GENTE QUADRADA.

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[A poesia que segue a gente, piscando em faróis vermelhos,
em sangue nas calçadas, em facas manchadas de ódio.
Em prédios geométricos, projetados para tampar o sol, e amor, e nós.
E nós? Escorrendo com a chuva, nos derretendo naquilo que julgamos não precisar sentir.
A cidade modifica a gente. Nos atando em geométricas-verdades, quadradinhas e aceitáveis.
Em arrotos dos bêbados, mais sãos que nós verdades-quadradinhas:
ouço um urrar das vontades que nos negamos: e nós?]

A vida é um terminal:
você desce do bonde,
olha para os que passam
andando para lá e para cá
com aquela confiança no olhar,
tão confiantes que nunca param
você pergunta: "para onde vão?"
Mas não param a marcha
não param a farsa
pois se param
esquecem
o caminho
até de casa.

Mas olha só
que a poesia é boa.
Embora não ritme nada
pergunta,
mais perguntas.

Eu sou mestre
em não entender
como funcionam
as respostas.

Eu analiso sistematicamente,
desmonto as orações
daquele sujeito demente
esperando encontrar
o verbo certo.
E depois quando remonto
já não faz sentido,
e a resposta
só supriu carbono.

Baforadinhas de gás carbônico,
que só me deixam sem ar.

Eu sou uma máquina delas,
sempre tenho novas a perguntar
e também mais para me decepcionar.
Fico aqui colecionando as perguntinhas,
que se amontoam nos cantos da mente,
como sujeira debaixo do tapete.

E quando alguém vem,
lanço a minha trama
para ver se pesco
uma verdade descente.
Enrolam e sopram no ar
uma sequencia de sílabas
que não montam resposta.

A vida não responde,
e os vivos coitados,
não sabem de nada.

Por isso quando olho
aquele sujeito
doutor de terno
fico boquiaberto
e as perguntinhas
me salpicam
na ponta da língua.

Mas descubro
que é bacharel
em perguntas
sem respostas:
E de teorias
já me encheram
no tempo de escola.

Logo afirmo,
em minha
reviravolta.
Veja se estou lá,
e se eu não estiver
não vem pra cá não.

Porque de afirmação
já estou até a tampa
quero respostas,
que me acalmem
na hora do sono.

Poesia: Medusa.Onde histórias criam vida. Descubra agora