(CONCLUIDA)
Lisa decidiu contar pra sua melhor amiga Jennie oque sente por ela a muito tempo, mas nada sai como esperado.
Lisa então decide tentar esquecer Jennie e acaba se envolvendo com outra pessoa, mas esse envolvimento acaba causando sentimen...
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Eu estou há dois dias nessa cama de hospital! DOIS DIAS!
Graças ao bom Deus eu vou poder sair amanhã.
Eu já havia implorado horrores para que o medico me desse alta, mas ele disse que só o faria depois de todos os exames saíssem e que tivesse certeza de que não houve nenhum dano em meu cérebro ou algo assim.
Não entendi muito, não sou medica, mas só sei que vou ter que ficar aqui até ele ter certeza. O que só é antes das duas da tarde de amanhã.
- Eu fui falar com a coordenação do seu curso, Lisa. Eles entenderam toda a situação, e nem se quer ficaram surpresos já que não era a primeira vez. - Minha mãe disse. - Já avisei pro seu pai que vamos voltar no dia depois da sua alta.
- É mesmo necessário eu ir pra São Francisco? Porque a senhora não cuida de mim aqui, ou só me deixa aqui, tem as meninas que podem me ajudar. Não é como eu estivesse tetraplégica ou algo assim, já consigo fazer minhas coisas.
Desde que acordei ela não tira essa ideia da cabeça, de que eu preciso me recuperar em São Francisco, perto da família.
- Eu não vou deixar você sozinha, Lisa. Ainda não fiquei doida. E também, as meninas não vão poder ficar o tempo todo cuidando de você, elas têm faculdade.
- Você é a favor disso, Jen ?
- É o melhor pra você, Lisa.
Não era bem isso que eu queria ouvir.
- E eu também posso trabalhar de casa, então não vai ser ruim pra mim. Posso ficar de olho em você e trabalhar, ainda mais que perdi muitos dias no trabalho esses dias em que vim pra cá.
- Ainda não sei se quero ir.
Me esforcei para deitar de lado na cama, mas não é como se fosse conseguir aguentar por muito tempo aquele gesso pesado sobre a minha perna boa.
- Não é como você tivesse opção, Lisa. - Jisoo disse.
- Não mesmo. Eu já até comprei as passagens.
Bufei alto fechando os olhos para tentar dormir novamente.
Todos estavam se aproveitando da minha dificuldade para agirem como se mandassem em mim, fazendo minhas escolhas no meu lugar.
...
- Jen !
- Oi!
- O que você tem?
- Nada, por quê?
- Você parece meio distante, evitando conversar e tudo mais. Eu fiz ou falei alguma coisa?
- Não! É claro que não. - Disse rápido. - Eu só... - Sentou ao meu lado na cama. Finalmente estávamos em casa depois de três dias sendo tratada como um rato de laboratório. - Acho que estou muito cansada. Esses dias foram muito cansativos pra mim.
- Tem certeza que é por isso? - Assentiu encostando sua cabeça em meu ombro. - Tudo bem então.
- Acho que vou tomar um banho. Já volto! - Assenti.
Ela saiu antes deixando um beijo delicado em minha testa.
Minha mãe estava na sala arrumando as coisas dela e ligando pra companhia com que viajaríamos. Ela queria de qualquer jeito que eles arranjassem um local confortável pra mim alegando que eu estava debilitada.
Olhando assim só parecia mais que eu estava tetraplégica, mas só eram minha perna e meu braço quebrados, meu abdômen com dezenove pontos e o restante das luxações pelo meu corpo, nada demais.
Liguei a tv em qualquer canal aleatório, enquanto ouvia o barulho da água caindo no banheiro. Estava tudo um tedio puro, mas ainda era melhor do que está naquele hospital.
Minha mente divagou até momentos antes do acidente, enquanto aquele carro me perseguia. Foi tão estranho, eu não me sentia com tanto medo daquele jeito desde antes de Robert ser preso. E graças a Deus que não ouvi mais falar dele durante todos esses outros dias.
Espero de verdade que tudo aquilo não comece ou aconteça demais, eu e Jennie perdemos muito com tudo isso.
- O que você tá pensando ai?
