CAPÍTULO 11 - "Eu disse-te que o meu colo era melhor!"

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(Ana)
- Uma pessoa vem fazer visitas e há logo novidades! Então, Javi, desencalhaste? Namoras e não dizias nada? Tens medo que ela olhe aqui para a beldade e perceba que se precipitou na escolha? - picou o Ruben com o seu humor apurado.
- Não. Tenho medo que ela ache que eu sou como tu e fuja! - provocou o Javi.
- Mas namoram? - retomou o Ruben.
- Sim - respondeu. Quê?! Namorávamos?! A minha vontade era esclarecer tudo naquele momento, mas não conseguia dizer nada. Nem eu nem nenhum dos colegas do Javi que estavam estupefactos, alguns até pálidos! - Estava só...a brincar - confessou o Javi, o que me fez tornar a respirar.
- Não acredito que cê tava zoando com eles, cara! - Oh meu Deus, aquela era a voz do David Luiz? Olhei para trás de mim e lá estava ele. Eu adorava-o, idolatrava-o! Os meus olhos deviam estar quase a saltar.
- Manz, que fazes por aqui? - disse o Ruben indo ao seu encontro e abraçando-o.
- Isso era tudo saudade? - picou o David.
- Saudades? De quê? Das tuas baboseiras? - respondeu-lhe o Ruben.
Eles continuaram a picar-se e os antigos colegas do David foram cumprimentá-lo, ficando eu e o Javi alguns metros afastados de toda a confusão. Pensei que quando visse o David Luiz, o meu ídolo, começasse aos berros e parecesse uma barata tonta, mas desde que conheci o Javi aprendi a segurar as emoções. Ainda estava a pensar na "brincadeira" dele.
- Desculpa ter brincado com a nossa situação - pediu-me o Javi - Não queria que ficasses desconfortável.
- Não fiquei - menti, passando a mão pelo cabelo.
- Ficaste sim - contrariou - Mexes no cabelo sempre que ficas nervosa e optas por mentir - olhei-o incrédula. Ele era tão...perspicaz - E a seguir vais corar. Não consegues evitá-lo quando ficas envergonhada como neste caso - e lá estava eu mais vermelha que um tomate maduro! Ele abriu um grande sorriso e passou-me a mão pela face. Senti-me estremecer.
Os nossos olhares prenderam-se e acabamos por largar um sorriso...que, bem, não consigo explicar. O que eu via nos olhos do Javi...Lembrei-me da chave. Ele disse-me que trancava um quarto que continha recordações. Se eram recordações, obviamente que eram o passado do Javi. Os olhos dele diziam-me que o passado tinha sido...cruel. Senti que sofria. Tinha havido alguém especial. Só isso o faria fechar tudo num quarto. Sofrer por amor... Ela seria com certeza linda e muito estúpida por deixá-lo. Bem, eu não sabia como as coisas se tinham sucedido. Mas se era o Javi a sofrer é porque tinha sido ela a abandoná-lo.
- Estás a pensar em quê? - perguntou-me.
- No teu passado - admiti distraída - Quer dizer... Não - tentei disfarçar - Eu estava a...O David Luiz é o meu ídolo - acabei por trazer esse assunto como desculpa.
- A sério? - deixou levar-se pela troca de assunto.
- Sim. Acho que não é assim tão raro! - brinquei.
- Sim, os caracóis...
- Caracóis? Não! - ele olhou-me surpreendido - É a humildade, o carisma. Gosto de pessoas de personalidade forte. Confesso que vi muitos vídeos dele tanto dentro como fora de campo. E quando era mais nova fazia recortes de jornais e tudo mais - corei sob o riso dele.
- A sério? - perguntou.
- Deixa estar as tuas fãs devem ser muito contidas! - piquei - Eu tinha 12 anos quando ele chegou ao Benfica! Era...um pouco...distraída do mundo. Era uma criança.
- 12 anos? Foi mesmo desde o início?
- Sim - sorri - Ainda não havia caracóis nessa altura - brinquei - Ele cresceu imenso - recordei.
- Porque não vais falar um pouco com ele? - propôs.
