Os Encantos de Anúbis

Prólogo

 Namorar um deus não era exatamente a coisa mais fácil do mundo. Acredite em mim, sei do que estou falando. Não devo ser a primeira pessoa a ter tentado tal coisa, certamente. Mas nem por isso existe um manual de como viver uma relação amorosa com um ser imortal e extremamente poderoso. O fato de eu também ter os meus poderes mágicos devia ser um ponto a meu favor, certo? Errado! Parece que eu ser uma espécie de "herdeira" dos faraós egípcios complicava ainda mais as coisas. Resumindo: talvez não tenha sido a melhor ideia do mundo começar a namorar Anúbis. Veja bem, eu gosto muito dele, acho até que o amo. Mas isso tampouco torna as coisas mais fáceis, muito pelo contrário!

Entretanto, apesar de todos me dizendo o tempo todo que não vai dar certo, eu me recuso a acreditar nisso! Qual é, quem eles pensam que eu sou? Uma garotinha medrosa e inocente que vai desistir do amor só porque ele não é o mais "convencional" no mundo? Eles estão é muito enganados. Eu sou Sadie Kane, caramba! Eu e meu irmão colocamos Apófis para dormir, afinal. Eu merecia um pouco mais de confiança. Não importa o quão Anúbis e eu sejamos diferentes. Vamos ficar juntos custe o que custar. Sei que ele também está disposto a encarar várias barras por mim. Então nada mais justo do que eu fazer o mesmo. Aliás, o que eu não faria para ver aquele olhos tão tristes e escuros se tornarem calorosos e entusiasmados? Me deu até vontade de relembrar a noite em que ele oficialmente pediu para eu ser sua namorada...

- Você está linda - ele havia dito logo que cheguei no grande salão do museu. Não se esqueça que ele é um deus egípcio e só pode aparecer em locais dedicados a cultura do Egito. Logo nossos encontros eram sempre muito culturais.

- Fala sério, eu praticamente não existo perto de você - e era a mais pura verdade. Nem que eu me produzisse durante uma semana inteira estaria aos pés do deslumbrante Anúbis. Ele teve a audácia de vestir uma camisa branca por baixo de um smoking preto aberto, ficando ainda mais sexy do que costume. Era injusto ele ser tão bonito.

- Eu discordo. Mas não vou discutir o assunto, sei que me faria ficar aqui por horas até me convencer de que estou errado - falou ele se aproximando e me roubando um beijo, como costumava fazer sempre que queria que eu ficasse quieta - Vamos, temos um jantar nos esperando.

E ai você se pergunta: Como assim um jantar no meio de um museu? Amigos, não se esqueçam que meu acompanhante é o deus da morte. Existem pouquíssimas coisas que ele não consiga providenciar. Logo, não me surpreendi quando ele me levou até uma área reservada do lugar e havia uma mesa preparada para nós. Tempos atrás eu acharia aquele tipo de programa super chato e cafona, mas Anúbis estava conseguindo me fazer começar a gostar deles. Seu jeito romântico estava me conquistando a cada dia. O que me dava calafrios e também me fazia suspirar de amor. Ele era basicamente uma montanha-russa de emoções dentro de mim.

- Queria te dar uma coisa - disse ele depois que já tínhamos comido e tomado algumas taças de vinho. Eu não era acostumada a bebidas alcoólicas então me sentia meio mareada.

- Mais um presente? - questionei um pouco contrariada - Desse jeito terei que arrumar um quarto extra na Casa do Brooklyn para guardar todas as coisas que já me deu - E eu não estava exagerando, ele realmente me dava muitas coisas. Praticamente toda vez que me via.

- Esse é diferente. É especial - respondeu o deus vindo em minha direção e me fazendo perder o fôlego só de olhar para ele. Foi difícil desviar os olhos de seu rosto para ver o que ele me estendia com uma das mãos. E antes de eu abrir a caixinha e visse o anel ele perguntou - Quer ser minha namorada, Sadie Kane?

- Anúbis, eu... Isso é... - e possivelmente pela primeira vez na minha vida eu havia ficado sem saber o que dizer. Queria dizer sim logo de cara, é claro. Mas não sabia se eu realmente poderia namorar um deus. Até um tempo atrás não era permitido. E agora que estávamos em tempos de paz, a última coisa que eu queria era provocar a ira dos deuses.

- Sei o que está pensando - ele interrompeu meus pensamentos como se pudesse lê-los - Acha que não é permitido que um deus tenha um relacionamento amoroso com um mortal. Acontece que algumas coisas mudaram depois da morte de Apófis, Sadie. Os níveis entre o duat e o mundo real estão mais definidos, os deuses estão mais seguros para viajar entre os dois mundos. Não há mais perigo. E além do mais, agora eu posso ficar nessa forma 100% do tempo se eu quiser.

E eu gostava demais daquele forma para simplesmente ignorar essa informação. Então ele podia ser enfim meu?! Não dava pra acreditar. Eu apenas sorri e o beijei. Pela primeira vez eu tomei a iniciativa e não o contrário. Sendo assim ele entendeu o que eu quis dizer na hora. Era um sim. Um grande e empolgado sim! Eu estava apaixonada por ele e queria que ficássemos juntos. Se os nem deuses nem o duat iriam se opor, então o que mais poderia?