Capítulo 32

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No mundo espiritual, Doniya abraçava Harry, comovida e feliz.

- Conseguimos, não foi, Harry? O amor se impôs sobre o ódio e a vingança.

- Sim, Doniya. Nada como a honestidade de princípios para fazer com que o amor prevaleça.

- Esses três... - Apontou para Zayn, Greg e Theo com o queixo. - Que mistério os une?

- O amor, Doniya. Isso não é mistério algum.

- Sim, mas como foi que eles conquistaram esse
amor?

- Você não se lembra porque não participou dessa parte da vida de Zayn, que foi muito importante para seu crescimento.

- Mas o que aconteceu? Posso saber?

- Vamos voltar para a colônia. Lá eu lhe revelarei toda a verdade.

De volta à colônia, Harry sentou-se com Doniya perto de uma bonita fonte e começou a narrativa. Aos pouquinhos, as imagens daqueles tempos remotos foram aparecendo na tela mental de Doniya, que, como espectadora, viu e ouviu tudo que acontecera então.

Novamente, viu Zayn em sua última encarnação. Alguns anos haviam se passado desde o incidente com Louis, quando ele foi morto pelas mãos de Doniya. Ela e Harry também já haviam desencarnado, e Zayn contava agora cerca de sessenta anos.

Era um homem atormentado. Com a chegada da velhice, começou a questionar seus atos. Quantas e quantas crianças não havia se viciado só para satisfazer seus instintos? Meninos e meninas, todos eram vítimas de sua cupidez. Mas algo dentro dele o martelava e o fazia refletir. Por que tivera de se envolver com tanta sordidez? Tudo por causa da mãe. Se ela não o tivesse trocado por aquele falso gay, nada daquilo teria acontecido.

Olhou as mãos trêmulas e sentiu uma dor aguda no peito. A cela em que se encontrava recendia a ervas perfumadas, que haviam sido queimadas por padre Hipólito para purificar o ambiente. A cela era pequena e muito simples. Apenas um catre de ferro coberto por um colchão de palha, um pequeno baú com suas roupas, uma mesinha e uma cadeira. Acima de sua cama, uma pequenina janela dava passagem aos raios de sol e ao vento.

Zayn ouviu batidas leves e fixou o olhar na pesada porta de madeira que se abria vagarosamente. Padre Larry entrou com seu habitual sorriso e foi sentar-se junto a ele, na cama.

- Não quer sair? - indagou. - Está um dia muito bonito lá fora.

- Não, padre, obrigado. Prefiro ficar aqui dentro.

- Não acha que já está na hora de esquecer o que aconteceu?

- Não posso. Sou um pecador condenado. Não existe perdão para meus crimes.

- Sempre existe perdão para Deus, meu filho.

- Não para mim.

Padre Larry suspirou profundamente e rebateu:

- Está na hora da missa das seis. Você não vem?

- Amanhã.

Depois que o padre saiu, Zayn foi se debruçar na janela e ficou olhando o entardecer. Pouco depois, o sol sumiu por detrás das montanhas, e Zayn voltou para dentro, fechando os olhos para não rever aquela maldita cena, tapando os ouvidos para não ouvir seu grito angustiado.

Sua mente se recusava a retroceder, e as lembranças se atropelavam pelos seus pensamentos aos borbotões. Não queria mais pensar naquilo, mas sua consciência não permitia que ele se esquecesse. Todos os dias, aquela mesma visão. A visão de algo aterrador que ele mesmo havia cometido. Muitos anos atrás...

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