Fugindo Para Viver

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Os dois amigos se revezaram na curta noite de sono.
Pardal dormiu sentado, vencido pelo cansaço, Carlinhos adormeceu como um contorcionista.
Os dois despertaram com os raios do Sol que penetravam por entre as folhas da frondosa copa daquela árvore.
Eles desceram e beberam um pouco d'água do rio.

- Vamos, Pardal, precisamos caminhar!

- Não podemos perder tempo!

Eles partiram pela mata e caminharam, caminharam...

- Estou faminto - reclamava Carlinhos.

- Idem, Idem...

- Silêncio.

- O que foi?

- Calma, Pardal, espera.

- Não estou ouvindo nada!

- Eu ouvi vozes vindo daquela direção. Vamos por ali.

- Se você está dizendo... Vamos ver de onde vêm essas vozes.

Eles caminharam na direção apontada por Carlinhos.

A mata era espessa, e precisavam abrir caminho com as mãos.

- Olhe, Carlinhos!

- Uma casa!

- Vamos observar daqui, antes de nos aproximarmos.

- Isso mesmo, Pardal, vamos esperar um pouco.

Eles ficaram à espreita, e cerca de uma hora depois...

- Olha, um senhor saiu lá de dentro!

Carlinhos pediu que o amigo ficasse quieto.
Para a surpresa dos dois amigos, o senhor olhava na direção em que eles estavam.
Ele caminhava para o lado dos meninos, que, assustados, prendiam a respiração.
Minutos que pareciam horas se arrastavam, e lá vinha o senhor na direção deles.
Ambos ficaram paralisados sem saber o que fazer. As pernas tremiam, eles transpiravam abundantemente.

O silêncio foi quebrado pela voz do homem:

- Meninos, estão com fome?

Eles se entreolharam

- Podem sair daí, venham, vou lhes preparar alguma coisa para comer.

Como se tivessem sido pegos em flagrante por algo errado, eles saíram da mata.

- Não se envergonhem, venham!

Novamente eles se entreolharam.

- Mas antes de lhes dar algo para comer, quero que me ajudem.

Só nesse momento Carlinhos conseguiu falar:

- No que podemos ajudá-lo, senhor?

- Tudo o que conseguimos pelo nosso esforço tem mais valor, não é?

- Isso mesmo - conseguiu falar Pardal.

- Eu lhes dou comida, e vocês fazem uma tarefa pra mim. Querem?

- Com a fome que estamos fazemos qualquer tarefa - afirmou Pardal, animado.

- Fazemos, sim, pode deixar com a gente!

- Então, vou levar vocês para comer algo. Venham, entrem!

Animados, os amigos seguiram o bondoso senhor para o interior da casa.

- Lívia, Lívia!

- Já vou, vovô.

Uma bela adolescente saiu de outro cômodo da casa.

- Lívia, temos visita!

- Sim, vovô! - disse a bela jovem de olhos fixos em Pardal.

- Prepare alguma coisa para os meninos comerem!

Carlinhos cutucava Pardal com o cotovelo, para que ele se comportasse e parasse de encarar a neta do anfitrião.

- Vamos para a cozinha! - chamou o senhor.

Os dois o seguiram, sentaram-se nas cadeiras indicadas pelo dono da casa e aguardaram pela comida.
O aroma agradável da comida entorpecia os dois amigos famintos.
Os pratos foram postos à mesa.

- Podem se servir! Podem comer, meninos!

- Obrigado, senhor! - agradeceu Carlinhos, já levando a primeira garfada de arroz com feijão à boca.

Enquanto mastigava, observou que Pardal não tocava na comida, pois não tirava os olhos de Lívia.

- Pardal, pode comer.
- Hã...
- Eu disse pra você comer! Desculpe o meu amigo, senhor! Pardal!!!

- Ah, sim..., desculpe...

Eles almoçaram com satisfação, como há muito não faziam.
- Estão satisfeitos?

- Estamos sim, senhor! - afirmou Pardal.

- Obrigado, senhor! - agradeceu Carlinhos. - Mas qual é a nossa tarefa?

- É fácil, eu e minha neta temos que carregar nossa carroça e levá-la até a cidade. Preciso que vocês me ajudem a carregar a carroça.

- Depois o senhor pode nos dar uma carona?

- Claro que sim. Para onde vocês vão?

- Queremos voltar pra casa... - Carlinhos disse esperançoso.

- E de onde vocês são?

- Somos de São Paulo! - afirmou Pardal. - Senhor, quero lhe perguntar... Que lugar é esse?

- Vocês não sabem?!

- Não, senhor! Pode nos dizer? - indagou Carlinhos.

- Todos que passam por aqui dizem a mesma coisa!

- Não entendi - Carlinhos coçou a cabeça, desconcertado.

- Você não precisa entender! Vocês vão aprender!

Os dois amigos se entreolharam mais uma vez.
O senhor se afastou deles, e Pardal comentou:

- Nesse lugar só da gente pirada!

- Shhhhhhhh! - pediu Carlinhos.

O anfitrião retornou e disse:

- Vamos à tarefa?

- Claro, claro - Pardal concordou.

A jovem prosseguiu na cozinha cuidando das coisas.

- Vamos até lá fora! Vejam, não é muita coisa, é só colocar esses seis sacos de espigas de milho em nossa carroça. Vocês podem fazer isso?
Imediatamente os dois amigos começaram a tarefa. Em poucos minutos concluíram:

- Pronto, senhor, tarefa acabada! - alegrou-se Carlinhos, esfregando uma mão na outra.

- Então, vamos embora levar a carga!

O ancião encilhou o cavalo e deixou tudo pronto para partir.
Ele entrou no interior da casa e rapidamente retornou com a neta.

- Podemos ir, meninos!

Todos se acomodaram na carroça e logo estavam a caminho da cidade.

Próximo Capítulo:
O Vale dos Embriagados

Fugindo Para ViverOnde histórias criam vida. Descubra agora