(Park YoungMi)
"Não há como ninguém te salvar, você está presa, ele não vai te salvar"
Aquelas palavras, aquela voz, se repetia várias e várias vezes na minha cabeça - chegando a me causar dores e calafrios.
O Hyung não me deixaria. Ele não se esqueceria de mim. Sim, ele vai me achar, não vai? Ele é um policial muito habilidoso, ele vai me achar com certeza, é o que eu quero (preciso) acreditar.
Está tudo escuro - desde que eu cheguei aqui sempre esteve escuro - me encolho mais abraçando minhas próprias pernas, cantarolo baixo a música que mamãe e o Hyung cantavam pra mim.
그대의 손을 잡고 이 길을 걸어요
(Andando pelas ruas de mãos dadas contigo,)
햇살에 반짝이는 저 강빛 따라서
(acompanhamos o rio que brilha sob a luz do sol)
코끝을 감싸오는 그대의 향기도
(O seu cheiro envolve a ponta do meu nariz)
오 너와 나 우리 둘이네요
(Oh você e eu ... nós dois.)파랗게 맑은 하늘 새하얀 구름과
(O céu azul claro, as nuvens brancas,)
옷깃을 스쳐가는 포근한 바람들
(e a brisa quente passando pelas nossas roupas)
그대와 마주보는 찬란한 이 표정에
(Com um brilho no rosto eu fico te olhando)오 너와 나 우리 둘이에요
(Oh...você e eu...nós dois.)
라 라라리 라라~
(la lalari lala~)
어느새 나도 몰래 콧노래 부르며
(De repente eu começo a cantarolar sem eu mesmo perceber.)오 너와 나 우리 둘이에요
(Oh...eu e você...nós dois.)
라 라라리 라라~
(la lalari lala~)Perdi a noção do tempo que estava ali no escuro, mas sempre vinham me dar comida e água, na verdade se limitavam a passar por uma abertura abaixo na porta. Um deles - que não era igual aos outros - vinha me visitar escondido, de algum jeito viramos amigos, ele sempre dava três batidas na porta de ferro e entrava sem deixar que nenhum feixe de luz atingisse o quarto.
Exatamente como fez agora.
- Ouvi você cantar - o quarto é um breu total, nunca fui capaz de ver seu rosto, apenas ouço sua voz como todas as vezes.
- É minha música preferida - sorrio, mesmo sabendo que ele não vai ver - Já é tarde?
- Sim, não sabem que eu estou aqui - ouço seus passos que me alcançam e ele se senta ao meu lado.
- Boa noite, Minseok - formo um beicinho com os lábios e resmungo - Está se arriscando demais.
- Boa noite, YoungMi- o ouço rir baixo, sinto sua mão puxar a minha a segurar sobre o chão frio - Pode cantar sua música preferida de novo?
- Eu estou andando na rua segurando sua mão~
Cantarolo até sentir meus olhos pesarem, encosto minha cabeça no ombro de Minseok. Não sei quando adormeci, mas quando acordei, ele não estava mais lá.
(Jung YuRa)
Acordei simplesmente atrasada pra tudo, eu ia finalmente desfazer minhas caixas de mudança - que estão há meses espalhadas pelo apartamento - ir no mercado e finalmente pegar o resultado do exame/autópsia do corpo de delito.
Não fiz nada disso e ainda estava correndo em direção do hospital para pegar os resultados. De uns tempos pra cá eu sinto que estou correndo muito? Ao chegar no hospital sou guiada para a sala da legista, bato a porta e entro pedindo licença, parece que eu não sou a única que veio pegar os resultados. Cabelo de tomate.
- A senhorita é? - A doutora diz atenciosamente.
- Annyeonghaseyo YuRa imnida - me curvo por alguns segundos e ela faz o mesmo- sou a policial da delegacia Munchung!
- Annyeonghaseyo Annie imnida - ela sorri - Vocês vieram juntos?
- Não! - dizemos ao mesmo tempo.
- Ahm... Não veio para saber sobre a jovem - ela checa sua prancheta - Kim SooJung?
- Sim! - novamente respondemos juntos, o encaro - Não viemos juntos, mas sim é pelo mesmo motivo.
- Isso - ele cruza os braços.
- Foi o que eu quis dizer - ela comprime os lábios - enfim vamos começar.
Aproximo-me da mesa em que o corpo se encontra coberto, a médica nos disponibiliza máscaras e todos nós as vestimos sem dificuldade. Ela abaixa o lençol exibindo o corpo sem vida da jovem, já estava acostumada com situações assim, mas ainda assim me sentia triste - e um pouco culpada por saber que podia ter evitado aquilo.
- Evidentemente a morte não foi causada por conta da queda, se vocês observarem o braço direito - ela aponta para o mesmo - Podem ver que existe uma marca, que foi deixada por uma agulha, exatamente aqui.
- Ela injetou alguma droga em si mesma? - pergunto olhando para o lugar apontado.
- Não exatamente drogas, mas sim um tipo específico de veneno... Talvez Nerfetarin? - Jimin-ssi diz olhando para doutora depois para o corpo - Pelo jeito que as veias ficaram.
- Sim, Nerfetarin - ela assente com a cabeça - Mas ela não fez isso sozinha, sua morte foi dada ás onze horas da manhã e vocês chegaram já às duas da tarde. Ela já estava morta, então alguém teve que jogar o corpo.
- Não foi um suicídio - penso alto me lembrando das palavras (de alguns dias atrás) do Jimin.
- Mas também não existem marcas sobre a resistência da vítima- Jimin diz ainda de braços cruzados, eu não tinha reparado, mas ele fica bonito com camisas sociais. Aigoo, concentração YuRa!
- Exatamente - a médica diz cobrindo o corpo - Acho que temos que pensar nessa mulher como um "homem bomba".
- Homem bomba? - pergunto confusa.
- Então ela morreu em consentimento, por talvez, algo maior do que esperávamos...
Jimin diz e se retira da sala após suas palavras, encaro a doutora Annie por alguns segundos, forço um sorriso - como se estivesse pedindo desculpas pelos os péssimos hábitos do meu sunbaenim - me curvo e saio atrás do cabelo de tomate. O vejo falando no celular perto da rua, não consigo evitar pensar "Aish, eu não acredito nisso" me aproximo aos poucos com uma cara desgostosa.
- Algo de errado? - digo assim que ele desliga o celular, ele me encara e depois olha para frente. Encosto-me a parede ficando ao seu lado.
- Na verdade não.
- Então porque saiu da sala sem dizer nada? - faço um bico e resmungo baixo - Pensei que tinha algo sério para tratar.
- Eu sou silencioso. Deveria tentar ás vezes - ele estende o braço em direção a rua.
- O que quer dizer com isso? - cruzo meus braços.
- Que você fala demais - ele acena e entra no táxi que para a nossa frente. Aish, esse moleque, bufo e caminho em direção ao hospital para pegar a cópia do fichamento da autópsia.
- Aqui está - a médica Annie me entrega - Ah e o professor Jimin esqueceu esse envelope aqui.
- Além de tudo ele deixa suas coisas para trás - sussurro olhando o envelope.
- Como?
- Não é nada - rio de nervoso - Eu entregarei para ele, obrigada!
Sorrio e me retiro da sala em passos largos, eu e minha mania de pensar alto, aish!