Chan se sentia quebrado. Sozinho.
"— Por que você não me contou?
— Porque não tinha o que você pudesse fazer. — respondeu ela, com sinceridade crua.
— Eu podia ter feito sim. Eu devia ter...
— Chan... — ela o interrompeu, e foi até ele, os olhos baixos, as mãos juntas.
— Ele não tem esse poder! — retrucou Chan, a raiva vazando por cada sílaba.
— Tem, Chan. Ele tem. E se não tem de verdade, faz o mundo acreditar que tem. E às vezes, isso é pior.
Silêncio.
— Eu não ligo, Nari. Eu juro por tudo que tenho. Não ligo pro escândalo, pra minha imagem. Eu só quero você.
Nari sorriu. Mas era um sorriso triste. Um sorriso que doía mais do que qualquer palavra.
— É por isso que eu preciso ir embora, Chan.
O chão pareceu se partir sob ele.
— O quê?
— A gente não pode mais continuar.
— Não diz isso. — ele suplicou, a voz falhando.
— Se eu ficar, eles vão acabar com a sua carreira. E eu não vou deixar isso acontecer. Nem com você, e nem com os meninos.
— Nari...
— Eu te amo, Chan. E é por isso que preciso ir."
O estúdio de gravação da JYP parecia sufocar seus pulmões no meio de tantos pensamentos. As conversas ao seu redor pareciam apenas uma trilha sonora de fundo da sua raiva, tristeza, decepção.
Então esse era o sonho que ele sempre teve? Sete anos como trainee, e agora... foi tudo por isso?
Ali, algo em Chan se rompeu. Changbin, Minho e Jisung não conseguiram entender de onde veio, apenas assistiram assustados o líder, sempre uma rocha, o mais seguro e equilibrado, perder totalmente o rumo. Chan derrubou tudo da mesa, jogou papéis para todos os lados, copos de café e garrafas de água, os equipamentos de som por pouco não foram atingidos. Sua respiração vinha em rajadas curtas, como se ele estivesse tentando conter um grito que nascia no fundo do peito. O choro não era contido, era sonoro e dolorido.
Minho foi o primeiro a se levantar. Mesmo com o coração apertado pela cena, caminhou até o líder. Chan chorava com o corpo inteiro — os ombros tremendo, os joelhos quase cedendo, quebrando tudo ao seu alcance. Changbin logo o acompanhou, segurando Chan por trás, impedindo que ele machucasse a si mesmo no processo. Nunca tinham visto aquilo. Nem mesmo nos piores dias de treino, nem nas madrugadas em que Chan ficava sozinho finalizando faixas até o amanhecer.
Aquilo era diferente.
Era o colapso de um homem que tinha segurado o mundo nas costas por tempo demais.
— Hyung! Bang Chan, para com isso! — Changbin praticamente gritou, tentando fazer sua voz audível no meio de toda a confusão. Mas Chan ainda se debatia.
Changbin apertou os braços ao redor do mais velho com mais força, como se quisesse prender aquela dor, impedir que ela escapasse para o mundo. Jisung se ajoelhou ao lado, segurando o rosto do líder com delicadeza, tentando encontrar seus olhos vermelhos e perdidos.
— Hyung, para, por favor... — disse Jisung com a voz embargada, tentando transmitir calma. — A gente está aqui, tá? Você não tá sozinho.
Chan arfava, soluçava, a respiração descompassada cortando o silêncio pesado do estúdio. Aos poucos, seus músculos começaram a ceder, o corpo desacelerando o tremor. Ele apoiou a cabeça no ombro de Changbin, deixando escapar um suspiro que parecia carregar anos de peso.
— Eu só... eu não sei mais o que fazer — murmurou, a voz quase um fio, quebrada pela dor. — Tudo que eu lutei, tudo que eu sonhei... virou isso.
Chan finalmente ergueu o rosto, as lágrimas misturadas ao suor, e um lampejo de esperança surgiu no meio do caos.
