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Respirar fundo não adiantava mais.
O ar entrava, mas não acalmava. Era como se o passado estivesse ali, parado no corredor do consulado, esperando a hora certa pra me agarrar pelos ombros e sussurrar no meu ouvido que tudo podia acontecer de novo.
Mas eu não ia deixar.
Hoje, eu não era só a garota sequestrada num camarote de estádio.
Hoje, eu era mãe.
Hoje, eu era a mulher que sobreviveu.
- Tem certeza que quer entrar sozinha? - Wesley perguntou baixinho, apertando minha mão com cuidado. Ele segurava Kalleb no colo, que dormia profundo, enquanto Hanna brincava com o prendedor do meu lenço, agarrando com a mãozinha gordinha como se entendesse que algo grande estava prestes a acontecer.
- Tenho. - respondi. - Mas não sai daqui, tá?
- Nunca.
Sorri pra ele, depois olhei pro segurança do consulado que segurava a porta de vidro. Caminhei por aquele corredor branco e silencioso como se estivesse indo para um campo de batalha - e, de certa forma, estava.
Do outro lado da videoconferência, me esperava Gabriel Barbosa. O homem que me arrancou de tudo, menos da minha força.
A sala de reuniões estava fria. A cadeira era confortável demais pra uma mulher prestes a reviver um trauma. Havia uma tela grande à frente, conectada à central de justiça do Brasil, com som e imagem em alta definição. Quando o advogado do consulado deu o play na chamada, o rosto dele apareceu.
Gabriel.
De uniforme laranja, barba por fazer, e aquele olhar... aquele maldito olhar calmo, que ele sempre usava como disfarce pro caos que criava.
Tive vontade de vomitar.
Mas fiquei firme.
Do lado esquerdo da tela, estava o juiz. Do lado direito, o promotor. A sessão era para ouvir testemunhos do caso de sequestro e cárcere privado. A pena podia ser pesada - se eu tivesse coragem de contar tudo.
E eu tinha.
- A senhora Raquel Teixeira está presente e será ouvida como testemunha principal. - disse o juiz, organizando os papéis à sua frente.
Assenti com a cabeça. Meu advogado, Dr. Vitor, fez um sinal de apoio com os olhos.
- Senhora Raquel, o que aconteceu no dia do jogo do Corinthians? - o promotor começou, direto.
Respirei fundo.
- Eu estava saindo do camarote, feliz, comemorando. Quando fui abordada por dois homens grandes. Tentei passar, mas um deles me segurou, colocou um pano com alguma substância no meu rosto... e eu apaguei.
- Sabe quem eram?
- Não. Eles estavam de capuz. Mas depois... - engoli em seco - eu acordei num quarto. Um quarto que parecia ter saído da minha cabeça. E lá estava ele. Gabriel.
Todos olharam para a tela. Ele apenas me observava, inclinado levemente, como se nada estivesse acontecendo.
- Ele te manteve presa por quanto tempo?
- Três semanas. - Respondi. - Três semanas em que ele fingia que éramos um casal. Que eu tinha voltado pra ele por vontade própria. Ele me impedia de sair, de usar o telefone, de ver alguém. Dizia que era "pelo nosso bem".
- Ele chegou a te machucar fisicamente?
Fechei os olhos por um instante. Lembrei dos toques forçados. Das palavras doces ditas com uma faca invisível. Das mãos dele na minha barriga, fingindo carinho.
- Não me bateu. Mas me feriu de outras formas. Me beijava à força, me chamava de amor, fazia carinho quando eu dizia "não". Isso também é violência. Eu me senti invadida. Apagada. Desfigurada por dentro.
A voz do promotor ficou mais calma.
- E como conseguiu sair?
- Wesley, meu namorado, estava me procurando. A polícia chegou até a casa onde eu estava. Arrombaram a porta. Eu fui resgatada. Gabriel foi preso em flagrante.
- E desde então ele tentou contato?
- Tentou. Enviou cartas, mensagens através de conhecidos. Sempre dizendo que me ama. Que me quer de volta. Que "errei em seguir em frente".
Todos anotavam. Todos ouviam. Mas ele... ele continuava com aquele maldito sorriso.
- Senhora Raquel, há algo que gostaria de dizer diretamente ao réu?
Me levantei.
Olhei bem pra tela. Pra ele.
- Você me tirou minha liberdade. Me tirou o direito de comemorar, de ir pra casa, de respirar em paz. Você me fez duvidar de mim. Fez minha gravidez começar com medo. Mas hoje, eu sou mãe. Eu tenho dois filhos que nasceram com o nome de um homem de verdade. E eles nunca, nunca vão saber quem foi você.
- Você é um covarde. E se esse tribunal for justo, você vai ficar onde está. Porque eu nunca mais vou ficar onde você me colocou.
Sentei de novo. As mãos tremiam. Mas meu coração... estava firme.
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