- Não faço a menor idéia de para onde estamos indo!
- Não podemos parar, Pardal, tenho certeza de que estamos indo para casa. Mas gostaria de sentar um pouco para descansar.
- Tudo bem, Carlinhos! Vamos descansar um pouco.
Eles sentaram sobre a sombra de uma árvore e ficaram em silêncio.
Pardal olhou para o amigo, pois iria fazer uma nova pergunta, mas se deteve.
Ele observa grossas lágrimas que nasciam nos olhos do amigo e desciam pelo rosto cansado.- O que houve, Carlinhos? Por que você está chorando?
- Eu senti a mesma coisa que você sentiu lá na beira do rio, lembra?
- Qual delas? Venho sentindo tantas coisas estranhas que já nem sei mais o que dizer.
- Ouvi minha mãe chorando dentro de mim. Não ouvi com os ouvidos, parece que ela chorava dentro do meu peito. Era tão grande a tristeza dela que acabou sendo minha também.
Pardal sorriu e tentou animar o amigo:
- É um sinal claro de que não podemos desistir! Vamos, Carlinhos, logo estaremos em casa.
Ele enxugou o rosto com o dorso das mãos e disse:
- Pardal, a gente não tá acostumado a dizer essas coisas, mas preciso te dizer...
- Que foi, Carlinhos? Pode falar.
- Você é meu melhor amigo, e acho que eu não conseguiria continuar se não fosse a sua ajuda...
- Você também é um amigão, Carlinhos, me sinto como seu mano de verdade.
- Então, vamos embora, logo iremos chegar em nossa casa!
Os dois sorriram e voltaram a caminhar animados.
Em certo momento da caminhada, eles ouviram:- Ei, ei...
Olharam para trás e viram dois homens acenando com as mãos:
- Esperem por nós!
- Quem serão esses dois, Pardal?
- Nem imagino, mas vamos ficar atentos, todo cuidado é pouco, olha que roupas estranhas eles usam!- Tá certo, qualquer coisa a gente sai correndo...
- Combinado!
Os dois homens se aproximaram e disseram:
- Olá, Carlinhos! Olá, Pardal!
- Vocês nos conhecem? - indagou Pardal
- Claro que sim... eu sou Lael e esse é meu amigo Dutra.
- De onde vocês nos conhecem?
Os dois recém-chegados deram uma gargalhada ao mesmo tempo.
- Ora - respondeu Lael -, estamos sempre com vocês nos momentos de alegria!
- Todas as vezes que vocês tomam uma bebidinha, nós não perdemos o brinde! - afirmou Dutra esfregando as mãos.
- Não estou entendendo nada! - estranhou Carlinhos.
- Somos parceiros de copo! - Lael disse tentando se aproximar de Pardal.
- Não se aproximem! - alertou Pardal.
- Sem crise, garoto; sem crise... - Dutra procurava acalmar a situação.
- Nós não bebemos! - reagiu Carlinhos.
- Não bebem? Que piada é essa, moleque? - Lael alterou a voz ameaçadora.
- Bebem, sim, e nos ajudam a beber também! - afirmou Dutra, com ironia.
- Deve estar havendo algum engano, nem eu nem o Pardal temos o costume de beber - assegurou Carlinhos.
Dutra e Lael caíram na gargalhada mais uma vez.
- Olha aqui, moleques, prestem atenção, nem pensem em deixar de beber; caso contrário, nós iremos pegar vocês, entendeu?
- Seu Dutra - tentou contemporizar Pardal -, acho que está havendo algum engano.
- Seu Dutra, acho que está havendo algum engano - remendou Lael, com profunda ironia.
- Ah ah ah ah ah ah ah... não sejam ridículos, vocês bebem e não vão parar de beber. Eu e meu amigo Lael precisamos que vocês bebam cada vez mais, estamos entendidos? Caso contrário, irão se arrepender!
- Onde já se viu tamanha ingratidão? Estamos aqui para levá-los pra casa e vocês nos recebem assim! - Lael falava com sarcasmo.
- Não precisam se incomodar com a gente, não é Pardal?
- Isso mesmo, seu Dutra, nós iremos sozinhos.
- De jeito nenhum, fazemos questão de acompanhá-los. Não é Lael?
- Claro que sim, afinao não somos amigos apenas de copo. Estamos juntos em todos os momentos.
Novamente os estranhos personagens deram gargalhadas.
Eles se aproximavam dos garotos e colocaram as mãos sobre os ombros de cada um.
Lael ficou ao lado de Pardal, e Dutra colocou a mão direitq na nuca de Carlinhos.- Vamos indo? - indagou Lael.
Pardal e Carlinhos silenciaram, assustados.
- Vamos embora, Lael! - Dutra respondeu a seu amigo.
Após andarem por cerca de quarenta minutos, eles pararam:
- Meninos! Pensaram que iam caminhar sem nenhuma recompensa? - avisou Lael. - Vamos dar um gole agora.
Dutra tirou da parte interna de sua roupa uma garrafa de bebida.
- Pode tomar, garoto.
Ele segurou a nuca de Carlinhos, apertando-a para que o garoto ingerisse o conteúdo da garrafa.
- Eu não quero beber... - recusou-se fechando a boca.
- Como não quer beber? - reagiu Dutra com estupidez.
- Faça-o beber! Ele tem que dar uma golada! - ameaçou Lael.
- Eu bebo! - pediu Pardal.
- Eu sabia que esse tinha mais juízo! - falou Lael sorridente.
- Me passe a garrafa, Dutra!
- Pegue, Lael, dê para ele beber...
- Não sou bebê para que me deem bebida na boca - reclamou Pardal, contrariado.
- Tá certo, tá certo, e como você quer beber, moleque?
- Quero beber como vocês, direto no gargalo!
Carlinhos, sem entender, assistia a tudo preocupado.
- Então, tome de uma golada só, quero ver! - falou com satisfação Dutra.
- Pode deixar, me dê logo essa garrafa!
- Esse é dos nossos, Lael! - Dutra afirmava com alegria.
Lael alegrou-se com o jeito de Pardal e relaxou na marcação.
Pardal, com ironia, com a garrafa na mão, caminhou em direção a Carlinhos. Dutra e Lael observaram com expectativa e curiosidade.- Não posso deixar de brindar ao meu amigo Carlinhos...
- Você ficou louco, Pardal? - Carlinhos desesperava-se.
Pardal ergueu a garrafa e disse:
- Um brinde ao meu amigo...
Ele passou o gargalo da garrafa pelo nariz do amigo e aproximou-se da boca.
Lael e Dutra gargalhavam da atitude do garoto.
Nesse instante, sem que os dois beberrões esperassem, Pardal atirou a garrafa na testa de Dutra, que soltou a nuca de Carlinhos. Ele virou-se com rapidez e empurrou Lael, que, surpreendido, caiu no chão.- Corre, Carlinhos, corre!
Atordoados, Dutra e Lael amaldiçoavam os dois garotos que se afastaram em desabalada.
Eles se recompuseram e Lael afirmou:- Deixe que eles partam... No primeiro gole eles nos atrairão novamente para o lado deles!
**************************
Próximo capítulo: A Pousada
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fugindo Para Viver
SpiritualDois adolescentes, Carlinhos e seu amigo Pardal, convidam os jovens leitores a viver uma grande aventura. Prepare-se, pois você vai fugir junto com os personagens, se emocionar e aprender. Fugindo para viver é atual e comovente, um livro que você va...