III

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- Bom dia, Zayn - disse o médico.

- Sou o doutor Greg e vim ver como está passando. Sente-se melhor?

Zayn levou as mãos à cabeça e tornou com voz triste:

- O que... o que aconteceu?

- Não se lembra?

Ele balançou a cabeça, mas parou abruptamente, em sua mente perpassou a sombra de uma lembrança mordaz. Baixou os olhos, envergonhado, e começou a chorar baixinho.

- Aquele homem... - balbuciou com amargura, calando-se com um soluço.

- Você não tem do que se envergonhar - disse Greg notando seu constrangimento - Você foi vítima de um ataque, o único ato vergonhoso foi o de seu agressor.

- Onde está meu pai?

- Foi para casa ontem à noite, mas em breve voltará.

- Deve estar furioso.

- Seu pai ficou muito preocupado, assim como sua mãe. E não é para menos. O que fizeram com você foi muita covardia.

- Eu não tive culpa...

- É claro que não.

De repente, Zayn viu-se abrindo o coração para aquele desconhecido, como se já fossem amigos de longa data:

- Ele... ele me enganou... Disse que queria ser meu amigo... Eu não sabia... não podia imaginar... Se eu soubesse, não teria feito aquilo.

Zayn agora chorava convulsivamente, e Greg condoeu-se sobremaneira. Já viu muitos casos como aquele. Meninos e meninas sofrendo com a traição e a violência, sentindo na carne a dor de ingressar no mundo adulto de forma tão abrupta, violenta e traumatizante.

- Você não fez nada - tranquilizou o médico - Não foi culpa sua.

- Deixei-o acompanhar-me. Estávamos falando do filme... eu me empolguei... nem percebi para onde ele estava me levando... De repente, ele me agarrou... começou a fazer coisas... Ah! doutor, foi horrível!

- Posso imaginar.

- O senhor sabe o que ele me fez?

- Fui eu que o examinei.

- Eu não queria! Mas ele me forçou! Fez de mim uma mulherzinha. Mas eu não queria. Juro, doutor, eu não queria. Eu sou homem!

Ante os soluços angustiados de Zayn, Greg afagou sua cabeça e tornou com voz bondosa:

- Tenha calma. Não precisa se justificar. Não estou aqui para julgá-lo. Só o que quero é ajudar.

- Mas meu pai... quando souber... vai querer me matar...

- Seu pai já sabe.

- Já? E não disse nada?

- Ele está bastante transtornado, o que é natural num caso como este. Mas não me parece que esteja querendo matá-lo.

- Não?

Nesse momento, a enfermeira entrou novamente e cochichou algo ao ouvido de Greg, afastando-se em seguida. O médico fitou Zayn com piedade e informou:

- Seus pais estão aí fora. Acabaram de chegar.

Eles entraram aflitos, procurando o leito de Zayn entre tantos que ali estavam. Ao avistarem o médico ao lado de sua cama, correram para lá a passos apressados.

- Bom dia, doutor - disse Yasser, e Trisha balançou a cabeça.

- Bom dia - respondeu o médico.

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