- Nada, só divagando com meu tedio. - Respondi ao ver Jennie.
Ela estava de pé em minha frente, com uma toalha em volta do seu cabelo molhado e outra em seu corpo.
- Poderia a senhorita me salvar dele?
Me estiquei sobre a cama até que minha mão alcançasse seu braço, a puxando a cair sobre a cama junto comigo. Sua toalha caiu ao chão quando soltou no susto.
- Lisa!
- Calma, senhorita! - Abracei seu corpo nu contra o meu.
Eu não queria nada demais, apenas abraçar ela e sentir seu cheirinho pós banho.
- Só quero abraçar você um pouquinho. - Esfreguei a pontinha do meu nariz contra seu pescoço, sentindo seu cheiro doce invadir minhas narinas.
- Sua mãe pode entrar, e se ela me ver assim?
Puxei a coberta cobrindo nossos corpos sobre a cama.
- Pronto, assim está melhor para a senhorita?
Jennie não respondeu, apenas se virando com o rosto de frente para o meu. Seu dedo passou a desenhar a linha do meu maxilar, passando sobre meus lábios até chegar em meu queixo, que ela puxou com cuidado selando nossos lábios rapidamente.
Assumo que meu braço estava me incomodando um pouco naquela posição de lado, mas eu não iria interrompê-la agora, logo agora que eu poderia senti-los com calma, sem que nenhum medico ou Rosé entrasse para atrapalhar.
Era tão calmo que me fazia sentir nas nuvens. Seus lábios aveludados me fazendo esvair de todo o peso que senti durante todos esses dias no hospital. Ela tinha esse poder, de somente com um beijo, me fazer sentir como eu mesma novamente.
Ela os separou. Mantive meus olhos fechados até ter certeza de que ela não continuaria, os abrindo ao perceber que não.
Foi ai que vi seu sorriso, me parecia tão estranho, mas era tão lindo. Era um sorriso novo para mim. Foquei em seus olhos, vendo os mesmos brilharem com algumas lagrimas se formando em suas extremidades.
- Porque você tá chorando, bebê?
Passei minha mão a enxugar a primeira que caiu, seguida por varias outras. Fui impedida de continuar ao sentir a mão de Jennie segurar a minha contra a maçã de seu rosto, ali mesmo, me surpreendendo com a ação.
Seus olhos se fecharam enquanto ela parecia sentir o toque. Aquilo me parecia tão novo. Eu nunca havia visto ela tão sensível, tão frágil. E ollha que já vi ela em estados parecidos varias vezes, mas não tanto quanto agora.
- Eu te amo! - Disse entre soluços.
- Ei, eu também amo você! - Respondi rapidamente, mas ainda preocupada.
Não entendi muito o que estava acontecendo, então apenas tentei me aproximar mais, grudando nossas testas enquanto sentia sua respiração agitada contra meu rosto. Ainda era possível sentir seu corpo nu e gelado contra o meu.
Fechei os olhos, agora ouvindo apenas seu soluço baixinho, enquanto suas lagrimas ainda molhavam minha mão.
Depois de muito tempo assim, sua respiração pareceu ficar mais leve e o soluço passou. Ela havia dormido contra o meu peito.
Fiz o máximo de esforço, tentando não acordá-la ao sair da cama e sentar na cadeira de rodas, antes cobrindo melhor seu corpo para que não sentisse frio.
Eu teria preferido usar muletas, mas como poderia usar sendo que meu braço também está machucado?
E falando em cadeira, ela virou um grande motivo de zoação. Rosé não parou de azucrinar minha cabeça nem por um segundo, rindo da minha cara e dizendo: "Foi o Latreu, não foi?"
Eu juro que não entendo como ela pode fazer esse tipo de piada ao ver minha situação. Juro que desejei atropelar ela com essa cadeira.
- Filha? Pensei que você estava dormindo. - Minha mãe disse ao me ver atravessar o corredor. - Está tudo bem?
- Tá sim, mãe! Só sai um pouco pra Jennie poder dormir.
Passei com dificuldade pelo espaço entre a bancada da cozinha e a geladeira, tudo isso pra pegar um iogurte.
