Nova Fuga

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- Não te falei que era uma casa! - afirmou Pardal com alegria.

- Vamos olhar aqui de longe, parece que tem movimento.

Os dois amigos ficaram em silêncio por alguns minutos.

- Olha, Carlinhos, tem um grande movimento de jovens chegando.

- É verdade, vamos nos aproximar com cuidado e ver o que está acontecendo.

A casa, que parecia ser pequena vista de longe, era muito grande; na verdade não era uma casa, mas um amplo armazém iluminado.

Pardal e Carlinhos, agachados, se aproximaram cuidadosamente e ficaram observando.

- Parece que irá acontecer uma grande festa. Tem até palco! - Disse Pardal.

- Pardal, preste atenção, veja o rosto dos jovens...

- Que estranho! Eles parecem estar dopados ou coisa assim...

- É mesmo, parecem estar de olhos vidrados, hipnotizados, sei lá o quê...

- Precisamos tomar cuidado, Pardal! Veja, alguns parecem tomar conta da maioria...

- É verdade, Carlinhos, aqueles ali parecem conduzir a massa.

- Nossa! Parecem zumbis, são comandados pelos outros.

- É melhor irmos embora daqui, Carlinhos.

- Esse lugar é muito louco mesmo, não estou entendendo mais nada, vamos embora.

No momento em que os dois amigos se viraram para sair daquele lugar, uma voz se fez ouvir:

- Podem ficar para a festa! Vocês são meus convidados.

A voz vinha de um jovem de dezoito anos aproximadamente.

- Preciso ir embora, meus pais devem estar preocupados... - argumentou Carlinhos surpreendido.

- Ah ah ah ah ah..., essa é boa..., pais preocupados? Deixem de ser frouxos, ainda não saíram da barra da saia da mamãe? Vamos lá, tem muita música e bebida, não vão faltar gatinhas pra vocês aproveitarem. E tem mais, o Chacal vai falar com a galera hoje.

Pardal e Carlinhos, assustados, se entreolharam e preferiram aceitar o convite.

Eles caminharam na frente e o jovem atrás deles.

- Podem me chamar de Fael...

- Eu sou o Carlinhos e ele é o Pardal!

- Vamos aproveitar que hoje a balada vai ser poderosa.

Eles entraram e se surpreenderam com o tamanho do armazém.

Eram muitos jovens, muitos mesmo.

Garotos e garotas, todos fumando e de copo na mão.

A bebida rolava solta.

A música era de difícil compreensão, não era rock nem rap, muito menos hip-hop.

Eram acordes diferentes; uma banda tocava as músicas.

Carlinhos gostava muito de rock, não compreendia que ritmo louco era aquele.

Pardal olhava para o amigo e, pelo olhar, pedia para que fugissem dali.

Fael, que os havia abordado, dançava freneticamente.

Carlinhos aproximou-se do ouvido do Pardal e falou:

- Nós não estamos presos aqui...

- O quê? - indagou Pardal sem ouvir direito.

- Nós não estamos presos aqui... O Fael nos chamou pra entrar porque todos os jovens vêm pra cá se divertir...

- Mas que tipo de diversão é essa? Esse pessoal tá maluco...

- Sei lá... Vamos disfarçando e caminhando pra saída.

- Vamos, sim.

Pardal ia à frente, mas, ao aproximar-se da entrada, viu chegando de fora aquela gangue que os havia perseguido.

Imediatamente ele se virou para Carlinhos e o empurrou para o interior do grande salão.

- O que foi, Pardal?

- Anda logo, anda logo, aquela gangue que estava atrás da gente está chegando aqui...

- Vamos nos misturar com o pessoal que está no meio do armazém... lá está mais movimentado.

Rapidamente eles sumiram no meio dos outros jovens. Naquele exato momento a música parou.

A banda parou e do microfone se aproximou um garoto estranho com roupas esquisitas.

Óculos escuros, capa escura, gola levantada, botas de cano alto reluzentes, uma bandana preta na cabeça e calças pretas apertadas.

Mesmo antes de ele começar a falar, a maioria dos jovens presentes gritava de maneira inflamada:

- Chacal... Chacal... Chacal...

Lado a lado, os dois amigos assistiam a tudo sem acreditar.

Mas eles iriam se surpreender ainda mais, pois se colocou entre eles uma linda garota.

Morena de olhos verdes e translúcidos, cabelos pretos e cacheados, silhueta extremamente delicada, com contornos femininos e atraentes.

Ela estava entre os dois amigos que, para se olharem, tinham que se curvar para frente ou para trás da bela garota.

Delicadamente, ela virou a cabeça para a direita e para a esquerda:

- Atrapalho vocês? - indagou fazendo-os conhecer sua voz melodiosa.

- Nã..., nã..., não... - gaguejou Pardal.

- É claro que não - afirmou Carlinhos se recompondo.

- Vocês estão sempre aqui?

- É nossa primeira vez - avisou Pardal.

- Meu nome é Cristina, mas podem me chamar de Cris.

- O meu é Luiz Roberto Passarinho, mas pode me chamar de Pardal.

- Sou o Carlinhos...

- Faz tempo que vocês vieram pra cá?

- Pra falar a verdade, nem sabemos que lugar é esse e como viemos parar aqui - alertou Pardal sem tirar os olhos da garota.

- Todos dizem a mesma coisa... - Cris falou com ironia.

- Você poderia nos dizer onde estamos? - questionou Carlinhos.

- Vocês estão... - ela foi interrompida pela voz do Chacal, que ecoou portentosa no grande armazém.


Fugindo Para ViverOnde histórias criam vida. Descubra agora