CAPÍTULO 2- "Danças comigo?"

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(Javi)
Saí do pavilhão e segui para o meu carro, onde o meu irmão me esperava.
Tinha passado as férias com ele e com um pequeno grupo de amigos nas Maldivas. Fazia-o pelo segundo ano consecutivo, desde que a... Bem, não interessa. Tínhamos voltado a Portugal há uns dias atrás. Tinha começado a fazer testes médicos e em breve iria para estágio de pré-época na Suíça, enquanto ele voltaria para Múrcia.
Tínhamos decidido ir ver o jogo de hóquei à Luz. Eu já tinha saudades daquilo! Da multidão que o Benfica movia. Estava ansioso por voltar a pisar o relvado da Luz. Compramos bilhete e seguimos para dentro do pavilhão, que não ficou indiferente a mim. Ouvi palavras de carinho, de esperança e até aplausos. Ainda era estranho ver pessoas a idolatrarem-me. Dei alguns autógrafos, tirei algumas fotos mas, como quase sempre acontece, os adeptos deram-me a minha privacidade.
Assistimos à primeira parte do jogo, vendo o Benfica a dominar e a alegrar aquelas centenas de adeptos. Ao intervalo fui comprar uma água, enquanto o meu irmão foi atender um telefonema do meu pai. De regresso às bancadas, embati contra alguém. De imediato, pedi desculpas e a rapariga ergueu a cabeça. Ela era...bem, era difícil descrevê-la. Era incrivelmente bonita. Tinha os cabelos negros encaracolados, que contrastavam com a sua pele branca. Os olhos eram castanhos e muito delineados e pareciam transportar todo o mundo neles. Tinha uns lábios perfeitos e o seu corpo...bem, se, quando fomos às Maldivas, os meus amigos a tivessem visto com certeza que a seguiriam com o olhar até à silhueta dela desaparecer... Pedi desculpa vezes sem conta e apresentei-me. Ela não me parecia ter reconhecido, pois agiu de forma completamente banal, gaguejando um pouco, mas isso talvez fosse a repercussão do beijo que lhe tinha dado na mão...Ela acabou por despedir-se mas eu não consegui mover um único músculo e fiquei a admirá-la. Foi aí que me relembrei de que estava no pavilhão. Tinha perdido noção de tudo. Quando ela foi embora e deixei de ouvir a sua voz, apenas o bater descompassado do meu coração se destacava do burburinho da multidão. Abanei a cabeça, tirando aquilo da minha mente, mas, nesse preciso momento, ela olhou para trás e um grande sorriso inconscientemente surgiu na minha cara. Ela retribuiu-o e quando deixei de a ver, acordei para a realidade. Voltei para o meu lugar, onde o meu irmão já se encontrava. Não sei porquê mas passei toda a segunda parte a pensar na Ana. Ana...seria aquele nome a povoar os meus pensamentos? Só dava conta dos golos pela euforia que invadia o pavilhão e pelos comentários entusiasmados do meu irmão.
No fim do jogo, eu e o meu irmão já nos dirigíamos para fora do pavilhão, mas avistei a Ana sentada sozinha na bancada e não resisti a ir lá.
- Vai indo para o carro. Eu já lá vou ter! - Ele ainda barafustou mas disse que lhe explicava tudo depois.
Eu tinha de ir até ela. Não sabia explicar o que tinha sentido quando nos conhecemos, mas sabia que já não o sentia há muitos anos. Queria saber mais. Aproximei-me dela pelas suas costas, o que fez com que a assustasse. Pedi-lhe desculpas, sentando-me ao seu lado e oferecendo-lhe umas entradas num bar que me tinham recomendado. Disse-lhe que era para a recompensar pelo acidente, mas no fundo queria voltar a vê-la, porque o meu coração estava de novo a bater descompassado, a minha respiração a perder o ritmo, a minha cabeça abstrair-se do mundo... Não era normal! Queria testar este...fenómeno. Eu queria estar com ela. Despedi-me dela, mas acabei por voltar atrás e dar-lhe um beijo no rosto. Senti-a estremecer tal como eu. Acabei por voltar ao carro, onde o meu irmão me esperava.
- Aleluia! - reclamou - Onde foste?
Abri o carro e entramos. Encostei-me ao banco e suspirei ao relembrá-la. Será que estava a forçar isto ou seria real?
- Explica-te! - insistiu o meu irmão.
- Conheci uma mulher... - Tudo bem, ela deveria ter os seus 18 anos, mas não era uma miúda... Aos meus olhos não.

(Andres - irmão de Javi)
O meu irmão estava assim por causa de uma mulher? Mas...
- Uma mulher? - perguntei - Como assim? - perguntei cauteloso.
- Não imagines coisas... Acho que estou muito...Acho que estou a exagerar isto.
- Explica-me o que aconteceu - pedi-lhe.
- No intervalo, quando fui comprar a água, acabei por embater em alguém e entorná-la. Era ela... Ela é linda, perfeita talvez. Mas eu não me reconheci. Sentia-me nervoso com ela ao pé de mim... Não percebo.
- Isso é bom! - entusiasmei-me - Isso já não acontecia desde que a... - parei. Não podia ir por aquele caminho. Mesmo dois anos depois o meu irmão ainda se lembrava, ainda sofria - há dois anos. E o que fizeste? Trocaram números?
- Não. No fim do jogo, avistei-a. Por isso, fui ter com ela e ofereci-lhe duas entradas para o bar de que nos falaram ontem.
- E vais lá para observá-la... - concluí.
- Não, eu disse que a queria ver. Quero conhecê-la. Quero saber se...
- Se te poderás apaixonar por ela.
O meu irmão baixou a cabeça para depois recostar-se no banco, contendo as lágrimas.
- Javi, já lá vão dois anos.
- Foi muito tempo - respondeu-me.
- E achas que não é motivo para seguires em frente? E se o que vieres a sentir por esta mulher for superior a todo o sofrimento, a todo o passado?
O meu irmão olhou-me, mas depois surgiu-lhe um sorriso no rosto, enquanto baixava o rosto.
- O meu maninho está muito filosófico... - gozou-me.
- Eu aqui a esforçar-me com um discurso todo bonito e tu gozas? - brinquei.
- Vamos embora mas é - arrancou - Afinal já tenho compromissos para esta noite.
Sorri. Era bom ver o meu irmão a reconstruir a vida, mesmo que dois anos depois.

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