- Ela deve está bastante cansada mesmo. - Assenti voltando até a sala. - Mas você, não está cansada também não?
- Não, acho que já dormi o suficiente durante esses dias. - Tirei a tampinha, não deixando nenhuma gota do iogurte na mesma.
- Você vai querer ajuda pra arrumar suas coisas? Precisa fazer suas malas ainda hoje.
- Eu sei que já perguntei isso um monte de vezes, mas, tem certeza de que não é melhor eu ficar aqui?
- É melhor você ir pra lá, filha, assim não fico preocupada e posso ficar de olho em você.
- Mas e como vai ficar a Jen por aqui?
- Bem, não é como se ela dependesse de você ficar aqui. E até ela concorda em você ir.
- Mas eu tô preocupada, ela tá meio estranha.
- Só porque ela aceitou de boa você ir?
- Isso também, mas não é só isso. Ela parece meio distante e avoada esses dias, parece desligada do mundo real.
- Isso nós percebemos, mas é normal. Ela ama muito você, e te ver daquele jeito de novo foi demais. Ainda mais porque ela ainda estava se recuperando do que aconteceu antes.
- Eu sei, mas não é só isso. - Coloquei o potinho que esvaziei em questão de segundos em cima da mesinha de centro. - A gente deitou um pouquinho ali, eu a abracei e do nada ela começou a chorar, chorou tanto que soluçou. Foi assim até dormir.
- Deve ser a emoção de ver você bem, a ficha só deve ter caído agora.
- Deve ser, mas foi estranho. Até o jeito como ela estava me olhando. Parecia mais que estava triste do que feliz.
Seus olhos não me passavam alegria, e analisando melhor o seu sorriso, ele também não me parecia feliz.
- Isso é coisa da sua cabeça, Lisa. Para de ficar matutando sempre como se tivesse algo de errado, ai você vai perceber que não é nada.
- Okay.
Minha mãe se levantou saindo dali. Sai da cadeira deitando no sofá. Liguei a tv e coloquei um filme infantil qualquer. Não foi como se eu tivesse conseguido prestar muita atenção por muito tempo, e nem como se fosse parar de matutar os pensamentos em minha mente.
Eu espero muito que minha mãe esteja certa, mas enquanto não tiver certeza, minha mente vai ficar criando as mil teorias da conspiração. Entre elas alguma tem que está no mínimo certa, porque sempre estão.
...
Vocês já tentaram tomar banho com uma mão e uma perna amarrados ou imobilizados? Se não, nunca tentem, é impossível. Ainda mais pra mim que inventei de fazer sozinha.
No hospital era fácil, tinha uma cadeira especial pra isso e o banheiro estava adaptado. Aqui, tudo o que eu tinha era a opção entre a banheira e o chuveiro.
Na banheira, eu me afogaria do jeito que sou muito sortuda, e não posso molhar a merda desse gesso. E no chuveiro, eu cairia, e também molharia a merda do gesso.
Alguém me fala onde fica o primeiro ônibus pra morte, porque eu tô achando que é mais fácil pegar ele agora.
- Tá conseguindo? - Jennie perguntou já sabendo que não. - Não né?
- Não, não vem dizer que já sabia agora não. - Disse logo vendo sua cara debochada a me ver ainda sem se quer me molhar.
Estava apoiada na pia com só uma mão e a outra perna sem nem se quer tocar o chão. Já imaginou a queda que eu poderia facilmente levar aqui do jeito que sou sortuda?
- Você tava toda chata ali dizendo: não, eu consigo sozinha. - Ela fez aquela voizinha irritante de quando sabe que está certa ao me imitar. - Agora tá ai, sem nem se quer ter se molhado.
- Pode parar de me humilhar agora e me ajudar?
- Agora você quer ajuda? - Colocou a mão na cintura. Ela só queria que eu dissesse, pra vencer.
- Quero. - Não evitei o bico dengoso ao dizer.
Jennie riu negando com a cabeça, finalmente me ajudando a ir até o chuveiro.
Depois de tomar meu banho, vesti, com dificuldade, uma calça moletom e uma blusa branca larga. Jennie me ajudou a pentear o cabelo e eu fiquei me sentindo uma idosa em um asilo, mas tudo bem.
