Aqui estou eu. Deitada em minha cama, sem reação. O despertador já tocou e sei que preciso levantar. Mas não consigo, não quero. Depois do que aconteceu ontem a noite, não tenho coragem de encarar Derek. As coisas que ele disse... Ele não poderia estar falando sério. Ele me odeia. E eu odeio ele. É assim que as coisas são e é assim que elas devem permanecer.
Respiro fundo e tomo coragem para levantar da cama. Seja como for, eu ainda preciso continuar a minha vida. Vou até o banheiro devagar, pois minhas costas ainda doem um pouco. Quando entro, dou de cara com ele. Derek.
- Ok, isso tem que parar de acontecer. Você tem que trancar a porta. - digo.
Derek me encara por alguns segundos com sua escova de dentes na boca, e depois coloca seu sorrisinho no rosto.
- Por que você não faz isso agora? De preferência com você aqui dentro - seu tom malicioso é óbvio e me deixa sem graça.
Dou meia-volta para sair do banheiro, mas ele fala novamente:
- Espera, eu estava brincando, esqueci que seu senso de humor é fraco - provoca, depois de cuspir. - Mas não é como se eu estivesse pelado aqui ou coisa do tipo. Tô só escovando os dentes. Já vou sair. - ele termina enxugando a boca com a toalha de rosto.
Tranco a porta atrás de mim. A gente precisa conversar de um jeito ou de outro. É melhor que seja agora.
Vou até a pia e me coloco ao seu lado. Pego a minha escova e começo a escovar meus dentes, pensando no que vou dizer. Derek continua parado, me observando pelo espelho. Como eu queria ler pensamentos agora.
Quando termino, ele diz rindo:
- Vai dizer algo ou me trancou aqui só porque tá se sentindo sozinha?
- Muito engraçado. - falo, sem mudar minha expressão mal-humorada. - Você é que deveria dizer algo, mas eu já percebi que isso não vai acontecer, então eu começo. - estamos nos encarando pelo espelho e Derek me dá sinal para continuar. - O que aconteceu ontem não pode acontecer de novo. - falo finalmente. - E eu não estou falando apenas de você invadindo meu quarto, eu estou falando de você enchendo a cara.
Ele leva um tempo para responder, pensativo. Mas quando ele finalmente abre a boca, as palavras saem como cacos de vidro, me cortando toda:
- Tem razão, eu preciso parar de encher a cara. Isso só tá me trazendo problemas. Acredite, eu sei que entrar em seu quarto foi um erro, se depender de mim não vai acontecer de novo. - ele vomita as palavras na minha cara, de uma vez só e ainda continua - E sobre as coisas que eu disse ontem, não dá ideia. Provavelmente foi só o efeito do álcool.
Ele sai do banheiro pisando firme, aparentemente irritado. Eu sei que era isso que eu queria ouvir, mas quando eu imaginei essas mesmas palavras sendo ditas, eu não pensei que elas me afetariam tanto.
Troco de roupa e desço para tomar meu café. Estou atrasada, para variar. Todos já saíram. Como um pouco de cereal rapidamente e pego as chaves de meu carro, até que me lembro: não tenho mais carro. Ele ficou destruído depois do acidente. O que eu vou fazer agora? Caminho de um lado para o outro tentando pensar, mas o barulho da moto de Derek sendo ligada me faz parar. Parece que nem todo mundo saiu.
Caminho até a janela e espio por entre as cortinas. Derek está prestes a subir na moto. Não. Me recuso a pedir carona para ele. O jeito vai ser ir a pé.
Pego minhas coisas e saio de casa, tentando passar despercebida, enquanto Derek tira a moto da garagem, mas fracasso.
- Eu não acho que você deveria ir andando, ainda tá se recuperando do acidente - Derek diz, por debaixo do capacete.
- E eu não acho que eu deveria faltar aula de novo, então só me resta isso.
Derek solta uma risada meio forçada.
- Ceci, esse foi meu jeito de te oferecer carona, não me faça pedir por favor. Anda logo. - ele termina apontando para o espaço no banco atrás dele.
