𝙀𝙁𝙁𝙊𝙍𝙏𝙇𝙀𝙎𝙇𝙔, 𝘣𝘢𝘯𝘨𝘤𝘩𝘢𝘯

21.

Meses depois.

O vento da noite batia no meu rosto como se estivesse me acordando à força. Eu mal sentia os pés de tanto cansaço. Depois de um dia inteiro de aula e mais seis horas em pé na cafeteria, sorrindo para clientes apressados e limpando xícaras como se a minha vida dependesse disso — o que, de certa forma, dependia — tudo que eu queria era um banho quente e minha cama.

Passei pela portaria com os olhos baixos, mas fui chamada pelo senhor Baek, o porteiro noturno.

— Senhorita Nari! — disse ele com aquele tom sempre calmo. — Chegou uma encomenda pra você mais cedo. Não tinha remetente, então guardei comigo.

Franzi a testa. Encomenda?

Ele me entregou uma caixa marrom, pequena, lacrada com fita. Meus dedos, ainda gelados, tremeram um pouco quando peguei o pacote.

— Obrigada... — murmurei, ainda confusa, e entrei no elevador.

Enquanto o elevador subia, eu fiquei encarando meu reflexo nos espelhos manchados de dedos. O cansaço era visível. Minhas olheiras estavam mais fundas do que nunca, meu cabelo amarrado de qualquer jeito, e eu mal conseguia manter a coluna reta.

Quando cheguei ao meu apartamento, joguei a mochila no chão, tirei os tênis e me sentei no sofá. A caixa ainda estava na minha mão. Por algum motivo, meu coração estava acelerado. Não sei se era o instinto ou o tipo de silêncio que pairava no ar... mas algo estava diferente. Com cuidado, rompi a fita adesiva. Dentro, havia apenas um CD e um post it identificando "There (Demo) - CB97." Minha respiração parou por um instante. A caligrafia na frente do papel dobrado... era dele. Era a letra de Chan.

Senti um aperto no peito tão forte que por um segundo achei que fosse vomitar. Seis meses. Seis longos meses. E agora isso. Corri até meu quarto procurando meu notebook e ligando-o rapidamente, ansiosa pelo conteúdo do CD. Depois de inseri-lo no aparelho, aquela voz que eu não ouvia há um bom tempo, se pôs a falar:

"Hm, oi. Sei que já se passaram seis meses. Sei também que talvez você nem queira abrir isso. Mas eu precisava fazer isso por mim. E por você.Nem que fosse só uma vez. Não sei se você ainda pensa em mim. Ou se ainda lembra de como era dividir o silêncio com alguém que te entendia sem precisar dizer nada. Eu lembro. Todos os dias. E não — não estou escrevendo isso pra te fazer voltar. Nem pra te fazer se sentir culpada. Eu prometo. Eu só queria que você soubesse que tudo que a gente viveu foi real pra mim. Que ainda é. E que, mesmo depois de tudo, eu agradeço por ter te conhecido. Por ter sido amado por você. Nem que tenha sido só por um tempo. O CD que está aí é uma demo. Um novo álbum vai ser lançado em poucos meses mas, quis que a inspiração da música a ouvisse primeiro. Quero que saiba que cada palavra é pra você. There é pra você e meu coração ainda é seu. Sempre que me ouvir falar sobre é amor, é sobre você que estarei falando. Sobre nós. Espero que goste da música. Eu te amo."

Eu não percebi que estava chorando até ver as gotas caindo no notebook. A música começou com um piano simples. Eu reconheceria aquele toque em qualquer lugar. Era o Chan. Era ele inteiro ali, nas notas espaçadas, nos silêncios bem colocados. E então ele começou a cantar. A voz dele era baixa, rouca, sincera. Como um sussurro direto no meu ouvido.

Chorei como não chorava há meses. Chorei tudo que engoli, tudo que engavetei dentro de mim pra conseguir seguir em frente. Chorei pelo amor que a gente não pôde viver, pelas palavras que não foram ditas, pelas promessas que nunca pudemos cumprir.

Três minutos e trinta e cinco minutos depois, o silêncio que restou me abraçou como um velho amigo. Mas dessa vez, não era um silêncio vazio. Era o tipo de silêncio que vem depois da verdade. Respirei fundo enquanto tirava o fone de ouvido e sorri descrente.

Estar apaixonada por Christopher Bang não era algo que eu pudesse controlar. Nós éramos pra sempre, mesmo que separados, vivos em memórias que o mundo nunca poderia corromper.

Amá-lo é inegavelmente fácil e permanente.