Como eu vou viajar amanhã, e Jennie não vai comigo, nós decidimos sair pra passear um pouco, já que andar não é comigo. Então vamos ir até um lanche a três quarteirões daqui, pra espairecer um pouco e passar juntas enquanto não vou.
Jennie me obrigou a colocar um moletom por cima da blusa, era o mesmo que ela havia usado todos esses dias no hospital, mas logico que agora estava limpo.
Jeremy nos cumprimentou ao passarmos pela portaria e logo Jennie andou ao meu lado enquanto eu conduzia a cadeira elétrica.
Sabe quando você era criança e era doida pra brincar com essas cadeiras? Então, não parece ser tão divertido agora.
Eu juro que acho não existir nada mais vergonhoso do que andar com isso pela rua. Puta que pariu, meus amigos! As pessoas não param de olhar pra você e só faltam tirar foto. Me senti um animal de zoológico solto na rua.
Depois da lanchonete, fomos até um parque ali perto. Eu não poderia ir muito longe minha mãe me fez prometer que não faria.
- Aqui tá bom, chega de andar.
- Sorte a sua que ainda tá podendo.
- Não fala assim, até parece que nunca vai melhorar. Foi só uma fratura, daqui um mês já melhora.
- Eu sei, mas é chato. Não posso nem fazer o que quero.
- Diz o que você quer fazer então. - Se sentou de lado no banco, colocando uma das pernas sobre a outra.
- Andar.
- Isso eu sei. - Riu. - Mas pra você está falando assim, deve ter outra coisa.
- Não sei, acho que é chato demais ter vocês me ajudando em tudo. Comigo andando pelo menos não seria tão difícil fazer minhas coisas. Nem dirigir mais posso.
Sinto tanta falta do meu carro.
- Agora você entende como o Will se sentia. - Ficou ereta no banco, desviando seus olhos de mim.
- Will?
- O de Como eu era antes de você. - Respondeu.
Murmurei finalmente lembrando.
Como eu era antes de você é um filme muito bom, mas não do tipo que eu gosto. Acho que não curto muito a ideia de finais tristes.
- Preferia não entender.
- Se olhar, a nossa historia parece um pouco com a do filme. - Sua voz parecia pensativa ao permanecer olhando ao longe, com a vista distante do Rio Hudson.
- Não sabia que minha mãe tinha contratado você pra cuidar de mim por eu ser tetraplégica. Na verdade, nem de ser tetraplégica eu me lembro. - Disse brincalhona.
- Não nisso, sua besta. - Riu negando com a cabeça. - Eu digo a forma do amor deles.
- Ainda não vejo semelhança. Não me lembro de ter ao casamento da minha ex com você, não lembro de ter dito que você era a única coisa que me fazia acordar de manhã, e muito menos lembro de fugirmos do casamento em uma cadeira de rodas ao som de Photograph do Ed Sheeran.
- Muito engraçado. - Forçou uma risada. - Mas não é disso que tô falando.
- Você vai precisar ser mais especifica então, porque eu tô boiando aqui. Ah não, pera. - Olhei pra minhas pernas. - Provavelmente eu estaria afun-
- Se você fizer alguma piada sobre está nessa cadeira, eu juro que te derrubo dela. - Meu sorriso arteiro murchou antes mesmo de terminar a piada.
- Estraga prazeres. - Desviei o rosto, cruzando os braços.
- Bom, pensa bem, o amor deles parecia impossível, não parecia?
- Não pra mim. Acho que eles poderiam ter ficado juntos, se o Will não tivesse decidido que não era bom o suficiente pra ela. Mas ainda sim não julgo a decisão dele, ele havia vivido demais, e ela aparentemente pouco. Pra ele, ela não iria conseguir aproveitar a vida de fato se eles ficassem juntos.
- E ela de fato não iria. Eram muitos empecilhos, ele poderia se machucar demais e sempre ia precisar de atenção. Pra ele, ela se machucaria mais ainda por ter que cuidar dele, seria frustrante.
- Na minha opinião, ela aproveitou mais a vida com ele do que sem. As pessoas concordam com esse ponto de vista porque não leram os livros.
