As atrocidades praticadas no terminus me fez odiar aquele lugar como nunca odiei algo antes. Que monstros fariam tais coisas? Sei que estamos em tempos apocalípticos, mas isso não é desculpa para um ser humano se alimentar de outro. "Evolução". E eles acham que isso é evoluir? Assinaram um pacto sem volta com a perdição no momento em que botaram em prática absurdos como esse. Não me importa quem tenha destruído isto aqui, se não tivesse feito, eu faria. Só agradeço a eles por terem salvado, não só a deles, mas a vida de muitos que, na esperança de um recanto seguro, seriam atraídos para aquela armadilha diabólica.
Agora, com Kelly do nosso lado, nos preparavamos para o que estava por vir. A porta da sala onde estavamos chacoalhava, fazendo barulhos ensurdecedores, sobre o peso de um número indefinido de cadáveres que, atraídos pelos gritos de nossa nova companheira, pressionavam a enorme estrutura de metal, na tentativa de adentrar no recinto e comer um pouco de nossa carne.
- E agora? - A voz de Beth deixava evidente o nervosismo que preenchia seu corpo.
- Não tem outro jeito. É melhor abrirmos a porta agora, antes que mais mortos cheguem. É nossa melhor chance. É nossa única chance.
Suor gélido escorria pelo meu rosto, atingindo meus olhos verdes. Estavamos nervosos, contudo, preparados. Cada um com sua arma, nós iríamos a guerra e nada poderia nos impedir. Na penumbra em que a sala tinha entrado, abrimos a porta e um terrível odor nos foi apresentado.
Presenciamos a entrada de 18 mortos que mastigavam o ar na vã tentativa de nos morder. Peguei meu taco e acertei a cabeça de um errante queimado, impossível de definir se um dia fora homem ou mulher. Sua cabeça rodou com o impacto, ele perdeu o equilíbrio e caiu, levando consigo mais três cadáveres que estavam atrás dele - uma mulher com o rosto deformado por causa de uma mordida, e dois homens, cada um sem uma parte do corpo. Perfurando a cabeça dos três, vi de soslaio Kelly em ação. Com um machado aparentemente pesado ela habilmente decepou a cabeça de três zumbis que a cercavam e fez em pedaços a de um quarto; próximo a ela, estava Beth, com quatro mortos caídos aos seus pés e um quinto prestes a tombar. E foi neste meu breve momento de distração que uma morta conseguiu uma brecha, avançando para cima de mim, louca para tirar um pedaço meu.
Não houve tempo para reação, com o "abraço" do corpo ambulante eu perdi o equilíbrio e caí de costas no chão enquanto meu taco rolava para longe. Suas roupas destroçadas roçavam em meu corpo, me fazendo ter calafrios, e o soar de seus dentes rangendo um contra o outro invadiam minha audição, fazendo com que meu cérebro entrasse em pânico. Tudo agora acontecia em câmera lenta: as batidas do meu coração; os respingos de baba que voavam da boca dela; seus movimentos. Tudo. E eu observava meu reflexo em seus olhos esbranquiçados clamando por ajuda, quando uma lâmina passou por eles, cortando aquele meu estado de torpor, me fazendo voltar à ação.
Quando olhei para cima vi Kelly, estendendo sua mão para me ajudar, do seu piercing no nariz gotas de sangue escorriam e eu fiquei sem saber se eram dela ou de algum dos mortos.
- Obrigado. - Falei ao me levantar, recebendo apenas um pequeno aceno de cabeça como resposta. Agora só quatro dos dezoito cadáveres nos observavam, e foi moleza os matar. Eu matei dois com boas pancadas nas têmporas, e tanto Beth quanto Kelly mataram um cada.
Agora estavamos livres, poderíamos correr e fugir dali, um lugar que jamais quero voltar.
...
- E agora, o que você vai fazer? - Já fora do terminus, perguntei a Kelly.
- Sei lá. Andar por aí, encontrar um bom lugar para ficar, sobreviver, e só.
- Por que... Por que não vem conosco? Uma ajuda nunca é demais.
- É, pode ser. - Seus olhos adquiriram um brilho que fez meu coração pular, ela realmente estava contente pelo convite. - Mas antes acho que preciso pedir desculpa a alguém.
- É, com toda certeza precisa. - Beth falou, seu olho esquerdo estava inchado e, acima de seu lábio superior, um corte era visível.
- Desculpa, Beth. Eu pensei que vocês eram do Terminus. Esses demônios mataram todos o meus amigos. Eles mataram um pedaço de mim. E eu faria qualquer coisa para me vingar, mesmo que isso vá contra todos meus princípios.
Era evidente que ela estava sendo sincera, e Beth percebeu tal fato, e mesmo explodindo de ódio dela, falou:
- Tudo bem, seja bem-vinda, mas que algo fique claro: se você vacilar, não importa que seja uma besteira qualquer, se acontecer, considere-se um pessoa morta.
Um silêncio tomou conta de todos e por um bom tempo ninguem falou nada. A ameaça da Beth não era uma simples brincadeira, e apesar de conhecê-la a tão pouco tempo eu sabia que ela não era assim, e enfim descobri o quanto este mundo muda as pessoas. Beth estava mudando, talvez para melhor, e eu tinha medo de onde essa mudança poderia chegar.
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The Walking Dead - A Marcha dos Mortos
FanfictionLauan é um cara legal, com uma vida quase normal, que sobrevive em um apocalipse zumbi, mas quando começa a ajudar uma garota chamada Beth Greene, sua vida passa por uma enorme reviravolta e jamais será igual novamente. Fic sobre The Walking Dead, e...