- Que tal um café, então? – o homem perguntou.
A mulher hesitou por um instante e analisou o rosto daquele homem que, ela não saberia explicar, lhe parecia extremamente familiar. Mas era a primeira vez que o via, ela tinha certeza disso!
- Ok. Um café – ela segurou um sorriso. – Mas depois eu realmente tenho que ir.
Ele assentiu uma vez, em concordância e ergueu o canto da boca em um leve sorriso.
Seu coração começou a disparar quando olhou para o relógio em countdown no seu pulso. Faltavam apenas 5 minutos. Era agora ou nunca. Ou melhor, agora ou sempre e sempre, ad eternum.
- Então, o que você faz da vida, Lilian? – ele indagou, abrindo a porta da livraria, em direção à movimentada rua do verão carioca. – Além de esbarrar com homens lindos em livrarias, claro.
- Sou pintora e cuido de uma galeria logo depois daquela esquina – Lilian apontou. – E você, Marcelo? A seção de livros sobre arquitetura talvez não tenha me dito o suficiente.
Ele realmente não era arquiteto, mas cada vez que a conhecia pela primeira vez, ele estava numa seção diferente da gigantesca livraria.
Pode parecer estranho, mas desde que conhecera quem ele tinha certeza ser o amor da sua vida, Marcelo estava preso em um loop temporal. Ele estava revivendo os mesmos 30 minutos há tanto tempo que provavelmente preencheriam um mês inteiro.
E ele não se importava um grama a mais.
Estar com Lilian e conhece-la pela primeira vez, tantas vezes, era impressionantemente mágico. Ele podia ver o primeiro brilho em seus olhos várias vezes seguidas, e seu coração disparava todas as vezes também.
Sempre que ambos se esbarravam em seções diferentes, a conversa seguia mais ou menos pelo mesmo caminho da vez original. Ou será que aquela era mesmo a vez original? O sentido de tempo se perdia quando ele estava com Lilian.
1 minuto! Droga.
- Eu te amo – ele soltou, parando em frente a ela, agarrando-a pelos braços.
A mistura de surpresa, medo, susto e confusão preencheu o rosto de Lilian.
- Eu... te conheci há menos de 15 minutos – Lilian respondeu.
- Se eu te disser que te conheço para sempre, você acreditaria?
- Ok, isso pode estar parecendo extremamente romântico para você, mas eu acho que é melhor eu ir embora.
- Mas a gente sempre toma café! Bom, quase sempre.
Ela olhou com um rosto de nojo e pena:
- Tchau, Marcelo.
- Mas, Lil---
SWOOSH
A mesma calçada, a mesma avenida.
Para a livraria!
Preciso de um plano, eu preciso conquista-la, talvez é isso que me tire dessa minha prisão.
O relógio no pulso já estava contando o tempo para trás. Ele tinha exatamente 28 minutos e 43 segundos quando abriu a porta da livraria. Ela estava cheia, como todas as vezes.
A senhora no canto, com a netinha. O cara disfarçando escolher uma revista de musculação, quando na verdade ele termina a busca no setor de culinária. Não precisa ter vergonha, cara.
A essa altura, Lilian está passando pela literatura estrangeira!
E ela estava lá mesmo, entre Stephen King e a prateleira de LANÇAMENTOS!
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Croniocas
Historia CortaCrônicas da Cidade Maravilhosa, narradas por um observador com olhos capazes de captar toda a magia da vida corriqueira da sociedade carioca. Quantas coisas mágicas e fantásticas acontecem todos os dias debaixo de nossos narizes e nós nem nos damos...