- O que tem nos livros?
- Ela não viveu feliz, ela sempre parecia presa a memoria da morte dele, da forma que ela falhou em não salva-lo. Ela literalmente virou uma alcóolatra vivendo uma vida totalmente diferente da que era quando e antes de está com ele. Ela perdeu a essência.
- Então você acha que ela teria vivido melhor se ele tivesse decidido viver? - Assenti. - Mesmo que machucasse algumas vezes? Quando ela fosse ter que ver ele quase morrer com uma pneumonia, ou simplesmente de uma gripe? Quando ela tivesse que ver ele triste por não conseguir ser o que ela precisava na hora? Você não acha que a dor dela seria maior vendo ele vivo e sofrendo do que vendo que ele morreu e finalmente está livre daquela prisão que ele estava?
- Ai eu não sei, eu não sou a Lou.
- Mas e se fosse, você preferiria ver o amor da sua vida sofrendo varias e varias vezes, ou que ele pudesse finalmente ser livre da dor, na morte?
Jennie basicamente me colocou contra a parede agora, pois nunca parei pra pensar por esse lado, de que ele acabaria sendo infeliz de qualquer jeito, e ela também, por ver ele infeliz.
- Acho que agora você me pegou...
- Eles fizeram boas memorias juntos, mas assim como a memoria do Will sobre Paris poderia ser apagada se ele fosse pra lá daquele jeito, as melhores memorias deles juntos não iriam valer com o tempo. De tantos momentos ruins, de dor e arrependimento, iriam substituir o bem. Por isso, o melhor seria ele guardar as boas memorias apenas, ao invés de decidir viver as ruins de modo que as boas não iriam fazer diferença.
- É, talvez eu não tenha pensado por esse lado. - Silencio.
Okay, essa conversa me trouxe uma nova forma de ver. Mas agora, eu preciso entender como diabos chegamos a ela, e porque.
- Mas ainda sim não entendo como nossa relação se assemelha a deles. Não é impossível, já que eu não estou infeliz com nada. Você está infeliz?
- Não. - Disse baixo.
- Então não vejo semelhança. Logico, como o Will eu penso que não sou o suficiente pra você, mas ainda sim consigo ver um futuro feliz pra gente. Acho que com você eu nunca me sentiria frustrada.
- Em algum momento você sempre sente. Nem que seja um mínimo sentimento de impotência, de que essa pessoa estaria melhor sem você. - Aquela conversa já estava aparecendo triste demais pra mim, mas eu queria saber até onde iria levar.
- Você acha que eu estaria melhor sem você?
- Não sei. Talvez... - Ergueu os ombros duvidosa.
- Eu acho que nunca estive tão bem agora que tenho você. - Franziu o rosto me encarando naquela cadeira. - Okay, esse momento aqui meio que vai contra o que eu disse, mas não, ele não muda nada.
- Não mesmo?
- Não é porque parece que eu acordei depois de passar uma noite com o Latreu, - Jennie riu revirando os olhos. - Que significa que eu não esteja bem.
- Se você diz...
- É serio. - Me esforcei para sair da cadeira e ir pro banco.
Deitei com a cabeça em sua coxa e observei seu rosto sobre o meu, fazendo sombra com a luz acima de nós.
- Eu literalmente acho que nunca me senti tão bem comigo mesma, não antes de você aparecer.
- Como sua namorada ou sua melhor amiga?
- Os dois. De inicio você já me ajudou muito, e depois que ficamos mais próximas eu só sinto que melhorei mais. Os nossos momentos me ajudaram a melhorar. - Jennie me olhou com um sorriso terno decorando seus lábios.
- E você acha mesmo que nada mais poderia acabar apagando eles? Assim como faria com o Will e a Lou.
- Eu não diria que somos mais fortes do que eles, mas acho que sim. Afinal, já passamos por bastante coisas bem ruins, e mesmo assim estamos aqui. Nenhuma memória boa parece ter sumido, pelo contrário, quanto mais estou próxima de você, mas vivas elas ficam.
Meu estômago parecia borbulhar com as borboletas dançando loucamente dentro do mesmo, não me evitando sorrir. Meu coração acelerava como nunca, até parecia ser a primeira vez que eu demonstrava e pensava no quanto ela era importante pra mim.