— Talvez tenha algo que- — Minho começou, mas foi interrompido pela voz grave de Chan.
— Não. — Os olhos de Chan estavam vermelhos, dilacerados de dor. — Acabou.
Changbin apertou ainda mais os ombros de Chan, que suspirou e levantou, limpando as lágrimas rispidamente.
— Ou é ela, ou é o grupo. — Ele setenciou. — Prometi desde o primeiro momento que cuidaria de vocês, que estaríamos juntos sempre. É meu dever como líder, e isso significa ter que sacrificar algumas coisas pelo caminho.
— Hyung... — Jisung tenta.
— Não tenho mais nada para falar, desculpem. — Chan fala, antes de sair da sala carregando sua bolsa. O caos na sala ficou para trás, mas a bagunça que estava dentro da mente de Chan demoraria muito para arrumar.
Chan saiu do estúdio com passos pesados, como se o chão estivesse prestes a ceder sob seus pés. Ninguém o seguiu. Nem Minho, nem Changbin, nem Jisung. Eles ficaram ali, cercados pelos destroços de um momento que jamais esqueceriam. O líder que sempre os manteve firmes havia desmoronado. E não havia nada que pudessem fazer — não naquele instante.
Do lado de fora, a noite parecia escura demais, o ar, mais frio do que o habitual. Chan andava sem direção, mas seus pés o levavam até onde ele sabia que precisava ir: o apartamento onde Nari estava morando temporariamente desde que tudo começou a ruir. Ele não pensava. Só sentia. E naquele momento, sentia como se estivesse se afogando.
Quando finalmente chegou, bateu à porta com força, como se precisasse atravessá-la. Nari atendeu poucos segundos depois. Ela estava descalça, vestindo uma camiseta larga e os olhos inchados. Não foi surpresa para ela vê-lo ali. Talvez esperasse por ele. Ou talvez apenas soubesse que, cedo ou tarde, Chan viria.
— Chan... — Ela sussurrou, o coração já apertado antes mesmo de qualquer palavra.
Ele não falou nada. Só esbarrou seu corpo no dela, em um abraço sofrido. Doloroso demais para que seu próprio corpo pudesse aguentar.
Chan ergueu o rosto devagar. Os olhos ainda estavam vermelhos. Ele respirou fundo. A voz dele saiu baixa, enfraquecida.
— Você... já se decidiu, não é?
Nari assentiu, e por um momento, seus olhos se encheram novamente. Chan fechou os olhos com força, como se aquilo o cortasse por dentro. Aquilo era necessário, certo?
— E o que eu faço agora? — Ele perguntou. Chan soltou um suspiro longo, quase um soluço. Ele a olhou como se quisesse memorizar cada traço, cada respiração. — Não consigo imaginar minha vida sem você. — Confessou, a voz embargada. Não conseguia desapegar.
Ele chorou. Silenciosamente, dessa vez. Sem estardalhaço. Apenas deixou que as lágrimas caíssem, em silêncio, enquanto segurava a mão dela com força. Ficaram assim por alguns minutos.
Até que Chan saiu. No corredor escuro, ele se virou rapidamente, só para vê-la encostada à porta, os olhos fechados, as mãos nos lábios tentando conter o choro. E mesmo com o coração em pedaços, Chan andou. Passo após passo, como se cada metro o afastasse não só de Nari, mas de tudo o que poderia ter sido.
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𝙀𝙁𝙁𝙊𝙍𝙏𝙇𝙀𝙎𝙇𝙔, 𝘣𝘢𝘯𝘨𝘤𝘩𝘢𝘯
Romance━━━ ❝Eu olho para as estrelas dia e noite, porque eu sei que você está esperando. Eu estarei lá.❞ Atravessar o mundo em busca de um sonho não é fácil, ainda mais quando tudo é posto em prova por causa de um pequeno acidente: o amor. O que fazer quan...