Olhamos para o lado e...estávamos sozinhos naquele corredor. Não contivemos o riso com aquela situação.
- E agora? - perguntei.
- Acho que te vou levar a casa já que tens de descansar o teu pé.
- Posso apanhar um táxi - sugeri não querendo causar-lhe transtorno.
- A minha companhia é assim tão má que já te queres escapar?
- Não é nada disso! - neguei de imediato - Não te quero incomodar. Já fizeste tanto por mim.
Ele começou a andar.
- Ainda estás aí? - perguntou olhando para trás - Vamos lá! - disse, rindo-se. Voltou de imediato atrás e foi acompanhando a minha lenta caminhada de muletas. Aquilo não dava jeito nenhum.
Quando cheguei ao carro estava exausta! Andar de muletas era um desafio demasiado grande para mim. A minha vontade era espetar as minhas "amigas" contra o chão. O Javi percebeu a minha irritação e não se coibiu de me picar:
- Eu disse-te que o meu colo era melhor!
- Dá-me uns dias e até corridas faço! - brinquei.
Ele abriu-me a porta como sempre fazia e eu entrei. Ele contornou o carro e entrou também. Passámos a viagem a falar de coisas banais sempre com boa disposição à mistura. O GPS ia dando as coordenadas, mas percebi que o Javi orientava-se bem sem ele.
Chegados a minha casa, ele saiu para me ir abrir a porta e ajudou-me a equilibrar-me nas muletas. Não queria deixá-lo ir e por isso acabei por convidá-lo a entrar:
- Não queres entrar?
- Não quero incomodar. Deves querer almoçar.
- Ainda tenho de fazer o almoço porque a minha irmã deve estar com o Axel, já que era dos poucos que não estava no CFC. Já que faço para mim faço para ti também - simplifiquei.
- Só se puder ajudar.
- É a tua exigência? - brinquei.
- Nem mais!
- Então vamos! Eu vou precisar de muita ajuda - sorri.
Eu destranquei a porta e ele abriu-ma, dando-me a passagem. Eu sorri-lhe e entrei. Passei o corredor e fui até à sala.
- Incomoda-te que descalce as sandálias? - perguntei - Com a liga não dá jeito nenhum.
- Claro que não me incomoda. Senta-te. Eu ajudo-te - disponibilizei-me.
Ajudar-me? Tremi ao pensar em tal coisa. Sentei-me e ele baixou-se aos meus pés. Retirou primeiro a sandália que estava no meu pé "bom" e depois com muita mais delicadeza ainda retirou a outra sandália. Confesso que fiquei toda arrepiada. O toque dele fazia-me delirar. Que vergonha! Ele sentou-se ao pé de mim e aquela proximidade fez o meu coração descontrolar-se.
- E então o que vamos fazer para o almoço? - a voz dele desbloqueou-me do meu transe.
- Eu até fazia uma tortilha mas corria o risco de envergonhar a cozinha espanhola - ele riu-se - Que dizes a um bacalhau com natas?
- Adoro que fales comigo em espanhol... - a observação dele fez-me corar.
- Tu falas espanhol e isso automaticamente despoleta que também o faça - a verdade é que nem me tinha apercebido que falava espanhol com ele. Ele fazia-me perder a noção de algumas coisas - Mas e o bacalhau?
- Adoro bacalhau!
- Ainda bem porque é a minha especialidade - gabei-me.
- Então vai ficar fantástico porque eu sou um grande ajudante de cozinha! - brincou.
- Convencido! - acusei-o num tom brincalhão.
- Eu? Tu é que disseste que era a tua especialidade - "contra-atacou" divertidamente.
Fomos incapazes de conter o riso e apenas paramos quando ele levou a sua mão a um dos meus caracóis que se atravessava pela minha face. Ele afastou-o carinhosamente da minha cara e ao sentir a sua mão na minha pele, fechei os olhos.
Quando os tornei a abrir o Javi fixava-me a uns escassos 10 cm. Sentia que tinha medo, mas que não queria parar. Eu também não queria. Eu queria beijá-lo. Continuamos a aproximar-nos até que apenas uns escassos milímetros nos separarem...

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