Jennie novamente sorriu, dessa vez apenas curvando os lábios o suficiente até que seu nariz ficasse enrugadinho. Seus olhos se fecharam com o ato, acelerando mais ainda meu coração com aquela carinha fofa.
Abaixou seu rosto até o meu e novamente selou nossos lábios. Senti explodir dentro de mim tudo aquilo que eu sentia por ela, cada molécula do meu corpo parecia vibrar com aquele tão singelo toque de lábios.
Engraçado como tudo naquele dia parecia está mais forte, cada beijo, cada palavra, cada mínimo olhar se tornava um momento importante em minha memoria. Eram essas as minhas novas boas memorias que com toda certeza comandariam minha mente por um longo tempo, até que as novas vinhessem, pois eu acredito que ainda teremos muito mais.
Eu acreditava*
- O que você acha de a gente fazer agora? - Jennie falou ainda com o rosto próximo ao meu.
- O que? - Disse rápido, não conseguindo esconder o rubor com os pensamentos que me tomaram.
Assumo que minha mente levou essa pergunta pra um quarto mais vermelho agora. Se é que vocês me entendem.
- Boas memórias. O que você pensou que seria? - Arregalou os olhos com um sorriso confuso.
- Nada não, deixa quieto. - Ri me pondo sentada no banco.
- Pelo amor de Deus, Lisa!
- O que? - Disse estridente. Eu estava morrendo de vergonha por ter pensado isso.
- Você pensou besteira. Sua poluída! - Jennie estava rindo da minha desgraça enquanto desferia tapas em meu braço bom.
- Para!
- Você tá vermelha! - Se Jennie não parar de rir de mim vocês vão ver o mais novo cosplay de tomate. - Sua poluída!
Sua risada estridente me faria rir, se não fosse eu o motivo da piada.
- Já chega, por favor! - Levantei o braço, me aproveitando do gesso para tampar melhor o rosto.
- Tudo bem, minha poluidinha, eu paro! - Jennie abaixou meu braço com cuidado. Seu sorriso arteiro ainda tomando conta de seu rosto vermelho. -Tão fofa quando tá com vergonha. - Apertou minhas bochechas.
Perai, quando os papeis mudaram aqui?
- Tá bom, chega!
- Certo, minha poluidinha mandona. - Cerrei os olhos indignada. - Okay, parei! - Se levantou ficando a minha frente. - Agora, vamos!
- Pra onde?
- Fazer bons momentos, como a Lou e o Will. - Me estendeu a mão.
- Como assim como eles? - Peguei sua mão, me apoiando em uma perna e sentando de volta na cadeira de rodas.
Jennie logo sentou no meu colo, sem explicar nada. Primeiro tomando cuidado pra não magoar a perna engessada.
- Ah não!
- Você não disse que não lembra de ter andando de cadeira de rodas ao som de Photograph do Ed Sheeran? - Ela é doida. - Então, vamos lá! - Pegou o celular e logo a melodia começou.
- Jen , estamos em uma praça, em publico! - Avisei olhando ao redor.
Não haviam muitas pessoas ali, mas mesmo as poucas já olhavam para aquela cena, onde Jennie estava sentada de lado em meu colo com um sorriso arteiro, enquanto seus braços rodeavam meu pescoço.
- Vamos dar assunto pra esses idiotas! - Sorriu alegre com a própria referencia ao filme.
- Você é doida!
- Talvez, um pouco só.
Comecei a andar com a cadeira pela calçada. Jennie jogou o pescoço pra trás sorrindo feito uma criança. Sua energia brilhava, me tomando junto, e me fazendo acelerar mais a cadeira ao máximo.
When it gets hard, you know it can get hard sometimes It is the only thing makes us feel alive
Ela pegou o celular e começou agora a nos gravar.
We keep this love in a photograph We made these memories for ourselves Where our eyes are never closing Hearts are never broken And time's forever frozen, still
- As pessoas estão olhando. - Avisei novamente.
-Deixa olharem. A GENTE SÓ ESTÁ VIVENDO! - Gritou no final ainda com o celular gravando.
