ficar.

Dou um beijo em sua testa e volto ao meu quarto.

•••

No jantar, o clima fica parcialmente quieto. De vez em quando alguém fala sobre o noticiário ou o jogo de futebol, mas parece que estão todos com medo de falar sobre Derek. Jonathan ainda está com a cara estressada de mais cedo.

- Crianças, depois que comerem, façam as malas, por favor. - minha mãe diz, de repente.

- Malas? - pergunto confusa, parando de comer. - A gente vai viajar?

- Ah, me esqueci de te avisar, filha. O Jonathan vai ter um compromisso em Nova York. Vamos voltar na quarta.

- Mas, mãe, eu não posso ir. Tenho um trabalho amanhã na escola.

- Eu sei, meu bem. - ela tenta me explicar. - É por isso que você e o Derek vão ficar.

- O quê? - Derek entra na conversa. - Mas eu nunca disse que eu tinha trabalho nenhum.

- Depois da sua briguinha infantil, eu achei que seria um bom castigo te deixar fora da viagem. - Jonathan diz, satisfeito.

- Que ótimo. - Derek responde, irritado, olhando para mim. - Vou ter que aturar a Miss Tédio sozinho.

- Com certeza não é pior que aturar o Sr. Desagradável. - rebato.

- Por que vocês não começam agora, lavando os pratos? - minha mãe aparece com a pior ideia do mundo.

- Nem vem, hoje é domingo! Nossos dias são segunda e quinta. - digo, tentando fazê-la mudar de ideia.

- Eu sei, eu fiz as regras, o que significa que eu posso mudá-las. - ela rebate, me deixando sei escolha. - Agora parem de reclamar.

Levanto da mesa com a cara emburrada e começo a recolher os pratos juntamente com Derek. O resto do pessoal se retira e vai arrumar as malas.

- Acho que você pode continuar sozinha a partir daqui. - Derek diz, provocando.

- Nem começa. - digo, sem paciência.

- Ih, tá de mau-humor.

- Não é mau-humor. É raiva. - digo, deixando os pratos de lado e olhando bem nos olhos dele. - Como você consegue agir assim, depois do que você me disse de manhã?

Ele desvia o olhar e continua lavando os pratos. Me deixando ainda com mais raiva.

Desligo a torneira obrigando ele a olhar para mim.

- Eu não entendo! Se você não quer ser meu irmão, então por que você não para de falar comigo de uma vez? Por que você não me deixa em paz? - quando percebo, estou com minhas mãos em seu peito, de forma acusadora, e minha respiração está ofegante.

Nossos corpos estão se esbarrando, e sinto um calor subir pela minha espinha. Derek coloca uma de suas mãos em minha cintura. A outra vai até meu rosto e toca meu lábio inferior.

- Eu não consigo. - ele sussurra.

Ele puxa meu rosto para o seu e nossos lábios se tocam. Por um momento, é como se estivéssemos sozinhos no mundo todo, e a sensação é maravilhosa. Levo meus dedos até seu cabelo, com o intuito de continuar o beijo, mas ele me impede e me tira do transe.

- Isso... - ele diz, tentando respirar. - Eu... Já tá tarde.

Concordo com um aceno de cabeça e observo ele sair rapidamente da cozinha em direção às escadas.

Eu tento respirar, mas parece que não há ar suficiente no local. Ainda não consegui processar o que acabou de acontecer. Eu acabei de beijar meu irmão-postiço.

Definitivamente, vamos precisar fingir que isso nunca aconteceu. Só não tenho certeza de que eu quero esquecer.

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