Dentro do supermercado aprendi muitas coisas úteis que muito usaria neste mundo de merda. Aprendi a aceitar que todas essas pessoas que vagam por aí, sem rumo, em busca de um pedaço de carne, estão mortas; aprendi que para matá-las, uma boa danificação no cérebro é suficiente, não importa se é um tiro, pancada, ou qualquer coisa na cabeça, basta causar um dano significativo que ele morre; aprendi também a usar algumas armas, tanto brancas como de fogo, mas eu não levo o menor jeito para nenhuma. Tentei o machado, contudo, o peso dele me desequilibrou; uma arma de fogo, mas minha mira é péssima e o solavanco de algumas machucam muito. Então resolvi confeccionar a minha própria, algo maneiro e fácil de manusear. Um taco de alumínio pendia da prateleira, e ao vê-lo pensei instantaneamente na arma perfeita para mim. Com alguns pedaços de madeira constituí uma pequena e ardente fogueira, e com ela, um maçarico e muita sorte, consegui acoplar algumas adagas na extremidade maior do taco. Agora eu estava preparado, tinha minha arma e nada jamais iria me impedir de viver, ou de deixar meu irmãozinho viver. Ele é tudo o que me sobrou. TUDO.
- A questão é que, não dá mais para ficarmos aqui, não com esses ataques constantes de mortos que vem acontecendo. - A voz de Lex me arrancou do meu devaneio, foi ela quem me tirou da rua, salvando a mim e a meu irmão.
- E o que vamos fazer? - Um homenzarrão de uns trinta anos, cujo nome não me dei o trabalho de aprender, perguntou.
- Bem, estamos praticamente no final da cidade. A rua da próxima esquina leva diretamente para a rodovia que circula a cidade. Creio que se chegarmos até lá, conseguiremos fugir da cidade. - Eu disse, já que conhecia muito bem aquela área.
- E depois? Vamos ficar vagando pelo meio da mata, rezando para encontrar alguma coisa para comermos? - O homem era persistente, e naquele momento tive vontade de socar a cara dele. O que droga ele queria? Ver todos morrer?
- Talvez teremos mais chance de sobrevivência dentro da floresta, longe das infestacões que consomem as metrópoles. - Eu disse, vendo sua expressão se tornar em uma carranca de ódio.
- Você deveria tomar frente do grupo, já que é o que melhor conhece essas bandas da cidade - Lex disse, apontando o indicador para mim.
Não! Senti vontade gritar. Não havia a menor possibilidade daquilo ser feito por mim. Em primeiro lugar, eu tinha que cuidar do meu irmão; em segundo, e talvez o argumento mais forte, eu não tinha habilidade alguma na luta contra os mortos. O único que matei foi meu padrasto, e foi pura sorte. Só isso e nada mais. E vendo a expectativa na cara de todas as dez pessoas dentro daquele estabelecimento que, após uma semana, tinha se tornado repugnante ao meu olhar, um dilema se formava em minha cabeça: aceitar a proposta e foder com todos; ou recusar e deixar alguém mais habilidoso, experiente e que provavelmente não entrará em pânico ao ver um morto, cuidar do assunto.
- Sim - e foi isso. Não sei de onde veio e nem porque. Apenas falei. Talvez eu pensasse que seria aquele fodão que aprenderia tudo no ultimo segundo e botaria para quebrar, ou simplesmente estivesse com medo de ser deixado para trás. Não importa o que me fez dar aquela resposta, uma coisa era certeza: estavamos todos fodidos.
...
Lá estavamos nós. Eu e Lucas na dianteira, Lex e Gus - o homenzarrão que preferiria ficar no supermercado - cada um na extremidade oposta de minha fila, um do meu lado, outro do de Lucas, apenas um passo atrás de nós. E o restante do grupo na retaguarda, protegendo todas as inúmeras direções possíveis. Machados, pás, ferros, tacos, semi-automáticas - entre outras - erguiam-se de nossas mãos, enquanto iniciavamos uma marcha, uma marcha que muito em breve se tornaria algo sangrento e mortal.
Mal colocamos nossos pés para fora e fomos atingidos com o terrível odor dos mortos, caminhos o mais rápido e silenciosamente que pudemos, querendo não atrair a atenção dos errantes próximos. Uma tentativa que de nada valeu. Um dos nossos colegas na retaguarda acabou esbarrando em uma lata de lixo e fazendo um enorme estardalhaço. Cinco minutos depois as ruas adjacentes despejavam mortos como um rio com enchente, fazendo-nos acelerar o passo, iniciando uma dramática e frenética corrida em busca da salvação.
Zumbis de todos os tamanhos, formatos, gêneros e idade. Parecia um mar de carne morta e podre, e quanto mais corriamos, mais deles apareciam. Dois de nossos colegas - uma loira e um ruivo - foram lentos de mais. Agarrados e despedaçados em nossa frente, seus gritos fizeram os pelos de meu corpo ficarem arrepiados. Minha cabeça estava a mil, e eu não sabia se corria, cobria os olhos do meu irmão, ou se vomitava.
Gritos atrás de nós ecoavam, como uma terrível marcha fúnebre e em questão de minutos nosso grupo de 12 pessoas havia sido reduzido a cinco. As mochilas pesavam enquanto corriamos, e, quase dentro da florestas, o enorme Gus foi pego pelos nosso perseguidores. De relance ainda consegui ver quando seus órgãos internos caíram e quando sua cabeça careca e branca foi agraciada com inúmeras mordidas.
Lá estavamos nós, os últimos quatro sobreviventes do supermercado, na busca pela sobrevivência. Tínhamos conseguido a tão sonhada liberdade, mas o preço foi alto demais. Eu não consegui impedir que ninguem morresse, não fui o fodão que imaginei que seria. Agora carregaria o peso daquelas oito mortes para o resto de minha vida.
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The Walking Dead - A Marcha dos Mortos
FanfictionLauan é um cara legal, com uma vida quase normal, que sobrevive em um apocalipse zumbi, mas quando começa a ajudar uma garota chamada Beth Greene, sua vida passa por uma enorme reviravolta e jamais será igual novamente. Fic sobre The Walking Dead, e...