Um Mundo Estranho

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- Que lugar estranho é esse? Como é que eu vim parar aqui?

- Ora, ora... se não é o Carlinhos!

- Quem é você? De onde me conhece?

- Você não é o Carlinhos, que tem treze anos e estuda na Escola Estadual Duque de Caxias?

- Isso mesmo... mas não te conheço...

- Mas eu te conheço. Venho te observando faz algum tempo, mas, em todo caso, muito prazer... ah ah ah ah ah...

   O estranho garoto recém-chegado gargalhava de uma maneira esquisita e Carlinhos sentia-se assustado.

- Que lugar é esse? Não conheço esse bairro. Como vim parar aqui?

- Não se lembra de como veio pra cá?

Carlinhos olhava à sua volta e via construções estranhas, jovens esquisitos caminhando.

- Eu não conheço esse lugar nem sei como vim parar aqui. Quero ir pra minha casa. Meus pais devem estar preocupados.

- Que pais?

- Meu pai e minha mãe, é claro!

- E você tem pai e mãe?

- É lógico que tenho!

- Mas aqui você não prescisa mais disso.

- Como assim? Não irei mais vê-los? Você está brincando comigo, não é?

- claro que não estou brincando! Quem gosta de brincar com a vida é você! Lembra?

- Você ta maluco, cara? Não sei que lugar é esse nem como vim parar aqui. Quero ir pra minha casa agora.

- Acho que vai ser meio difícil você voltar pra sua casa.

- Não vai ser não! Eu vou voltar e é agora!

- Será? Ah ah ah ah ah...

   Carlinhos estava confuso com aquela situação. Ele não conhecia aquele lugar, mas tinha certeza de que não seria difícil voltar para casa.
   Em sua mente só um pensamento se repetia: "Eu presciso fugir, meus pais devem estar preocupados com minha demora".
   Ele recordava vagamente que tinha saído da escola com o Pardal, outro garoto, seu parceiro de lá.
   Eles estudavam juntos na mesma classe.
   Haviam combinado de irem embora juntos.
   Sua cabeça estava uma grande confusão.
   O jovem que estava ao seu lado trazia nas mãos uma garrafa com uma bebida de coloração muito bonita. Ele abriu a garrafa e disse:

- Quer um gole, Carlinhos?

- Eu não bebo!

- Não bebe? Ah ah ah ah ah...

- É claro que não...

   Nesse instante, Carlinhos levou a mão à fronte sentindo uma pontada.

- Tome um gole, sua cabeça não vai doer mais! - insistiu o estranho garoto.

- De jeito nenhum...

   Uma gritaria foi ouvida de longe...
   Aos gritos, uma turma de jovens alucinados corria atrás de um garoto, vinham em sua direção; quando chegaram mais perto, ele reconheceu o perseguido: era Pardal, que corria alucinadamente.

- O que está acontecendo? Por que estão correndo atrás do Pardal?

   Carlinhos olhou para o estranho que gargalhava anteriormente e não o viu mais.
   Assim que Pardal avistou Carlinhos, passou a gritar:

- Corre Carlinhos! Corre... eles querem pegar a gente!!!
   Eles gritavam:

- Pega! Pega os dois! Vamos acabar com eles!

   Carlinhos desandou a correr e logo Pardal se emparelhou com ele.
   Lado a lado os dois amigos corriam, desesperadamente, sem saber para onde.
   O medo de serem pegos era tanto que, por vários minutos, eles correram sem querer olhar para trás.
   Não se deram conta de que haviam deixado aquela gangue a ver poeira.
   Desaceleraram e foram parando.
   Ofegantes e curvados, os dois colocaram as mãos nos joelhos em sinal de cansaço.
   Permaneceram ofegantes por algum tempo, não conseguiam articular nenhuma palavra.
   Abraçaram-se e Pardal falou:

- conseguimos... - pausa para respirar profundamente - conseguimos, escapamos...

- Poxa, Pardal... onde é que nós estamos?

- Não faço a menor idéia, Carlinhos... nem imagino...

- Prescisamos voltar pra casa.

- Disso eu tenho certeza, mas vamos começar por onde?

- Vamos seguir por essa trilha, Pardal; quando encontrarmos alguém, a gente pede informação.

- Tá certo, Carlinhos, vamos embora antes que aquela gangue de malucos apareça outra vez.
   Os dois amigos andaram por horas a fio sem encontrar quem quer que seja.

- Estou com fome, Pardal. Você não está?

- Também estou! O que vamos fazer?

- Não sei..., daqui a pouco vai escurecer e precisamos arranjar abrigo.

   Eles andaram por mais um tempo e a noite já se anunciava.

- Olha lá, Carlinhos! - apontou Pardal esperançoso.

- O que foi?

- Uma luz pequena naquela direção,  deve ser uma casa.

- Tomara, Pardal, vamos até lá.

   Pardal esfregou as mãos e disse aliviado:

- Tenho certeza de que é uma casa, lá nós poderemos descansar.

- É melhor que seja, Pardal. Não sei mais o que pensar. Estamos em um mundo estranho, onde não conhecemos ninguém e uma gangue de loucos quer nossa cabeça. 

- Nós vamos sair daqui, tenho certeza! Aquela casa é a nossa luz, a nossa saída!

   Com as mãos no ombro um do outro, eles caminharam até a luz vista de longe.

Fugindo Para ViverOnde histórias criam vida. Descubra agora