Abril II

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A segunda quinzena de Abril veio cheia de trabalhos escolares que me tiraram do sério. E o Rogério também estava em prova na faculdade, coisa que o deixava irritado por nada, quase de TPM! Conviver com meu irmão era um saco às vezes, então eu passava a maior parte do tempo fora de casa. No colégio, no shopping, na praça, na rua mesmo. Levava meu celular pra jogar e ia estudando no meio do caminho. Fui à casa do Dani no meio da semana e até na do Caíque, tudo pra ficar longe da minha família.

Como não teríamos aula na sexta, as notas das provas que fizemos nas semanas anteriores foram entregues todas antes, pra gente ou se preparar pra estudar no feriado, ou curti-lo de verdade.

Eu não tava bem na maioria das matérias, mas só uma realmente me interessava: inglês. Tive aula com a professora na quarta e, assim que ela entregou as provas, eu fiz questão de tirar uma foto e mandar por WhatsApp pra meio milhão de pessoas....

Ok! Só pra duas. Pro Daniel - pra ele arquivar que aquilo nos servisse de exemplo de que milagres existiam - e pro Sander, com a seguinte mensagem anexada:

Renan: mission accomplished.

Renan: achievement unlocked.

Estávamos no meio da aula, e eu sabia que o Rogério estava na faculdade, mas mandei mensagem pra ele também.

Renan: consegue ingresso pro jogo no campo no domingo?

Meu irmão não demorou nem três segundos pra responder.

Rogs: domingo de Páscoa?? Cê ta batendo bem da cabeça, Renan?

Renan: ue, tem jogo, pq não teria ingresso?!

Rogs: velho, mesmo tendo, deve ta o olho da cara e vc acha que o papai vai te deixar sair em pleno domingo DE PÁSCOA pra ir no campo!?

Renan: então a resposta é não??

Rogs: é óbvio!!

Eu nem me importava com meu pai, resolveria isso no dia mesmo, mas daí pensei que o "pai" do Sander não deixaria ele passar a única Páscoa em território brasileiro num campo de futebol.

O que me frustrou. E que me fez pensar que eles talvez fossem viajar no feriado. O que me deixou ainda mais cabisbaixo.

Caramba, eu era uma montanha russa de emoções! Hora super feliz, hora morrendo de depressão. Será que eu era bipolar e não sabia?


Páscoa era um dos poucos feriados que minha família passava em casa por causa do meu primo e do trabalho de caridade da minha mãe, que sempre ia na favela que a Vanessa mora pra distribuir chocolate para as crianças carentes. Acho que o negócio de cuidar da filha do tio Fábio deixou ela meio sensível pra essas coisas, e a senhora Fabiana (minha mãe) sempre obrigava a gente a ajudar. No domingo, a rotina era a mesma há sete anos: almoçávamos em casa, trocávamos os ovos e depois saíamos, eu, Rogério, ela e papai, para a comunidade.

Não me leve a mal. Era até legal. Eu gostava de ver a surpresa do pessoal e tal - e minha priminha sempre nos retribuía também. Mas naquele ano específico eu não estava ligando muito pra chocolate.

No intervalo do almoço, demorei um pouco mais no banheiro e, quando saí, o corredor estava deserto. Exceto por um cara sentado no banco de mármore fuçando no celular. Quando levantou o rosto, as covinhas apareciam como dois furos de cada lado da bochecha.

- Quero ver - ele demandou a prova sem pestanejar.

- Poxa, não acredita em milagres?! - ele riu e eu passei o papel com a nota nove rabiscada em vermelho. Não era um dez, mas pra mim era muito mais que isso... Eu sentia o gostinho da vitória, era o que importava.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Onde histórias criam vida. Descubra agora