Capítulo três.

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-Mãe? - chamei-a quando coloquei a cabeça pra dentro da sala. Ninguém aqui embaixo. Ótimo. - Vêm. - falei com Jess e a puxei.
-Minha cabeça tá rodando. E eu quero vomitar mais. - ela avisou.
-AAAAAAAAH. Jess, aguenta aí. Você levou 10 minutos da garagem até a porta só porque estava vomitando. Você nem bebeu tanto.
-Bebi sim. Aiii, eu vou morrer. - ela gemeu.
Subimos as escadas rapidamente e eu a joguei no quarto. Fui até o quarto dos meus pais e abri a porta.
-Mãe, Pai, cheguei. - fiz minha cara de bom moço e sorri.
-Chegou cedo, filho. - minha mãe respondeu.
-É, amanhã tem escola. - PERAÍ! Escola? - Mãe, já vou, até amanhã! - fechei a porta correndo e entrei no meu quarto.
-OMG! - ela se cobriu. E bem, se ela tinha se coberto era porque ela tava... pelada. Pelada? No meu quarto?
-Garota amanhã tem aula! - falei nervoso.
-Eu sei. - ela deu de ombros - Vira de costas pra eu colocar minha roupa? - obedeci, claro.
-Garota, como você vai pra escola amanhã? Como EU vou? - perguntei.
-Indo. Normal. Como sempre. - ela suspirou - Pode virar.
-Você não trouxe suas coisas. - falei deitando na cama de roupa mesmo.
-Sei. Eu vou lá em casa amanhã e pego. Ponto final! Ai... - ela correu até o banheiro tapando a boca.
-Puta que pariu... - murmurei com a cara no travesseiro.
-AH MEU DEUS! - eu ouvia ela falar la do banheiro. E tentei ignorar. - Thomas... você pode me ajudar?
Bufei e me levantei, indo até o banheiro, a encontrando de joelhos, de frente pro vaso sanitário.
-Thomas, me arruma um terço? - ela dizia chorando.
-Terço? Aonde eu vou arrumar um desse? - falei aumentando minha voz.
-Não sei, mas arruma logo! - ela falou e se curvou de novo diante do vaso.
-Jess, você bebeu muito. - falei.
-Não bebi. O problema é que nunca tinha bebido.
-Nunca? E você não me avisou...
-Não. Vinho é o sangue de Cristo. Achei que não ia passar mal. - ela gemeu.
-Jess, você é a pior, sabia? - eu ri fraco.
-Pára de rir! - ela falou fraco - E me traz um terço...
-Tá, tá, vou lá ver se acho algum desse.
Saí do meu quarto para tentar achar algum terço. Ri da minha própria situação: ir para uma boate com uma freira, conversar com ela sobre CATEQUESE lá dentro e pior, ela tinha conseguido dormir. DORMIR COM MÚSICA ALTA NO OUVIDO!
Andei a casa toda e nada de terço. Poxa, eu pensei que minha mãe tivesse um desses... Bom, de repente ela tem no quarto dela. Mas eu tinha que pegar escondido, porque senão ia levantar suspeitas. Fui até o quarto de meus pais e abri a porta devagar. Olhei lá para dentro e, com a pouca luz que tinha vi que só meu pai dormia, e o banheiro estava com a luz acesa, então ela estava lá, tomando banho. Não perdi tempo e entrei no quarto, indo procurar algum terço no armário dela. Fiquei procurando, procurando, até que achei o tal terço.
-Achei. - murmurei.
-Achou o quê, filho? - PUTA QUE PARIU, e agora?
-O terço, mãe. - ela me olhou sem entender - Sabe o que é, é que amanhã eu terei prova, e eu quero rezar. - falei a primeira mentira que veio na mente.
-Oh, meu filho... que lindo. - ela apertou minha bochecha - Mas, você sabe usá-lo? - ela perguntou.
-Claro, é só fazer isso, ó. - eu falei pegando em uma bolinha por vez. AGRADECI MENTALMENTE POR INÚMERAS VEZES TER PARADO NO CANAL DA NOVENA E VER AS MULHERES FAZENDO AQUILO!
-Ok, agora vá para o seu quarto, vá. Já está muito tarde. - ela disse.
Agradecido por ter sido expulso do quarto, fui correndo para o meu, e quando abri a porta do meu banheiro a encontrei ainda agarrada ao vaso.
-ALELUIA! - ela estendeu a mão para mim.
