A Pousada

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Pessoal, me desculpem por toda essa demora, não estava podendo usar a internet.
Sem mais delongas, abaixo segue a história.

Anoiteceu e os dois estavam axaustos.

-Veja, Pardal! Luzes lá na frente!

- Será uma cidade?

- Não sei, está me parecendo mais uma vila.

- O que vamos fazer? Não aguento mais fugir, Carlinhos.

- Eu também estou cansado, mas não podemos desistir. Meu coração me diz que logo estaremos em casa.

- Tomara; tô com fome!

- Pardal, estamos juntos, já passamos por muitas coisas, falta pouco.

- Depois de escaparmos daqueles bêbados, não tenho medo de mais nada.

- Eles insistiam em dizer que nós gostamos de beber.

- Nós só bebemos quando estamos com a turma da rua. Mas é pura brincadeita, só pra curtir - comentou Pardal.

- É verdade! E eles ficam nos tratando como bêbados iguais a eles!

- Carlinhos, o que eu queria saber mesmo é: como viemos parar nesse mundo? Não consigo me lembrar de como chegamos aqui!

- Acho que teremos a resposta quando voltarmos pra casa!

E a conversa continuou até que eles se aproximaram das luzes:

- Você tinha razão, são poucas casas mesmo!

- Vamos ver se encontramos algo pra comer.

- Olhe aquela casa que parece um sobrado, Carlinhos. Ela está toda iluminada, quem sabe alguém nos ajuda.

Eles caminharam em direção à casa.
Assim que chegaram à frente da porta principal, vacilaram em bater.
Olharam para a entrada e surpreenderam-se, pois ela se abriu.
Com a porta aberta, um quadrado de luz exteriorizava-se na pequena escada de entrada, iluminando os dois amigos.

- Podem entrar, a comida está pronta...

As boas-vindas vinham de uma senhora de rosto iluminado e olhar bondoso.
De novo a mesma cena, eles se entreolharam sem entender. Mas, afinal, a única coisa que fazia sentido naquele momento era o apelo do estômago que pedia comida.
Lado a lado eles subiram os poucos degraus e entratam no sobrado.
Era uma grande sala na qual, em algumas mesas, outros tantos jovens também jantavam.
Todos detiveram seus olhares nos dois recém-chegados.
A senhora, com simpatia, indicou uma mesa próxima à janela.

- Obrigado, senhora! - agradeceu Pardal.

- Obrigado, senhora! - fez o mesmo Carlinhos.

Eles sentaram-se à mesa e, em poucos minutos, após pedirem para lavar as mãos, alimentaram-se com deliciosa sopa.
Naquela grande sala, aproximadamente 25 adolescentes gozavam da hospitalidade da sorridente senhora.
Durante a refeição, ela aproximou-se dos dois amigos e indagou:

- Estão gostando da sopa?

Carlinhos, que acabara de morder uma torrada, respondeu:

- Está uma delícia, senhora!

- Desde que começamos nossa fuga... - sem graça, Pardal tentou consertar - quer dizer, nossa viagem, não nos sentimos tão bem.

- Que bom que vocês estão gostando!

Sem conseguir controlar a curiosidade, Pardal perguntou:

- Senhora, que lugar é esse?

- É uma pousada para jovens que estão de passagem. Recebemos garotos e garotas como vocês todos os dias, aqueles que estão indo e vindo.

- Indo e vindo? De onde pra onde? - indagou Carlinhos.

- De um lado da vida para o outro lado!

Pardal e Carlinhos se olharam e deram de ombros.
Que lugar estranho é esse aqui - Carlinhos pensou.
Cada louco com a sua mania - Pardal deduziu mentalmente.

- Senhora, posso saber seu nome? - Pardal indagou curioso.

- Claro que sim, pode me chamar de dona Modesta.

- Dona Modesta, de todos esses garotos e garotas que estão aqui vão embora? - Carlinhos questionou.

- Não, nem todos - ela respondeu com carinho -, alguns permanecem por um período em readaptação. Outros, como vocês dois, que ainda não tem a situação definida, apenas passam por aqui e são recebidos como viajantes que estão aprendendo.

- Entendi! - Carlinhos piscou para Pardal como a dizer para o amigo ter paciência com dona Modesta.
Educadamente, ela pediu licença e se afastou por um momento.

- Mais uma estranha desse mundo!

- É verdade, Carlinhos, aqui só dá gente maluca!

- Shhhhhhhh, ela tá voltando!

- Vocês podem repousar aqui por essa noite!

- Ah, dona Modesta, nós aceitamos a ajuda, né, Carlinhos?

- É, sim, mas amanhã bem cedo nós continuaremos nossa viagem de volta pra casa.

- Que bom! Existem viagens que só nós podemos fazer, não é verdade?

- É, sim, dona Modesta! - concordou Pardal.

- Bem, quando desejarem se recolher, eu lhes mostro o quarto. Agora está na hora da nossa prece, querem participar?

- Prece??? - estranhou Carlinhos.

- Sim, é aqui mesmo, nesta sala, basta ficar em silêncio e acompanhar mentalmente.
Pardal cutucou o amigo com os pés por baixo da mesa e disse baixinho:

- Não sou chegado nessas coisas, mas já que estamos aqui, vamos participar.

Uma música agradável envolveu o ambiente. Carlinhos colocou o dedo nos lábios e pediu ao amigo silêncio.
Dona Modesta falou por breves minutos sobre a importância da gratidão.
Os jovens presentes ficaram envolvidos pelo agradável clima e se emocionaram com a prece proferida por aquela gentil e "modesta" senhora.

- Você viu, Pardal?! Eu não consegui ficar de olhos fechados; quando olhei pra dona Modesta, ela estava toda iluminada.

- Nem abri meus olhos, Carlinhos, mas me senti muito bem com as palavras dela. Não sei por quê, mas me lembrei de minha avó Dolores que já morreu!

- Credo, Pardal, lembrar logo de quem já morreu.

- Eu não lembrei, ela apareceu dentro da minha cabeça... o que eu podia fazer?

- Tá certo, tá certo, vamos dormir que eu não vejo a hora de voltar pra casa!

- Mas que foi bonito ver a minha avó foi!

- Agora vamos descansar!

- Querem ir descansar, meninos?

- Sim, dona Modesta, podemos ir agora!

- Então, venham comigo!

Os dois amigos se despediram e adormeceram felizes.

Próximo Capítulo:
O REFORMATÓRIO

Fugindo Para ViverOnde histórias criam vida. Descubra agora