IV

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Sentada na lanchonete, Doniya conversava com Alex.

Desde o dia do assalto, vinham saindo juntos. Alex era amigo de um colega de turma de Doniya e já estava quase terminando a faculdade de engenharia. Aos vinte e dois anos, era um rapaz bonito e inteligente, disputadíssimo pelas garotas.

- Sabe, Alex - começou Doniya, enquanto mordiscava um queijo quente. - Não entendo o que aconteceu com Zayn. Desde que foi assaltado, anda muito esquisito.

- Ele está traumatizado. Com o tempo, isso passa.

- Tomara que você esteja certo. Ele anda arredio, não quer conversar com ninguém. Nem comigo, que sou sua maior amiga.

- Ele está apenas assustado. É natural. Levou uma surra do tal sujeito e deve se sentir envergonhado. Qual é o homem que gosta de apanhar?

Doniya não estava bem certa. Fazia já dois meses que tudo aconteceu, e, desde então, Zayn nunca mais foi o mesmo. Mas talvez Alex tivesse razão e aquilo fosse passageiro. Passado o susto e o trauma, Zayn voltaria ao normal.

Ela suspirou e alisou a mão de Alex por cima da mesa, indagando meio sem jeito:

- Quando você vai lá em casa?

- Estive pensando. Já estamos namorando há dois meses, e creio que estou apaixonado por você. - ela corou, e ele prosseguiu: Por isso, gostaria de falar com seus pais, mostrar a eles que minhas intenções são sérias.

- Ah! Alex, que bom! Papai já estava mesmo começando a reclamar. Disse que rapaz bem intencionado faz logo questão de conhecer a família da moça.

- Pois é. Podemos marcar para breve um encontro. Que tal um jantar em sua casa?

- Ótima idéia. Mamãe já havia sugerido isso.

- E quando pode ser?

- Creio que sábado estaria ótimo.

- Sábado, então. Está combinado.

Beijaram-se longamente, e a conversa mudou de rumo.

Já eram quase nove horas, e Doniya precisava voltar, porque o pai não gostava que permanecesse na rua até tarde. Alex levou-a de carro até a porta de casa e depois foi embora.

Ao descer do veículo, Doniya parou alarmada. Mesmo da rua, podia ouvir os gritos do pai ecoando pela janela aberta. Atravessou correndo o jardim e irrompeu porta adentro, bem a tempo de presenciar a bofetada que Yasser acabou de dar na face de Zayn.

- Seu mariquinha! - esbravejou- É por isso que todo mundo vive falando de você!

Zayn encolheu-se todo a um canto, e Doniya exclamou indignada:

- Papai! - O pai, a mãe e o irmão olharam-na ao mesmo tempo, e Zayn sentiu imenso alívio ao vê-la.

Na mesma hora, correu a seu encontro e atirou-se em seus braços, choramingando em seu ombro, agarrado como se ela fosse sua mãe.

Yasser encarava-os com raiva, e Trisha abaixou a cabeça, ao mesmo tempo aliviada e temerosa.

Pelo menos Doniya tinha coragem de enfrentar Yasser, algo que não se atrevia a fazer, e tomaria a defesa de Zayn.

- Mas o que está acontecendo? Posso saber?

- É esse moleque! - esbravejou Yasser, apontando para Zayn o dedo ameaçador. - Vai fazer catorze anos e se comporta feito uma mocinha. E donzela!

- O que ele fez?

- O que ele não fez! Já está na hora de voltar a sair sozinho, mas ele se recusa.

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