Ela pegou o terço e começou a murmurar algumas coisas. Coisas estranhas a mim.
-Ah meu Deus, você vai colocar seu fígado pra fora. - falei quando no meio de uma de suas orações ela vomitara de novo.
-Toma, reza por mim. - WHAT THE FUCK? Rezar?
-O quê? - falei.
-Reza pra mim, eu não tô cons... - vomitou de novo.
-Eu não sei como se faz isso direito.
-Fala qualquer coisa!
-Emnomedopaidofilhodoespiritosantoamemsalvairespeita, amémdenovo, obrigada, Deus! - disse tudo que eu tinha ouvido na vida sobre religião. Porra, eu tava era parecendo um babaca mesmo.
Olhei pra ela que tinha parado de gemer logo depois da minha tentativa de reza. Ela olhou pra mim e...
-KKKKKKKKKKKKKKKK! - agora a freira tava rindo da minha cara? Ah, qual é?
-Você ora muito bem. - ela gargalhava - Acho até que melhorei.
-Cala a boca porque daqui a pouco a minha mãe vai vir aqui! E ótimo você ter melhorado, porque eu quero é dormir. Toma um banho, se limpa direitinho que eu vou tomar banho lá embaixo. Vai querer roupa?
-Você tem roupa de mulher aí?
-Não freira, tô te perguntando se não quer uma das minhas. - respondi sem paciência.
-Sei lá. Pode ser...
Peguei uma muda de roupa pra ela e a que eu usaria, descendo até o outro banheiro em seguida. Tomei o banho rapidamente e subi pro quarto. Jess ainda estava no banheiro, pois eu ouvia um barulho de água. Lembrei que não tinha pego nada pra ela dormir e melhor: nem sabia aonde ela ia dormir. Por mim, podia ser na cama, comigo. Faltava saber o que ela pensaria... Arrumei um travesseiro e um lençol pra ela e me deitei. Fiquei olhando pro teto, pensando em qualquer coisa quando minutos depois ouvi a porta abrir.
-Delícia! Adoro um banho depois de um bom vômito.
DE QUÊ QUE ELA TAVA FALANDO? ELA NÃO TINHA UM PAPO MAIS LEGAL NÃO? Garota estranha...
-ÔÔÔ. - respondi.
-Você dorme desse jeito? - ela perguntou apontando pro meu corpo.
-Sim. Por quê?
-Nada... E eu vou dormir aonde?
-Aqui do meu lado. Se quiser, claro. - falei.
-Ah, esse travesseiro é pra mim? - ela perguntou feliz.
-Não, é pra prostituta que eu chamei. Daqui a pouco ela chega. - ela fez cara feia e eu ri. - Claro que é, né?
Ela ficou calada e deitou ao meu lado.
-Pode desligar a luz? - ela perguntou depois de se cobrir.
-Posso. - levantei e fui até o interruptor. Voltei e me deitei de volta.
-Boa noite. - disse me virando pro outro lado.
-Boa noite. - ela respondeu.
Fechei meus olhos e tentei me concentrar para que o sono logo chegasse. Mas, pra minha infelicidade, um barulhinho me enchia o saco. Um murmúrio. Murmúrio da Jess.
-Quê foi Jess? - falei abrindo os olhos.
-Estou rezando, me dá licença? - ela disse brava.
-Oh, desculpe. - rolei os olhos e deitei de volta.
O murmúrio continuou por alguns minutos, até que eu ouvi um estalar de boca. Sabe, quando se beija alguma coisa? Fosse o que fosse ela tinha beijado alguma coisa. Eu preferia não tentar descobrir o quê. Fechei os olhos e tentei dormir.
-Sabe... eu nunca dormi com outra pessoa na mesma cama. - ela falou.
-Jura? Que emoção! - murmurei.
-Você não quer conversar né? - ela disse.
-Não mesmo. Conversei muito na boate.
-Ok. - silêncio - Mas... Thomas...?
-Fala.
-Por que você resolveu falar comigo esse ano? Digo, só esse ano. - ops, acordei.
-Não sei. - mentira deslavada...
-Ah tá. Sabia que eu te vejo naquela escola desde que éramos crianças? - ela disse com uma emoção na voz...
-Sério? Como você sabe que eu sou eu? Bem, você entendeu, né?
-Porque você sempre foi desse jeito.
-Que jeito? - perguntei.
-Mais bonitinho. - ela respondeu e eu posso jurar que ela ficara vermelha.
