20.

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O relógio marcava 22h17 quando Chan finalmente entrou no dormitório. O ar estava parado, o silêncio quase estranho demais para uma casa que normalmente pulsava com risadas, jogos e vozes misturadas de oito garotos que se tornaram irmãos.

Ele soltou a mochila no chão da entrada, tirando os tênis com um suspiro arrastado. A reunião de horas sobre o próximo comeback ainda ecoava em sua cabeça — pressão para bater metas, mudanças na tracklist, coreografias que ainda não estavam prontas, o conceito que queriam empurrar mesmo ele discordando... e, como uma sombra constante, o nome de Nari pairando em silêncio em cada subentendido. Como se ela fosse a razão de qualquer desvio de foco.

Ele passou a mão pelo rosto, exausto. Só queria um banho quente e talvez dormir algumas horas sem sonhar com tudo o que perdeu.

Mas quando virou o corredor em direção à sala, Chan parou.

Todos os membros estavam lá. Em pé. Alinhados.

Era uma visão incomum. Se fosse uma brincadeira, alguém já teria rido. Mas ninguém riu.

— O que está acontecendo...? — ele perguntou, franzindo a testa.

Hyunjin foi quem deu um passo à frente. Seus olhos estavam baixos, as mãos trêmulas ao lado do corpo.

— Hyung... pode se sentar, por favor?

Chan hesitou por um momento, mas obedeceu. Sentou-se no sofá, o olhar desconfiado, cansado. Minho fechou a porta atrás de si, e então, sem aviso, todos — um por um — abaixaram-se em uma reverência profunda.

Uma reverência silenciosa. Demorada. Profundamente respeitosa.

A respiração de Chan parou por um segundo. O peito apertou como se tivesse sido golpeado.

— O que... o que vocês estão fazendo? — ele perguntou, surpreso, a voz falhando.

Changbin foi o primeiro a erguer a cabeça, lágrimas nos olhos que ele tentava esconder com um sorriso pequeno.

— Hyung... a gente sabe.

— Sabemos de tudo — completou Seungmin. — Sabemos o quanto você amava a Nari. O quanto ainda ama.

— E sabemos também o que você sacrificou... por nós — disse Jeongin, os olhos fixos no chão.

— Você sempre nos protegeu, sempre carregou tudo nas costas — falou Jisung, a voz embargada. — E agora... perdeu alguém que te fazia feliz. Por nossa causa. Por causa desse grupo.

Chan abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu. Só o som da sua respiração descompassada.

— Não podíamos ficar calados. Você nunca pediu nada em troca, mas a gente precisava dizer. Precisava te agradecer, mesmo que você não queira ouvir — continuou Hyunjin, ajoelhado, a cabeça ainda abaixada. — Você sacrificou seu coração pela imagem, pelo grupo, por nós. Isso não é justo, hyung.

Felix levantou os olhos marejados.

— Você sempre diz que somos uma família. E uma família também cuida de quem cuida. Então... obrigado, Chan. Por tudo.

O líder os olhava, incrédulo. Seus meninos. Seus irmãos. Todos ali, dobrados diante dele. E por um segundo ele quis chorar, gritar, pedir para o mundo parar e devolvê-lo à Nari. Mas ele engoliu em seco, levantou-se do sofá, e com passos rápidos aproximou-se do grupo.

— Chega. — sua voz saiu baixa, mas firme.

Ninguém se moveu.

— Eu disse... chega. — Chan repetiu, e foi então que se ajoelhou também, bem no meio deles.

𝙀𝙁𝙁𝙊𝙍𝙏𝙇𝙀𝙎𝙇𝙔, 𝘣𝘢𝘯𝘨𝘤𝘩𝘢𝘯Onde histórias criam vida. Descubra agora