As 5 fases

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Quanto mais ele apertava os olhos bem fechados, mais o espaço rodava em volta dele, girando como num eterno carrossel, veloz e descontrolado, sem um maquinista para freá-lo caso precisasse descer.

- Mexer com o Tempo é muito perigoso, Pedro – a voz grave advertiu.

- Eu juro que não vou interferir!

- Então para que você quer isso?

Pedro não precisou responder. A voz grave já sabia a resposta.

Acordou suado, quase tremendo na cama, enrolado no lençol como um rolinho primavera, sabor humano, envolto em três travesseiros, ainda de coração partido. Ainda agarrando o travesseiro como se fosse a vida, ou no caso, como se fosse Fábio.

Ele preferia dormir o tempo todo, pelo menos era o único momento que não soltava a catarata de lágrimas que não largavam ele.

Já fazia pouco mais de uma semana, mas ainda doía como se fosse agora. Como se fosse o momento em que lera as fatídicas mensagens finais, aquele velho discurso "não-é-você-sou-eu".

É óbvio que não vai ser nosso fim, ele pensava, é só uma fase ruim! Nós vamos voltar em breve, como se nada tivesse acontecido!

E iria ser lindo. Tudo se resolveria, Fábio perceberia que Pedro na verdade sempre fora seu grande amor. A explosão de sentimentos dentro do peito de Pedro nesses momentos rivalizava a quando vira Fábio pela primeira vez.

Ele lembrava, o jovem rapaz virando a esquina. Seu coração disparou, foi definitivamente amor à primeira vista. Pedro acreditava muito em amor à primeira vista, inclusive na ciência por trás do amor à primeira vista.

As horas de conversa no bar, que se estenderam para um saideira em outro bar, que se estenderam para semanas lindas.

- Você quer saber onde foi que perdeu ele, não é? – seu reflexo indagou.

Ele se espantou com a própria imagem. Não se lembrava de parecer tão velho assim! O que aconteceu? Era algum filtro mágico aplicado em seu espelho?

- Não. – Era a voz grave novamente.

Quando Pedro se virou, havia um homem robusto sentado em sua cama.

- Não é seu espelho, é você. Seu exterior está refletindo seu interior. Prazer, sou Apolo – o homem ergueu-se da cama para cumprimentar Pedro.

- Eu realmente não preciso da ajuda de ninguém agora, muito menos de delírios da minha mente.

- Por que você está tão ranzinza?

Pedro massageou a testa, de olhos fechados. Ele precisava de uma cerveja, um drink, uma vodka. Qualquer coisa que deixasse sua mente mais enuviada, longe dos pensamentos penetrantes de dor.

- Não estou.

Sim, estava.

- Por que, então, eu estou aqui, se não para te ajudar?

Por dois segundos a mente de Pedro viajou no tempo, desprendendo-se da realidade. Nada diferente de como se sentia nesse curto espaço de tempo, nesse pouco mais de uma semana.

- Você estava no meu sonho – Pedro disse, como se descobrisse, por acaso, a cura de uma doença incurável. Precisou repetir a frase para si mesmo.

- Você quer mexer no Tempo e isso nunca dá certo.

- Eu só quero poder consertar o erro que eu fiz. Eu preciso poder voltar lá atrás e consertar o que eu fiz.

- E o que você fez de errado? – Apolo sentou-se na escrivaninha onde estava o laptop de Pedro. – Relate-me.

- Eu...

- Você traiu Fábio?

- Jamais! – respondeu insultado.

- Você não era presente? Não dava carinho? Não oferecia o seu melhor?

- Eu... não! Eu fui ótimo!

- Então o que você fez de errado que deseja consertar?

Pedro parou sua andança pelo apartamento para analisar a pergunta, o cobertor como um manto, arrastando pelo chão.

- Eu quero ele de volta, só isso. E pra isso, eu faria qualquer coisa.

- Mas ele quer você de volta?

Ele já tinha a resposta para Apolo, mas não queria faze-la ser pronunciada.

Pedro voltou a se sentar na cama, sentindo-se repentinamente fraco.

- Eu tenho certeza que ele gosta de mim.

Apolo estendeu a mão para o jovem que a pegou, receoso do que poderia acontecer.

Ele fechou os olhos, apertados, temeroso e ansioso. Será que Apolo ouvira suas preces e iriam voltar no Tempo para que Pedro pudesse ser mais do que Fábio queria? Talvez menos disponível? Talvez mais frio e distante? Era isso?

Mas nada aconteceu.

- Você ouviu seus pensamentos? – Apolo indagou, soltando a mão de Pedro. – Você quer ser diferente, mas para pior.

Aquilo atingiu Pedro como uma adaga certeira no coração.

- Nada foi culpa sua, Pedro. – Apolo era tão terno e doce com as palavras que Pedro sentia vontade de abraça-lo, mas, lendo a mente de Pedro, o próprio Apolo o fez e aquele abraço derreteu as paredes de gelo frio que Pedro levara essa semana inteira construindo.

- Não é guardando-se nessa fortaleza gelada que você vai se curar, Pedro.

Pedro chorou muito.

Ele pode ter chorado por minutos, horas ou semanas, ele não tinha certeza. Todo o segundo doía mais do que o anterior, e cada movimento era como tentar nadar por um mar de concreto e areia movediça.

E de repente, começou a passar.

Já não doía mais.

- É assim que se cura – Apolo falou. – Sem mágoas, sem ressentimentos, apenas a aceitação. Somente aceitando que você fez tudo que pôde e que não é sua culpa. Ele não estava pronto.

O coração de Pedro estava mais leve. Saudoso, mas aceitando o inevitável.

Apolo soltou o abraço e Pedro estava tranquilo.

- No fim, tudo se resolve – Apolo falou.

- Eu tinha a certeza que ele era o cara perfeito pra mim. A gente tinha química e nossos interesses se entrelaçavam em vários aspectos, além do que tudo parecia certo e perfeito com ele.

Por alguns instantes, Apolo permaneceu quieto, parecendo pensar profundamente. O semblante firme, como uma estátua de mármore.

- Você queria mexer com o Tempo, certo? – Apolo ergueu-se e dirigiu-se à escrivaninha de Pedro.

Pedro assentiu, fungando.

- Existe um lugar onde você pode ter o fim que você quiser, do jeito que você quiser. O Mestre do seu próprio Espaço-Tempo – e ergueu a tela do laptop. – Escreva sobre isso, Pedro. Eu prometo que, se depender de mim e de minhas musas, não vai lhe faltar a benção da Arte.

Pedro aproximou-se do laptop e sentou-se na cadeira, olhando profundamente para a tela.

Antes de desaparecer por completo, Apolo soprou no ar, como um vento passageiro, poucas palavras que se seguiram assim:

"- OMD!

- Isso não é uma palavra, Tom.

- Claro que é. Na verdade, é mais do que uma. São três palavras!

O. M. D. Oh, meu Deus!"

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