-Ah, tá. - respondi.
-E, sabe a festa à fantasia que teve na sua escola há muito tempo?
-Sei. - respondi.
-Você ficou com uma menina vestida de freira não é? - Puta merda era verdade. Era ela?
-Uhum. - respondi morrendo de medo - Você conhecia?
-Sim. Ela era uma amiga da nossa escola. Mas ela saiu da escola de freiras... não quer mais ser uma.
-Ah, tá. - silêncio - Você nunca pensou em desistir, Jess?
-Não, tá louco? Não tenho motivos pra desistir. - ela disse.
Cara, tava na hora. Eu tinha que fazer algo logo pra acabar logo com essa aposta. Virei na direção dela e toquei em seu ombro. Em seguida passei a mão levemente do ombro até a nuca.
-O quê você está fazendo, Thomas? - ela perguntou se contorcendo.
-Jess, olhe pra mim. - pedi.
Ela devagar se virou e ficou de frente pra mim. Me olhando com certa cautela.
-O quê te fez sair comigo hoje à noite? Por que no dia em que fui na igreja você me agarrou? Por quê?
-Não sei. - ela disse baixinho.
-Você sente falta de alguém. - tentei usar toda a minha voz sedutora enquanto passava a mão em sua testa.
-Alguém? - ela perguntou tremendo sob minha mão.
-É. Alguém. - disse chegando mais perto.
-Thomas, fica longe. - ela disse e se afastou de mim.
-Não, vem aqui. - fui pra mais perto dela e ela se afastou.
POF!
-Ai, ai... minhas costas... - ela murmurou estatelada no chão.
-Jess, sua louca. - levantei da cama e a peguei no colo - Machucou aonde?
-Bunda, costas, braço... tudo! - ela disse.
-Me desculpa. - lamentei.
-Você é um tarado. - deitei na cama ao seu lado quando ela disse isso.
-Você diz isso porque ninguem nunca quis fazer uma coisa contigo como eu quero. - Nossa, eu mesmo tinha falado isso?
-Ahn? O quê? - ela perguntou.
-Ficar com você.
-A gente já ficou. - ela disse.
-Você gostou? - perguntei.
-Foi meio estranho. - ela disse - Mas foi sei lá, legal. Teve a língua sabe, daí elas...
-Tá, tá, entendi, Jess... e foi legal porque é proibido. - disse - Eu queria repetir...
-Repetir? Nunca! - ela disse cruzando os braços.
-Ahn? Mesmo...? - disse passando o braço por cima de seu tronco, a prendendo perto de mim - Jess, só mais uma vez... - disse chegando mais e mais perto dela, que tinha ficado parada.
-Thomas, não. - ela virou o rosto na hora que eu tinha colado nossos lábios minimamente.
-Jess, qual é? - falei sem paciência - Fica de cú doce...
-O que que é isso? - ela perguntou.
-Isso o quê, garota? - perguntei.
-Esse doce aí, que você falou. - Putz, depois de aturar essa garota eu merecia um prêmio.
-Não é doce nenhum, Jess. - respondi, a soltando.
-Ah, tá. Você é doido, fala umas coisas nada a ver... - ela murmurou.
-Claro, eu sou o estranho e alienado... - respondi.
-Cala a boca, eu quero dormir! - AHHHHHHH, AGORA TINHA GENTE QUERENDO DORMIR, É? Foi só tocar em assunto que ela não queria falar que o sono tinha aparecido rapidinho... Quero ver se eu estivesse falando em religião. Ela iria virar a noite falando sobre.
Fiquei calado e minutos depois senti o sono finalmente chegar. E olha que, para o meu alívio, ela tinha ficado quieta. Melhor, tinha dormido. Mas eu não tinha conseguido o que eu queria. Por enquanto.
Engraçado. Essa noite eu não estava sonhando nada. Estava em meu sono tranquilo, até que algo acaba com o pouco de sossego da minha mente.
-Thomas... - ouvi alguém me chamar. Cara, que que era dessa vez, hein?
Abri os olhos e olhei pra Jess, que era a fonte do som que eu ouvia. Ela estava de olhos fechados, e estava falando meu nome. Ah, que lindo ela estava sonhando comigo agora? Será que eu era o padre no sonho dela? Ou estava rezando ou algo assim?