When I'm away, I will remember how you kissed me Under the lamppost back on Sixth street Hearing you whisper through the phone "Wait for me to come home"
Eu ria da energia caótica que estávamos passando, mas ainda sim me sentia viva com aquele novo momento. Fomos pra casa desse jeito. E dessa vez não pareceu ser tão vergonhoso passar pelas ruas naquela cadeira, por eu não está ligando pras pessoas, mas sim pra ela.
Tão viva e sorridente quanto uma criança com uma caixa. Era tão simples, mas tão animador perceber o quanto posso e sou feliz com ela, até nas situações mais constrangedoras.
Já passava das onze da noite, o que significa? Sim, significa que minha mãe quase engoliu eu e Jennie vivas. Foi um discurso de uns quarenta minutos sobre o quanto isso foi irresponsável, como deixei ela preocupada, que eu poderia ter pegado um resfriado nesse frio. Ela só faltou dizer que eu poderia ter pegado tétano de tanta doença que falou que eu poderia ter pego.
- As meninas estão zoando a gente no grupo. - Jennie disse se deitando ao meu lado.
- Cadê? - Me aproximei e ela esticou o braço mostrando a conversa. - Você mandou o vídeo no grupo?
- Mandei. - Sorriu digitando alguma coisa pra elas.
- Elas são literalmente as pessoas que mais ririam ao ver a gente correndo em uma cadeira de rodas pelas ruas de Nova York.
- Sim, mas depois iriam querer fazer também.
- Verdade. Então até que tudo bem.
De fato, se duvidar até briga pra ver quem iria primeiro daria. Elas são doidas. Voltei a assistir tv enquanto Jennie ainda conversava com elas.
- A Rosie quer que a gente passe lá no dormitório antes de ir pro aeroporto. - Disse novamente chamando minha atenção.
- Porque elas não vem aqui?
- Não sei, acho que elas só não querem mesmo. - Deu de ombros.
- Não sei se minha mãe vai querer dirigir até lá, e eu não posso dirigir.
- Eu preciso aprender a dirigir urgentemente. Como vou fazer pra ir pra faculdade nesses dias que você não vai está aqui?
- Eu te ensino quando voltar. E enquanto não, é só pedir pras meninas virem te buscar, a Jisoo vai ficar com o meu carro mesmo. - Jennie largou o celular, me abraçando de lado e escondendo seu rosto contra meu pescoço. - Por favor, pede pra ela cuidar bem dele. E de você também. - Jennie riu fraco, sua respiração quente arrepiou a pele nua da minha nuca.
- Eu vou sentir sua falta. - Um beijo molhado agora foi depositado no local.
- Eu também vou, muito.
Virei o rosto, o deixando a centímetros do seu agora. Nos mantivemos assim, apenas observando uma a outra, marcando cada detalhe em nossas mentes.
Então ela me beijou. Foi um beijo demorado, sem nenhum toque agressivo, por mais que eu quisesse muito aproveitar aquela noite. Era calmo, apenas pra marcar, ter ele em meus lábios antes de ir embora. Queria poder levar o gosto dele comigo, ou ela pra ser mais exata.
Sua boca tocando levemente a minha me hipnotizou, travou ali. Sua calma, cuidado, certeza de que tínhamos todo o tempo do mundo. Eu estava iludida, sendo perdida na sua falsidade tão descarada. Enquanto seus lábios mentiam na minha cara.
- Eu te amo! - Disse pausadamente ao distribuir vários selinhos ao redor da sua boca macia.
- Eu também.
"Eu também"
Em pensar que o seu ultimo eu te amo seria assim...
O que começou com palavras de verdade, se transformou em apenas dizer o que eu queria ouvir.
Foi por isso que você decidiu por termos aquele momento? Para guardar ele na minha mente como a ultima vez que fomos felizes juntas? Aposto que aquele beijo também foi uma forma de se despedir, já que você já parecia ter planejado tudo.
Assumo, você conseguiu me enganar muito bem com aquele choro fajuto, ou o medo de me perder. Me fez dizer que lutaria por nós duas quando você já havia desistido.
Eu não poderia lutar essa sozinha. E por mais que quisesse, você me destruiu antes disso.