Antes que Liam pudesse responder, Alex veio do interior da casa, de mãos dadas com Doniya, e com Yasser ao seu lado.
— Vamos, Liam. - Chamou o primo.
— Está na hora de irmos também. Já é quase meia-noite.
Liam levantou-se e limpou as calças. Estendeu a mão para Zayn, que se levantou também, e esperou até que os outros passassem.
— Posso telefonar para você?— Indagou, acompanhando com o olhar os outros caminharem até o portão.
— Podemos marcar de ir a um cinema ou algo parecido. Você gostaria?
— É claro que sim. — Respondeu Zayn, sentindo o rosto arder.
— Ótimo. Pegarei seu número com Alex.
Apertaram-se as mãos e separaram-se. Zayn ficou onde estava, vendo o rapaz afastar-se, tentando imaginar por que alguém como Liam sairia com um cara bobo igual a ele.
Devia haver mil garotas querendo sair com ele, mas Liam convidou ele para ir ao cinema. Por quê? Por mais que tentasse arranjar uma desculpa, Zayn sabia que Liam se interessara por ele.
O rapaz nada disse, mas seus olhares foram bastante significativos.
Será que ele era homossexual? Se fosse, não seria muito apropriado que os vissem juntos.
Pensando melhor, que mal poderia haver? Pelo visto, ninguém sabia dessa particularidade da vida de Liam, se é que isso era verdade.
E ninguém teria motivos para desconfiar dele. Nem seu pai.
Ele e Liam poderiam travar uma amizade sincera, e o pai ainda os estimularia, só para ver se Liam seria capaz de arranjar uma namorada para ele.
Mas era só isso que poderiam ter: uma amizade sincera. Zayn não queria nada além disso.
Se o rapaz era homossexual, isso era lá problema dele.
Mas Zayn não queria se envolver com aquele tipo de coisa. Ainda guardava fresquinha na memória a trágica experiência que tivera com Louis e não pretendia que aquilo se repetisse. Foi horrível!
As mãos de Louis em seu corpo, as pancadas que levara, a dor das entranhas dilaceradas. Ao se lembrar desse episódio, Zayn chorou baixinho.
Como alguém era capaz de fazer aquilo com outra pessoa? Era medonho. Ser ultrajado daquela maneira, ferido, humilhado. Ele não merecia.
Ficou recordando as mãos de Louis e a sensação que tivera quando ele o tocara. Foi nojento!
Aquilo lhe causou dor. Mas não foi apenas dor.
Zayn soltou um grito abafado de pavor ao pensar nisso. Por detrás da dor que Louis lhe infligira, podia sentir algo diferente. Fora doloroso, sim, porque violento.
Mas além da dor, da violência, havia algo que Zayn não sabia definir.
Ele queria se convencer de que foi vítima de um ato abominável e de que jamais passaria por aquilo novamente.
Mas a verdade é que, pensando em Liam, a experiência com Liam não lhe parecia mais assim tão terrível.
Cada vez mais assustado consigo mesmo, Zayn tinha até medo de pensar e descobrir coisas que não gostaria de ver.
Liam despertou nele sentimentos que antes Louis havia despertado, sem que ele soubesse.
Quanto mais constatava isso, mais se indignava e ficava repetindo para si mesmo que o que Louis lhe fez foi horrendo, porque ele o obrigou a fazer coisas que não queria.
Não queria? Se não queria, por que então aceitou sua companhia? Então não viu que ele ficou o olhando?
Que homem olha para outro homem do jeito como ele olhou para Louis se é verdadeiramente homem?
Ele sabia. No fundo, sabia o que Louis queria. E o que queria, inconscientemente, era o que ele queria também.
Por isso lhe doía tanto. Saber que Louis o maltratara por algo que ele também desejava, só que de outra forma.
E era o mesmo que ele sentira com relação a Liam.
Só que Liam era um jovem educado e sensível, ao contrário de Louis que era um grosseirão.
Mas, em seu íntimo, Zayn sabia que o que o atraíra para Louis era o mesmo sentimento que o atraía agora para Liam.
Não era paixão nem desejo. Nem curiosidade, nem perversidade.
Era instinto. Apenas instinto. Por um motivo que Zayn não sabia explicar, sentia-se atraído pelos rapazes, como jamais foi por garota nenhuma.
Mas como aquilo era possível? Talvez ele estivesse confuso. Talvez a experiência traumática com Lily o houvesse levado para o outro lado. Mas, se Lily o traumatizou, o que deveria dizer de Louis? Lily não lhe bateu ao contrário de Louis que o espancou até quase o deixar inconsciente.
As carícias de Lily o enojavam, enquanto as mãos de Louis lhe causaram imensa dor. Mas por detrás da dor...
Não queria reconhecer, teimava em não aceitar.
O que sentiu com Louis fora dor, só dor.
Com tudo, se foi apenas dor, o que seria aquele fogo que o queimava por dentro todas as vezes em que se lembrava do contato da pele de Louis sobre a sua própria pele? Era dor, insistia, dor. Dor, dor!
Ficava repetindo para si mesmo essa palavra, tentando com isso se fazer surdo ao apelo do prazer que lutava para emergir.
Um prazer que ele não queria reconhecer ou aceitar.
Um prazer proibido, inaceitável, vil. Mas fora um prazer.
Não fosse a dor do espancamento e da humilhação, Zayn teria se deliciado com Louis, ao contrário que Lily, por mais que o acariciasse, jamais conseguiria lhe dar um mínimo de prazer, o mais ínfimo que fosse.
Essa descoberta o angustiou e apavorou.
Se o pai soubesse de uma coisa daquelas, era bem capaz de matá-lo.
Jamais entenderia.
Trataria de chamá-lo de veado, pederasta, bichona, mariquinha e outras coisas do gênero.
Ia dar uma surra maior que a de Louis.
E, se não o matasse, ele o colocaria para fora de casa com uma mão na frente e outra atrás, dizendo que não tinha mais filho.
Zayn conhecia-o muito bem. Seu pai jamais aceitaria uma coisa daquelas.
Mas quem aceitaria? Naquele mundo de preconceitos, ninguém.
Talvez Doniya.
Apenas ela seria capaz de compreendê-lo. Apenas seu amor estava acima de todas aquelas coisas.
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Fanfiction❝ Para amar, basta sentir. Só isso. Não é preciso explicação, nem justificativa, nem motivo. O amor é simplesmente o amor.❞ Onde Zayn é violentado por um desconhecido, e rejeitado pela família e sociedade em geral por ser gay, encontra apoio e oport...