Agosto VIII

215 34 11
                                    

São onze e meia quando nos amontoamos na entrada de um clube noturno. É só uma portinha redonda, mas as luzes coloridas e o som alto que vem lá de dentro denunciam seu propósito.

Estão todos ali, todos. E estamos sóbrios para reparar isso. Até os reservas do primeiro ano seguram uma garrafa de pinga que Gustavo comprou numa vendinha qualquer pelo caminho, mas deixou para abrir assim que chegássemos no local do crime. Não lhe pediram a identidade pra vender o álcool, claro, mas Sander estava com seu passaporte em mãos caso precisassem. Sem as facilidades do Misael, afinal, foi no meio do caminho que perceberam que somente o gringo era maior de idade: os gêmeos fariam 18 só em outubro, dali dois meses.

A agitação fervilhava os caras. Não paravam quietos nem um minuto! Estava uma brisa gelada e a maioria de nós não tinha levado agasalho algum, usando do atrito pra se esquentar: eles distribuíam cotoveladas, socos e pontapés a todo momento.

Daniel estava com um casaco de nylon, o único realmente prevenido, e ele me ofereceu a peça de roupa quando me viu tremer.

– Não, valeu. Não quero ser responsável pela gripe que vai pegar.

Ele riu e se manteve por perto, como que para me esquentar com sua presença, sei lá.

Sander estava encabeçando nosso grupo, ao lado dos gêmeos e do Carlos. No meio dos moleques, eu mal tinha um vislumbre de seu rosto...

Renan, para com isso!

O clube não era grande – mais lembrava uma garagem, pra falar a verdade. Talvez por isso parecia lotado, apesar de lá no inconsciente a gente saber não ter tanta gente assim. A música eletrônica era dos anos 2000, eu reconheci, e tinha uma espécie de projetor numa das paredes... Tava passando o clipe! Meu irmão amava aquelas velharias e as baladas que ele mais gostava tocavam só aquelas coisas. Ver o clipe quase me fez ter uma crise de riso!

Não que eu odiasse, era mais irritação por saber até as letras das músicas – olha isso, música eletrônica com letra e tudo! Só a virada do milênio mesmo pra inventar uma coisa dessas! E aquelas roupas?! O penteado, meu Deus!

I don't wanna say I'm sorry

'Cause I know there's nothing wrong

O pessoal se espalhou lá dentro, indo pro bar e se aconchegando perto dos grupinhos de meninas. Rafael me entregou um copo de energético com vodca em certo momento e desapareceu em seguida. Fiquei bebericando o negócio, cantarolando a música, mais afastado... Sabe como é, pra ninguém notar que eu realmente sabia a porcaria da letra!

Don't be afraid,

There's no need to worry

'Cause my feelings for you are still strong

O primeiro que vi foi o Felipe, se espremendo na parede com uma garota morena. Uma andada para o meio do recinto e vi Gabriel e Rafael dançando com uma menina no meio... Ela parecia meio tresloucada, sei lá, mas estava gostando de ser o centro das atenções de dois gêmeos da capital. Num momento passageiro, minha cabeça me pregou uma peça: até eu estaria gostando, se não os conhecesse.

Escorei numa pilastra quando uma menina passou me fitando. Não devolvi o olhar com a mesma intensidade, creio, mas algo na minha expressão a fez girar nos calcanhares. Eu não tinha intenção de fazê-la se aproximar, pelo contrário, mas tentei não ser rude ou grosso.

– Oi. – ela cumprimentou. – Nunca te vi por aqui.

– Estou só de passagem.

Ela falava com a boca quase colada à minha orelha. A vodca ajudou a fazer com que o contato me causasse um certo arrepio, vamos ser sinceros. Ficamos trocando trivialidades entre a proximidade perigosa até que ela me ofereceu o copo que estava segurando:

– Experimenta. Acho que você vai gostar.

O sorriso dela era super malicioso, e eu não sei como não encarei aquilo como um aviso, só caí na rede como um peixinho inexperiente. Juro que não faço ideia do que tinha naquele copo, mas era realmente gostoso. Doce, azedinho no ponto certo, não queimava, mas sabia, lá no fundo da minha sanidade, que faria um estrago tremendo.

Já tinha me acabado dias antes, sofrido todo o mal que o álcool pode me causar, inclusive a ressaca moral que já durava dias.

Mas eu parei? Não, pelo contrário. Quando dei por mim, estava com um copo só meu, ela com uma garrafa inteira, e nós dois rindo da música, dos clipes projetados na parede e dos tombos que o pessoal levava no meio da "pista de dança".

Lasgo enchia meu ouvido e minhas veias de energia, me fazendo remexer no lugar, a menina colada em mim e nossos copos sendo virados a todo segundo.

Dali pra frente, a noite virou história.


-----------

Gostou? Comenta e vota pra eu saber :)

Respondo todo mundo!

Curtinho mesmo porque isso é só uma prévia do próximo capítulo... Vem mais por aí, apertem os cintos! A história que a noite virou :P

Fiquem com a Lasgo enchendo o ouvido de vocês também com "Something".

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Onde histórias criam vida. Descubra agora