Fico um pouco apreensiva, e também sem entender. A gente acabou de brigar no banheiro e aqui está ele, me oferecendo carona. Sinceramente, não dá para entender. Respiro fundo, em uma espécie de concordância e subo na moto de Derek.
Me acomodo e coloco minhas mãos em seu ombro, mas Derek as tira rapidamente, me fazendo envolvê-lo pela cintura.
- Eu não quero que você caia da minha moto só porque tava com medo de me segurar pela cintura - provoca.
Reviro os olhos automaticamente. Sempre querendo me deixar desconfortável, não sei como não me acostumei ainda.
- E eu não quero chegar atrasada, então vai logo, por favor.
Mal termino de falar e Derek acelera a moto bruscamente, fazendo eu me segurar mais forte nele. Tudo o que separa a gente agora são pedaços de pano. Uma súbita vontade de arrancá-los de repente toma conta de mim e me repreendo na hora. O que eu estou pensando?
Passo o resto do caminho, que parece ainda mais longo, evitando qualquer pensamento que envolva Derek, o que não é fácil, porque ele insiste em ficar se ajeitando sobre o banco da moto, fazendo nossos corpos se esbarrarem a cada movimento. Não sei se faz de propósito, mas já estava me dando nos nervos quando finalmente nós chegamos na escola.
- Obrigada pela carona. - agradeço, descendo da moto e me dirigindo à entrada da escola.
Caminho até a escadaria principal me segurando ao máximo para não olhar para trás, mas quando piso no primeiro degrau minhas tentativas vão por água abaixo. Viro a cabeça rapidamente só para encontrar Derek ainda debruçado sobre sua moto. Mas não é isso que me deixa chocada. O que me faz prender a respiração é o cigarro preso entre os lábios dele.
- Só pode ser brincadeira - penso em voz alta.
Sem pensar duas vezes dou meia-volta e começo a caminhar em sua direção, decidida a arrancar o maço de cigarros de sua mão, mas sou impedida. Um moreno alto bloqueia minha passagem. De novo não, penso.
- Você voltou.- Tyler diz, com um sorriso enorme em seu rosto.
Não consigo retribuir sua expressão contagiante.
- Parece que sim... - digo enquanto continuo a caminhar para longe dele, mas Tyler me segue.
Ele segura meu braço e me faz parar novamente. Continuo com minha visão focada em Derek, que está distraído expirando fumaça.
- Você tá bem? Eu fiquei sabendo sobre o acidente.
Respiro fundo. Eu já estou cansada de falar sobre o acidente e toda vez responder a mesma coisa. Reviro os olhos, mas Tyler nem percebe.
- Eu já tô melhor sim, obrigada por perguntar- desvio meu olhar para ele.- Você também parece melhor, da última vez que te vi seu rosto estava completamente machucado. E eu podia jurar que você estava morrendo de raiva de mim.
Ele solta uma risada abafada.
- Pois é... Sobre isso, pode esquecer, tá bem? Eu interpretei tudo errado, foi Derek quem me bateu e não você. Seja lá o que vocês dois têm, eu não quero me intrometer.
- Nós não temos nada, acredite.- digo, tentando me fazer acreditar em minhas próprias palavras.
Um sorriso esperançoso surge no rosto de Tyler.
- Bom, então você não se importaria em sair comigo qualquer dia desses, né?
Seu pedido me pega de surpresa e fico sem resposta. Lembro de tudo o que Derek me contou sobre Tyler e seu histórico com drogas e fico apreensiva.
- E então? - ele pergunta, ansioso.
Olho para Derek mais uma vez, com a dúvida apertando meu peito. Mas ela se transforma em ódio no momento em que meus olhos encontram os cabelos castanhos de uma menina. A mesma que ele levou lá para casa no dia do meu acidente. Ela está debruçada sobre a moto de Derek e seus rosto estão a poucos centímetros de distância. Posso sentir meu rosto ficar vermelho de raiva e sem pensar duas vezes dou à Tyler minha resposta:
- Claro.
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Bela Queda
Teen FictionFora o divórcio de seus pais, Cecília nunca teve motivos para reclamar de sua vida. Até que sua mãe decide se casar novamente e todos os detalhes perfeitos da vida de Ceci parecem afundar em um oceano, cuja profundidade não tem fim. Uma casa superl...