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"Convocação para Reunião – Sala 12B, Sede JYP, Segunda-feira, 10h.
Presença obrigatória."

Meu celular vibrou com uma notificação, e por um instante, meu coração acelerou achando que fosse o Chan. Ou talvez algum dos meninos. Mas não era. Era um e-mail institucional, vindo diretamente da sede da JYP Entertainment.

Meu estômago revirou antes mesmo de abrir a mensagem. A primeira parte da MANIAC Tour havia terminado. O último show na Europa tinha sido como um sopro de vida e exaustão misturados — como emergir à superfície depois de dias afundada. E, mesmo assim, o que deveria ser uma trégua durou pouco. Pouquíssimo.

Não fazia mais sentido. Eu já não era oficialmente funcionária. Meu desligamento estava praticamente concluído, os papéis estavam prontos, assinaturas prestes a serem coletadas. Ainda falava com alguns técnicos, ainda desejava sorte aos produtores, mas uma reunião com a diretoria... agora?

Tinha algo errado. Eu sentia isso no corpo inteiro.

Dois dias depois, lá estava eu novamente naquele prédio onde vivi tantas noites viradas, prazos absurdos e até alguns sorrisos de bastidor. Tudo no saguão era igual: o piso de mármore brilhando, a música ambiente suave — alguma versão instrumental de TWICE, com certeza —, recepcionistas impassíveis como sempre. Mas dentro de mim, nada mais era o mesmo.

Cada andar que o elevador subia me deixava mais tensa. Quando a porta se abriu no 12º, precisei conter o impulso de recuar. Era mais frio ali. Mais opressivo. Li o letreiro fosco da porta com a respiração presa: Diretoria Executiva.

Bati.

— Entre — a voz respondeu quase de imediato.

Assim que empurrei a porta, senti meu corpo se enrijecer. Ele estava lá, sentado atrás de uma mesa imensa, de madeira escura: Park Jinyoung. O próprio JYP. Blazer cinza escuro, camisa branca, sem gravata. Tudo em ordem. Tudo calculado. O olhar dele era duro. Quase gélido.

— Sente-se — disse, sem nem fingir um sorriso.

Obedeci em silêncio. Mas por dentro, eu já estava em guerra.

Ele me observou por alguns segundos. Avaliando. Como se fosse escolher onde atacar primeiro.

— Então... é você — começou, entrelaçando os dedos diante do rosto. — A mulher por quem Bang Chan está disposto a colocar o nome do grupo inteiro em risco.

Tentei entender se aquilo era uma pergunta ou uma acusação.

— Senhor Park, eu...

— Não me interrompa — ele cortou, ríspido. — Eu te dei espaço. Muito mais do que você merecia, aliás. Era só uma funcionária de nível médio. E agora está em manchetes no Soompi, Allkpop, até em portais japoneses. Sabe por quê? Porque você se envolveu com o líder do Stray Kids. E agora... estamos pagando o preço.

As palavras dele doíam mais do que eu esperava. Era humilhante. Mas eu não ia chorar. Não ali. Não na frente dele.

— Eu pedi desligamento justamente por isso. Pra não misturar as coisas. Eu nunca quis—

— Não quis? — ele riu, seco. — Isso não tem nada a ver com querer. É sobre imagem. Negócio. O Chan é o produto. E o produto não pode manchar.

— Ele não é um produto — retruquei, firme. Minhas mãos tremiam, mas minha voz não. — Ele é um ser humano.

Houve um silêncio estranho depois disso. Ele me encarou como se tentasse medir até onde eu poderia ir.

— E por isso, senhorita... você está aqui. Para ser oficialmente avisada de que sua presença ao redor dos membros — especialmente do Bang Chan — não é mais bem-vinda. Qualquer proximidade que gere repercussão pública será tratada como obstrução à imagem institucional. Entende o que isso significa?

Entendi. Claro que entendi. Aquilo era uma ameaça.

— Eu nunca tive intenção de prejudicar ninguém.

Ele apenas sorriu de forma diabólica e puxou um contrato de uma pasta. Colocou-o diante de mim, batendo o dedo em cima da minha assinatura.

— Você lembra disso aqui? Seu contrato. Espero que tenha um bom advogado.

Olhei para o papel como se fosse uma armadilha. E era. Eu assinei aquele contrato anos atrás, cheia de entusiasmo, acreditando que estava fazendo parte de algo grande. Agora, cada cláusula parecia uma armadilha camuflada.

— Isso é... chantagem? — perguntei. Baixo. Mas firme.

— Isso é uma consequência — respondeu ele, cruzando os braços. — Você violou o código interno. Namorou um artista enquanto ainda fazia parte da equipe. Isso tá aí, preto no branco.

Chan é maior de idade. Ele tem o direito de decidir com quem se envolve. A empresa não é dona dele!

Ele se inclinou levemente, a voz afiada:

— Mas é dona da imagem dele. E é isso que nos interessa. Não sua versão romântica da história.

Meus dedos estavam cravados nos braços da cadeira. Queria rasgar aquele contrato em mil pedaços. Mas não valeria a pena. Aquilo nunca foi sobre justiça. Era sobre controle.

— Então por que me chamar aqui? Por que não processar logo?

Ele sorriu, como se já tivesse vencido.

— Porque, no fundo, você sabe como isso termina. O público esquece. Nós não. Você é uma nota de rodapé agora. E vai continuar sendo. Se tiver juízo.

Eu respirei fundo, engolindo o gosto metálico na boca. Minhas lágrimas estavam ali, mas não iam cair. Eu não deixaria.

— Vai precisar mais do que isso pra me assustar.

— Uau, que coragem — ele disse, com aquela voz calma que dava ainda mais medo. — Eu gosto de gente que me desafia. Mas me diga... como vai a universidade?

— O quê?

— Conheço pessoas, Nari. Em todos os setores. Você sabe do que estou falando.

Senti o chão sumir por um segundo. Ele estava ameaçando minha vida fora da empresa. Minha vida toda.

— Está dizendo o quê, exatamente?

— Estou dizendo que, se quiser continuar sua vida acadêmica e profissional em paz... pense bem no que está sendo pedido aqui.

Eu ri. Baixo. Amargo. Me recusei a tremer na frente dele.

— Então é isso. Não basta me tirar de perto do Chan. Quer controlar tudo. Quer me apagar.

— Não. Eu quero que você entenda o que está em jogo. Você se apaixonou por alguém que vive da imagem. E você virou o erro de cálculo. Eles são dinheiro. E eu não vou perder um centavo por causa de romance de bastidor.

Engoli em seco. Eu era só um grão de areia, era isso?

— Você não é nada aqui, Nari — ele completou. — Nem o que você disser importa.

Eu fiquei ali, imóvel. Congelada. Sem reação.

— Uma semana — ele finalizou. — Vamos ver até onde vai essa sua coragem.

O relógio na parede marcava o tempo com arrogância. Levantei devagar, ajeitei a bolsa no ombro e olhei bem nos olhos dele.

— Talvez você consiga controlar um grão de areia. — Ele não respondeu. Apenas me observou. — E já que não é mais meu chefe... vá se foder.

E saí. De cabeça erguida. Mesmo com o mundo desabando por dentro.








𝙀𝙁𝙁𝙊𝙍𝙏𝙇𝙀𝙎𝙇𝙔, 𝘣𝘢𝘯𝘨𝘤𝘩𝘢𝘯Onde histórias criam vida. Descubra agora