Minhas mãos eram uma mistura de sangue, suor, sujeira e dentes. Enquanto ouvia o homem barrigudo na minha frente implorar por sua vida pela milésima vez, enfiei a faca alongada e afiada dois centímetros abaixo do umbigo e subi, fazendo um único corte que ligava a região do estômago com a garganta. Os olhos dele reviraram loucamente dentro das órbitas e a cabeça tombou para o lado no mesmo tempo em que um fluxo de sangue contínuo escorria pelos meus pés, encharcando o concreto da calçada onde estávamos. "Um já foi, faltam dois.", pensei.
Eu estava sedento, louco, insano. Faria qualquer coisa para obter minha vingança, e ela já estava surtindo efeito. Antes de morrer, o cara roliço falou que havia se separado dos outros dois após a atrocidade que tinham feito com meu irmão, disse também que se encaminhavam para os armazéns na extremidade oposta da cidade, e que se eu fosse rápido o suficiente os alcançaria. Depois disso, coloquei fim a sua miserável vida, fazendo-o se arrepender pelo ato que tinha executado.
Meu irmão era a pessoa mais importante para mim e matá-lo foi o maior erro que Bruno e seus homens cometeram. Estando insano e perturbado, eu estava instável, perigoso. Seria capaz de qualquer coisa e por vingança eu iria até o inferno se fosse preciso.
Peguei meu taco, minha mochila e amarrei minha blusa encharcada com o líquido escarlate na cintura, deixando à mostra minha pele parda suja, repleta de bagaços negros e manchas escuras. Comecei a caminhar, marchando com a tranquilidade de um psicopata.
...
Os dois homens conversavam animadamente enquanto o ruivo retirava a camisa, exibindo o corpo pálido e musculoso. O outro, de corpo franzino e cabelos crespos, estava escorado na parede, passando a mão pelo queixo que exibia uma barba rala.
Enfiei o cano da arma que havia roubado do homem que matara momentos atrás por uma fresta no armazém e atirei. Um tiro, silencioso devido o silenciador que o revólver exibia em uma das extremidades, que perfurou o crânio do magricela ao lado de Bruno, fazendo-o tombar para o lado com um pequeno fluxo vermelho vazando pelo recente furo feito em sua cabeça.
Bruno olhou para envolta, procurando de onde o tiro tinha partido, acabando por se surpreender com um disparo que acertou sua coxa robusta. Ele se ajoelhou segurando a perna e depois deitou, bolando pelo chão e gritando enquanto a dor o consumia. Me movi com agilidade, tomando a direção da entrada do armazém. "Dois já foram, falta um.", pensei enquanto cantarolava a marcha fúnebre, saltitando pelo caminho.
Chegando lá, me surpreendi ao encontrar o recinto vazio. Bruno deveria está por perto, não tinha como ele ter ido longe. Não naquele estado. Carregando apenas o revólver na mão - havia deixado minhas coisas lá atrás, evitando carregar peso e me livrando do risco de fazer algum barulho. Distraído em minha busca, não vi quando Bruno se aproximou por trás e acertou minhas pernas com um pedaço de madeira, me fazendo perder o equilíbrio. Por puro reflexo, apertei o gatilho ao mesmo tempo em que caia e um projétil percorreu o corpo de metal em minhas mãos, atingindo inutilmente o chão de terra seca do lugar.
Bruno agarrou a arma e apontou para mim, apertando o gatilho imediatamente. De lá nada saiu, apenas o seco estalido do gatilho.
- Acha mesmo que eu iria ser tão idiota a ponto de trazer um arma carregada com todas a cápsulas? Jamais, seu babaca - soltei uma gargalhada.
- Cala a boca, demente. - ele atingiu minha cabeça com a madeira e eu apaguei.
...
Aos poucos meus olhos foram se aperfeiçoando a escuridão, conseguindo enxergar algumas sombras naquela penumbra obscura, marchando em minha direção, dois mortos soltavam pequenos grunhidos. Tentei me por de pé, cambaleante, me segurando em uma parede para manter a estabilidade. Agarrei uma pequena adaga que carregava escondida junto a sola da bota e atingi o topo da cabeça de um velho decomposto. Chutei o outro - uma mulher de vestido vermelho aos frangalhos e cabelos escuros - nos joelhos, o derrubando. Pisei com toda minha força, fazendo sua face ficar esmigalhada e então cai sentado no chão por causa do cansaço.
Bruno deveria está longe agora, mas algum dia iria o encontrar de novo. Minha vingança seria completada e ai então, só então, eu me permitiria sentir algo novamente, me apegar a outra pessoa como um dia fui ao meu querido irmão.
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The Walking Dead - A Marcha dos Mortos
FanficLauan é um cara legal, com uma vida quase normal, que sobrevive em um apocalipse zumbi, mas quando começa a ajudar uma garota chamada Beth Greene, sua vida passa por uma enorme reviravolta e jamais será igual novamente. Fic sobre The Walking Dead, e...