-Mas pra baixo... - ela murmurava enquanto abria as pernas e gemia. NÃO, PERAÍ... ELA NÃO ESTÁ FAZENDO O QUE EU ESTOU PENSANDO NÉ? Eu precisava deixar ela continuar com aquilo. Estava muito engraçado ficar olhando-a daquele jeito. Ô freirinha, quem te viu, quem te vê, hein...
-Não! Não vai embora! - ela disse mais alto e acordou e me viu a encarando com um sorriso nos lábios.
-Sonhando, Jess? - perguntei.
-Você não ouviu, né? - ela perguntou segurando o lençol sobre o nariz. Eu só via seus olhos.
-Ouvi e vi. - disse passando a mão na perna dela por cima do lençol.
Eu não vi mais nada após isso. Ela me agarrou e me puxou pra perto dela, colando nossas bocas. Jess não parecia nem um pouco ser uma freira comportada, repito. Ela me envolveu com suas pernas e mexia a sua língua contra a minha de um jeito... muito provocante. Ela passava suas unhas pelas minhas costas e eu a segurava pela lateral da sua cintura. Minutos se beijando, comecei a levantar minha mão e juntamente levantava a sua blusa. Ela separou sua boca da minha para respirar.
-Thomas... - ela murmurou quando eu comecei a dar chupões em seu pescoço, e já passava a mão em sua barriga.
-Jess, xiiiu... - eu disse, respirando dificilmente.
-Oh, Meu Deus o quê eu estou fazendo? - ouvi ela dizer.
Porra, queria coisa mais broxante do que uma garota pensar no que está fazendo quando ela está fazendo? Me separei dela e ela me olhou confusa. O quê agora? Ela tava querendo que algo mais acontecesse? Ela queria continuar? Claro, eu também queria, mas com ela falando seria meio estranho. E broxante.
-Por que eu fiz isso? - ela disse se sentando na cama. - A minha blusa. A minha boca tá ardendo. - ela passou a mão pela boca.
-Me desculpe. - deitei com as duas mãos embaixo da cabeça.
-Não. Foi legal... - ela murmurou.
PERAÍ, ELA TINHA GOSTADO? SÉRIO MESMO QUE ELA NÃO QUERIA BATER EM MIM?
-Thomas, eu não era pra ter vindo pra cá, me desculpa. Você é um homem, e eu sei que não consegue segurar os instintos... me desculpa.
-Jess, eu acordei com você chamando meu nome. E falando umas coisas que... se eu fosse você, eu ficaria meio constrangido. - olhei pra ela e ela fez uma cara engraçada. Devia estar lembrando do sonho.
-Foi. Era um sonho com você.
-Ah, não me diga. - respondi - E como que era o sonho? Posso saber?
-Não. - ela ficou vermelha rapidamente - Não posso contar.
Ok, então eu sabia o que era. Ela não ia me contar e sinceramente, eu preferia não ouvir. Pelo o que eu tinha ouvido eu já tinha entendido que a freirinha estava tendo sonhos nada puros comigo. Ficamos em silêncio por minutos. Eu e ela nos mexíamos na cama insistentemente. Era fato: nenhum de nós dois estava conseguindo dormir.
-Você me agarrou de novo. - eu falei.
-Me desculpa, já falei. - ela respondeu.
-Não, não se desculpe. Você até que é muito boa... - eu falei e ela olhou pra mim, me dando um tapa no peito - Vai pedir desculpa a Deus quando?
-Amanhã. Eu não sei se poderei continuar nessa fazendo tanta coisa errada. - ela disse mexendo nos cabelos.
-Talvez você não esteja no lugar certo. Talvez você tenha sangue de garota mimada que fica de porre.
-Cala a boca, Thomas. - ela disse rindo - Eu tenho certeza que estou no lugar certo... agora, vamos dormir, por favor?
-Você não quer me agarrar de novo? - perguntei.
-Não. Eu te agarrei só porque estava com vergonha. - UHUM, TÁ... SEI!
-Jess, olha pra mim. - fiquei de lado e a coloquei de frente - Eu realmente gosto de você. Será que a gente não pode tentar que algo aconteça?
-Thomas, claro que não. - ela se descobriu um pouco - Eu não posso.
-Por que me agarra então, mulher? - perguntei.
-Eu não sei, ok? Agora me deixa dormir, por favor. - ela disse e se virou, suspirando alto.
Fiquei puto e me virei também, fechando os olhos. Preferia dormir e esquecer a noite mais louca e estranha da minha vida...

O melhor amigo da freiraOnde histórias criam vida. Descubra agora